Dólar sobe a R$ 5,19 com juros nos EUA e fecha abril em alta de 3,53%
Expectativa com o anúncio da nova taxa americana pressiona divisa, que já registra avanço de 6,98% neste ano
Economia|Do R7
O dólar à vista subiu com força na sessão desta terça-feira (30) e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,20. Dados acima do esperado de custo de emprego nos Estados Unidos, na véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), levaram a um fortalecimento global da moeda americana e à alta firme das taxas dos Treasuries (títulos americanos).
O real amargou o terceiro pior desempenho entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities mais relevantes. Operadores afirmam que a busca por dólares foi turbinada pelo fato de o mercado local estar fechado amanhã, em razão do feriado do Dia do Trabalho.
Eventuais sinais do Fed sobre os rumos dos juros americanos serão absorvidos pelos ativos domésticos apenas na quinta-feira (2).
Com máxima a R$ 5,1938 à tarde, em sintonia com o exterior, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 1,51%, cotado a R$ 5,1923, nível mais alto de fechamento em dez dias. A moeda encerra abril com ganhos de 3,53%, maior valorização mensal desde agosto do ano passado (4,69%).
Com isso, a divisa já avança 6,98% no ano. Pela manhã e no início da tarde, houve também pressão provada por questões técnicas, com a rolagem de posições no segmento futuro na virada de mês e a disputa pela formação da última taxa ptax de abril.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial o euro e o iene, o índice DXY voltou a supera os 106,000 pontos, com máxima aos 106,229 pontos.
A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada às expectativas para o rumo dos juros neste ano, superou a barreira de 5% e atingiu o maior nível em cinco meses.
Segundo o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o clima de tensão na véspera da reunião de política monetária do Fed se exacerbou após a divulgação de dados mostrando aumento de custo de mão de obra nos EUA, o que sugere pressões inflacionárias à frente.
“As taxas dos Treasuries subiram com o mercado precificando apenas um corte de 25 pontos até dezembro”, afirma Weigt.
O tesoureiro observa que o real vinha até nos últimos dias se valorizando em relação ao peso mexicano, com a perspectiva de menos cortes da taxa Selic após declarações mais duras do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao longo de abril.
“Mas o comportamento do real volta agora a ficar muito atrelado ao movimento dos Treasuries. Vamos ver como será o tom do Fed amanhã”, afirma Weigt.
É dado como certo que o Banco Central americano vai anunciar a manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao comunicado da decisão e, sobretudo, à entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell.
Não haverá revisão das projeções dos dirigentes do BC americano para a taxa de juros. Em março, a maioria projetava três reduções de 25 pontos-base em 2024.Monitoramento do CME Group mostrou que as chances de corte de juros em setembro passaram a ficar abaixo de 50% nesta terça.
O quadro mais provável é de apenas uma redução de 25 pontos-base neste ano, mas a possibilidade de manutenção da taxa básica em 2024 subiu para 25%.Pela manhã, o Departamento de Trabalho americano informou que o índice de custo de emprego dos EUA subiu 1,2% no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023, acima das previsões (0,9%).
O temor de aumento das pressões inflacionárias fez investidores deixarem em segundo plano a queda da confiança do consumidor americano em abril e dados abaixo do esperado do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) de Chicago.
”Esse dado do custo de emprego é um banho de água fria na expectativa de desaceleração da inflação neste ano e fez o dólar ganhar força no mundo todo”, afirma o chefe de renda variável da Criteria, Thiago Pedroso, ressaltando que os indicadores sugerindo perda de força da atividade nos EUA acabaram não tendo peso na formação dos preços.