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Montadoras de veículos têm excesso de funcionários e mais demissões serão inevitáveis

Opinião é de especialistas que apostam em reformulação da indústria automotiva após a crise

Economia|Fernando Mellis, do R7

Crise: montadoras estão com pátios cheios e produção parada
Crise: montadoras estão com pátios cheios e produção parada Crise: montadoras estão com pátios cheios e produção parada

Diante do pior desempenho em vendas dos últimos oito anos, a indústria automotiva brasileira colocou o pé no freio da linha de montagem. Os patrões resolveram dar folgas e férias coletivas aos funcionários, além de adotarem esquema de layoff (suspensão temporária do contrato).

Tudo isso para evitar demissões em massa, mas a expectativa para o futuro é desanimadora: os cortes virão em breve e de forma definitiva, segundo especialistas ouvidos pelo R7.

Ex-presidente da Ford e diretor do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Carlos Bastos de Mello diz que, há cerca de uma década, esse ramo da indústria “tem mais gente do que precisa”.

— Principalmente, por conta de um retorno aos incentivos que o governo concedeu. Naquele momento, o governo exigia da indústria o melhor que pudesse ser feito para manter empregos. Quando a indústria estava crescendo, essa mão de obra era absorvida. Mas, no conjunto, não precisava de tanta gente.

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Faz 19 meses seguidos que as montadoras fecham postos de trabalho: um total de 20,5 mil nesse período, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). O presidente da entidade, Luiz Moan, explica que a maioria saiu por meio de programas de demissão voluntária e que admite que são necessárias mudanças na legislação trabalhista para evitar mais cortes.

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— Para ajudar, estamos negociando com o governo federal mais um instrumento de flexibilização que nos permita garantir empregos, que é o plano de proteção ao emprego. Vai ser uma legislação que permita à empresa reduzir, junto com o sindicato, a jornada de trabalho no setor que está em crise, com redução proporcional de salário. É um instrumento adicional que achamos fundamental para nos auxiliar a segurar os empregos.

O setor terminou maio com 138,2 mil empregados, porém mais de 25 mil deles estão em casa aguardando a retomada da produção. Hoje, com o avanço da tecnologia, alguns executivos do ramo dizem que é possível reduzir ainda mais o quadro de funcionários. Notícia ruim de ouvir no momento em que a taxa de desemprego no País chega a 8%.

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Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getulio Vargas, afirma que aumentar a eficiência é uma questão de sobrevivência para a indústria de veículos neste momento.

— As empresas vão ter que se adequar a uma nova realidade com o maior nível de eficiência. Após a crise, vai haver mais competitividade do que nunca. Então, tudo o que puderem fazer para aumentar esses fatores eles vão fazer.

O primeiro passo dessa reformulação parece ter sido dado pela unidade da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP). A montadora alemã dispensou cerca de 500 funcionários, alguns deles por meio de um programa de demissão voluntária. Mesmo assim, a empresa diz que ainda há um excesso de 1.750 colaboradores.

Funcionários demitidos da Mercedes-Benz fazem acampamento em frente à fábrica para pedir emprego de volta, em São Bernardo
Funcionários demitidos da Mercedes-Benz fazem acampamento em frente à fábrica para pedir emprego de volta, em São Bernardo Funcionários demitidos da Mercedes-Benz fazem acampamento em frente à fábrica para pedir emprego de volta, em São Bernardo

Estímulos

Somente em 2014, as isenções fiscais para as montadoras ficaram na casa de R$ 2,8 bilhões. Martins defende que medidas como essa sempre ocorreram no mundo todo, porque a indústria de veículos cria muitos empregos diretos e indiretos. Mas admite que, no atual momento da economia brasileira, as empresas não poderão contar com muitos incentivos.

— Até porque, em termos macroeconômicos, os governos estão tentando atender aos grandes anseios da sociedade: saúde, segurança e educação. Não vai ter mais espaço para continuar estimulando o setor com benefícios financeiros e fiscais.

Para o ex-presidente da Ford, qualquer vantagem que o governo eventualmente desse à indústria automotiva neste momento, na tentativa de evitar demissões, seria “a pior coisa”.

— Todos têm que sentir o mesmo impacto em uma situação como esta. [...] O preço que paga por isso [manter excesso de mão de obra] é muito elevado em relação à competitividade das empresas.

Caixa, Banco Pan e Anfavea fecham acordo para estimular venda de veículos e contornar crise

Se o governo não ajuda, o setor se organiza. Para aquecer as vendas, foi criado o Festival do Consorciado, que está distribuindo cerca de 240 mil cartas de crédito a compradores em potencial. A Anfavea também fechou um acordo com a Caixa e com o Banco Pan para disponibilizar R$ 1 bilhão de financiamento (equivalente a 33 mil automóveis). Fora isso, as montadoras fazem feirões e todos os tipos de promoções.

Outra aposta da indústria automotiva é a exportação. Enquanto o mercado interno não reage, o setor aposta no dólar forte para compensar. Moan diz que as fábricas já estão “com as baterias voltadas para a exportação”. 

Fazer mais com menos

Quando os Estados Unidos entraram em crise, há sete anos, a indústria de veículos teve queda de 36% nas vendas e 47% na produção — os números brasileiros não chegam perto disso. Por lá, também houve fechamento definitivo de postos de trabalho e o setor precisou reduzir diversos custos.

O crescimento da economia foi retomado e, no ano passado, o país teve um recorde de vendas de automóveis: cerca de 17 milhões de unidades. Mesmo com redução da mão de obra, as expectativas para este ano são ainda melhores. Mello afirma que produzir mais veículos com menos funcionários é uma tendência em todo o mundo e que o Brasil precisa se adequar.

— A indústria não pode continuar a manter algo que ela não tem condição de manter. 

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