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Roberta Miranda: ‘Preconceito do mundo sertanejo era inenarrável e existe até hoje’

Cantora, que precisou quebrar barreiras para se tornar referência, ainda falou sobre se reinventar e relação com redes e público jovem

Entrevista|Camila Juliotti, do R7

Roberta Miranda tem mais de 38 anos de carreira (Leo Franco/Agnews)

Dona de um vozeirão e pioneira entre as mulheres no sertanejo, Roberta Miranda se tornou referência e, não por acaso, ganhou o apelido de “rainha”. Ao longo dos quase 40 anos de carreira, foram 28 milhões de discos vendidos, cinco indicações ao Grammy, e mais de 800 composições próprias. Para ser reconhecida e alcançar o topo no mundo da música, porém, a cantora teve de quebrar muitas barreiras.

“Foi preciso muita determinação e, de cara, mostrar uma personalidade forte para perceberem que, por eu ser mulher, ninguém poderia ‘avançar o sinal’. O preconceito do mundo sertanejo era inenarrável e até hoje ele existe. Hoje um pouco mais velado, né? Ainda há uma certa hipocrisia no sertanejo”, declara a cantora.

“Mas me sinto orgulhosa. Durante 25 anos, em todos os lugares por onde passei, falava muito que precisávamos de mais mulheres no mundo sertanejo e, graças a Deus, hoje elas estão aí”, completa.

Apesar da passagem do tempo, Roberta se reinventou e, além do público que já a acompanha desde o início da trajetória, conquistou os mais jovens com seu jeito irreverente e estando online nas redes sociais.

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“Sempre fui uma pessoa que nunca gostei da mesmice. Então, estou sempre me adequando ao que tem que ser e às mudanças necessárias, porque a própria vida ela é mutável, não é mesmo? Às vezes, você passa num dia por ‘n’ estações. Então, imagina o ser humano se ele não se renova?! Ele morre em vida.”

Durante o bate-papo, Roberta também relembrou da eterna Marília Mendonça, de quem ela guarda boas lembranças: “Marília deixa um legado de mulheres muito mais fortes, que não se apegam a bobagens. Com ela era: ‘Se me quer, quer, se não me quer, abre o caminho. Abre a área que estou passando’. A forma que ela conduzia a carreira musicalmente era admirável, a forma de compor sem preconceitos, libertando-se. Ela tem bastante de mim e eu tenho bastante dela. Fico muito chateada até hoje e fiquei profundamente triste, passei muito mal com o que aconteceu com ela”.

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Roberta Miranda falou da relação com público jovem (Paolo Martinelli/Divulgação)

Roberta acaba de gravar o DVD Infinito, que conta com participações de Gustavo Mioto e Luísa Sonza. A novidade do novo álbum é que o repertório foi montado com as músicas mais pedidas dos fãs. A cantora celebrou poder dividir o palco com talentos da nova geração.

“Foi uma noite incrível e emocionante ao lado do meu público, dos meus grandes amigos e da minha família que que compareceram em peso! Tive a alegria de receber o Gustavo Mioto e a Luísa Sonza que são duas pessoas que amo. Agora, vamos levar esse show para estrada.”

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Leia abaixo a íntegra da entrevista:

R7 — Quando você começou, o universo sertanejo ainda era dominado por homens. Como foi para conseguir vencer o preconceito e encontrar o seu espaço?

Roberta Miranda — Foi preciso muita determinação e, de cara, mostrar uma personalidade forte para perceberem que, por eu ser mulher, ninguém poderia ‘avançar o sinal’. Venho de uma família só de homens, fui a única filha mulher e nem na minha própria família nunca admiti atitudes machistas e isso é meu, desde criança. Agora, o preconceito do mundo sertanejo era inenarrável e até hoje ele existe. Hoje um pouco mais velado, né? Ainda há uma certa hipocrisia no sertanejo, homens com preconceito misóginos, que a gente sempre está esbarrando. É que eu, não me importo, não estou nem aí (risos).

R7 — Já pesou o fato de você ter sido a pioneira no gênero?

Roberta — Me sinto orgulhosa. Durante 25 anos, em todos os lugares por onde passei, falava muito que precisávamos de mais mulheres no mundo sertanejo e, graças a Deus, hoje elas estão aí. Sou grata porque, depois de tanto tempo, Deus me deu vida para ver esse meu pedido, esse sonho de ter mais mulheres no mundo sertanejo, se tornar realidade, afinal, por 25 anos, eu fiquei sozinha.

R7 — Como você vê a chegada de novas mulheres ao sertanejo?

Roberta — Também com muito orgulho! É uma felicidade para mim, ver essas moças, essas meninas e mulheres maravilhosas na nossa música sertaneja.

R7 — Como surgiu o título de “rainha do sertanejo”?

Roberta — Surgiu porque alguns artistas já tinham gravado músicas da Roberta Miranda, como Jair Rodrigues, que fez sucesso com A Majestade, o Sabiá, além de duplas de renome no país. Quando consegui lançar meu próprio disco, em 1986, já estava estourada como compositora nas vozes de outros artistas. Foi então que, de cara, quando eu entrei para fazer um programa cantando minhas músicas, o público começou a gritar: “Rainha, rainha, rainha” e o apresentador Marcelo Costa falou “Rainha do Sertanejo” e pronto, ficou!

R7 — Com mais de 38 anos de história, como você conseguiu se reinventar e se manter em alta mesmo depois de tantas mudanças?

Roberta — Sim, eu sempre fui uma pessoa que nunca gostei da mesmice. Então, estou sempre me reinventando e me adequando ao que tem que ser e às mudanças necessárias, porque a própria vida ela é mutável, não é mesmo? Às vezes, você passa num dia por ‘n’ estações. Então, imagina o ser humano se ele não se renova?! Ele morre em vida.

R7 — No fim do ano passado, Britney Spears lançou a autobiografia que tem o mesmo nome de uma música sua (A Mulher Em Mim) e, na época, a procura pela canção cresceu cerca de 60% nas plataformas de streaming. Você chegou a ler o livro? O que achou da “coincidência”?

Roberta — Para mim foi uma grande surpresa. Sempre tive muita empatia com relação a Britney e já tinha ido para as redes sociais defendê-la de tanta coisa que ela passou. Por conta disso, os fãs delas também me acolheram de uma forma linda! Estão até pedindo um feat! (risos). Mas, foi uma coisa coincidência incrível ter a música A Mulher em Mim, como título do livro que ela lançou. Tive um crescimento de cerca 70% nas plataformas de streaming com a divulgação e graças a ela. Recebi o livro com uma caixinha cheia de mimos e, inclusive, estou lendo, falta pouco para terminar.

R7 — Além dos fãs que te acompanham desde o início da carreira, você também conquistou o público mais jovem com as redes sociais. Como é sua relação com a internet? Acha que é uma forma de se aproximar ainda mais dos fãs?

Roberta — Sim, tenho os meus fãs que me acompanham há muitos anos. É um público fiel que fez a carreira da Roberta Miranda se consolidar e, por meio das redes sociais (que sou muito atuante em todas) tenho conseguido estar mais próxima deles e alcançado um novo público mais jovem. No TikTok, por exemplo, tenho vídeos com dez, 11, até 12 milhões de visualizações e cheguei a mais de um milhão de seguidores em menos de seis meses. Para vocês terem uma ideia: já fiz três lives surpresas, com cerca de 19 ou 20 minutos cada, e tenho uma média de 350 mil pessoas assistindo. Elas me mandam muitos presentes, diamantes, é uma loucura (risos). Então, posso dizer que uso as redes sociais de forma bem positiva, sem maldade, e sempre a favor da carreira.

R7 — Sincerona, você fala o que pensa, criticou até o Neymar recentemente. Isso já te prejudicou de alguma forma?

Roberta — Olha, nem sempre uso a sinceridade, porque se eu fosse usar, eu acho que não ficaria “pedra sobre pedra”, entendeu? (risos). Porque, os bastidores eu conheço muito bem há 39 anos... Mas, enfim, às vezes que eu falo algumas coisas, eu falo por falar. Acredito que cada um tem que cuidar da sua vida e é claro que me dói quando alguém não tem carinho, amor, respeito pelos seus fãs que sempre fazem tanto por seus ídolos. Então, é isso. Problemas, não me importo, não, pois acho que o ser humano tem que saber aceitar suas críticas. Eu já levei porrada em tudo que é lugar... No X (antigo Twitter), Instagram e não estou nem aí. Isso não me atinge e é isso, ponto.

R7 — Difícil falar com você sem citar Marília Mendonça, com quem você tinha uma admiração mútua. Vocês chegaram a cantar juntas Os Tempos Mudaram, mas infelizmente, não tiveram tempo para mais parcerias. Como você descreveria a relação de vocês?

Roberta — Fico muito chateada até hoje e fiquei profundamente triste, passei muito mal com o que aconteceu com ela. Minha pressão não baixava e eu não tenho pressão alta, mas, a emoção naquela hora foi algo inenarrável, foi algo que bateu fundo em mim, porque é uma menina e a gente tinha, sim, muito amor, muito carinho. Tanto que tem vídeo dela falando por quase cinco minutos de mim. No meu DVD, que eu a convidei, foi só abraço, choro, alegria, foi lindo, foi lindo! Fiquei muito triste, continuo triste, pois eu me envia nela. Ela tem bastante da Roberta Miranda e eu tenho bastante dela.

R7 — Para você, o que representa a Marília Mendonça na história da música brasileira?

Roberta — Marília deixa um legado de mulheres muito mais fortes, que não se apegam a bobagens. Com ela era: ‘Se me quer, quer, se não me quer, abre o caminho. Abre a área que estou passando’. A forma que ela conduzia a carreira musicalmente era admirável, a forma de compor sem preconceitos, libertando-se.

R7 — De todas as parcerias que você já fez ao longo da carreira, alguma te marcou mais?

Roberta — Tenho parcerias bem bacanas, mas, vou destacar essa com a Marília, que foi maravilhosa.

R7 — Como você avalia o novo momento do sertanejo, com letras de músicas mais “chicletes”?

Roberta — As coisas estão bem diferentes... Já estamos com essa música mais atual, digamos assim, há mais de dez anos, com uma nova forma de compor, na qual vemos vários compositores para fazer uma única música e quando vejo isso, eu olho para mim e digo: “Roberta Miranda, você é mesmo uma louca, né?”, porque considero que o que já fiz foi uma loucura! Tenho mais de 800 canções que escrevi sozinha! Isso só pode ser coisa de Deus! Hoje, a gente está tentando trazer vez em quando a modernidade, através da melodia, mas, sempre falando de amor, claro!

R7 — Você acabou de gravar o DVD Infinito, com participação de Luísa Sonza e Gustavo Mioto. Conta um pouquinho como foi e quais os próximos projetos...

Roberta — Abrimos com chave de ouro o nosso projeto, com uma linda gravação e o que posso dizer para vocês é que foi uma noite incrível e emocionante ao lado do meu público, dos meus grandes amigos e da minha família que que compareceram em peso! O repertório desse projeto está maravilhoso e o cenário muito especial, todo feito minuciosamente em 3D, um trabalho impecável! Tive a alegria de receber duas participações especiais: o Gustavo Mioto e a Luísa Sonza que são duas pessoas que amo! Agora, vamos levar esse show para estrada e o mais interessante é que mesmo antes da estreia de Infinito, já temos 12 shows vendidos, inclusive fora do Brasil, com apresentações em Moçambique e Angola. Só tenho mesmo a agradecer a todos, todos, todos que estão fazendo parte desse lindo trabalho.

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