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Voz do telejornalismo brasileiro, Celso Freitas completa 20 anos de RECORD: ‘Um ingrediente que todo conteúdo de televisão tem que ter é a emoção’

Ao R7 Entrevista, âncora revela detalhes da carreira, que começou há mais de 50 anos, quando ainda era adolescente, e revela como foi acompanhar os avanços e grandes coberturas ao longo das décadas

Entrevista|Otávio Urbinatti, do R7

Celso Freitas está na bancada do Jornal da Record desde 2006 (EDU MORAES Edu Moraes)

Há mais de 50 anos, Celso Freitas tem o privilégio de entrar na casa de milhões de famílias e ser facilmente reconhecido por um “boa noite”. No último mês de abril, um dos maiores nomes do telejornalismo do país completa duas décadas de RECORD. Uma história que ganhou o rosto, a elegância e a voz da televisão brasileira.

A chegada do âncora à RECORD em 2004 representou um processo de modernização e investimento da emissora no setor de jornalismo. Foi nessa época que nasceu o projeto de uma revista eletrônica com a promessa de inovar a programação. A convite de um amigo, Celso veio a São Paulo e aceitou participar do piloto do programa que levaria o nome de Domingo Record. A gravação foi um sucesso e, como bem lembra o apresentador, comemorado pela direção: “Eles avaliaram e disseram ‘é espetacular’!’. E, então, adotaram Domingo Espetacular”.

Celso Freitas na apresentação do piloto do programa Domingo Record (Divulgação/RECORD)

O Domingo Espetacular é o início da história de sucesso de Celso Freitas na RECORD. Ao lado da jornalista Lorena Calábria, formou a primeira dupla de apresentadores do programa. Celso, que já era um veterano da TV, trouxe para a emissora a credibilidade e o reconhecimento conquistado ao longo dos anos em outros telejornais. Uma reputação, que, na verdade, começou a ser construída antes mesmo da sua maioridade.

Ele tinha apenas 16 anos quando o jornalismo surgiu em sua vida. E não podia ser diferente para um jovem de voz potente e marcante – a qual se tornaria a sua marca até hoje. O apresentador conta que foi incentivado pelo pai a fazer um teste em uma emissora de rádio em sua cidade natal, em Criciúma (SC) e, despretensiosamente, acabou gostando “da coisa”.

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Desde então, Celso não largou mais a “latinha” – como se referia ao microfone de rádio naquela época – e passou a dedicar a vida ao jornalismo. “Eu ainda não contabilizei, mas acho que eu sou um dos profissionais que há mais tempo está na televisão”, conta com um sorriso estampado no rosto. “Claro, eu só não supero o Silvio Santos”, brinca.

Recorte de jornal de 1976, poucos anos após Celso Freitas sair de Criciúma (SC) e ir para Brasília (Arquivo Pessoal)

Hoje, aos 70 anos, ele dá o tom e a seriedade para o Jornal da Record, ao lado de Christina Lemos. Por sinal, foi ali mesmo, sentado na sua cadeira de bancada, que Celso conversou com o R7 Entrevista e contou detalhes dessa trajetória. E, mesmo com as câmeras desligadas, Celso Freitas – ou Celsão, como é carinhosamente chamado pelos corredores da emissora – tem a maestria e a clareza de falar sobre a vida. Com a mesma entonação que apresenta o Jornal.

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R7 Entrevista – O jornalismo apareceu muito cedo na sua vida, aos 16 anos, em Criciúma (SC). Como foi o início dessa carreira?

Celso Freitas – Inicialmente, comecei acompanhando o trabalho de um profissional que encerrava a emissora de rádio de 22h à 0h, o qual me dava alguns textos para ler. Foi um aprendizado para interpretação, porque você tinha que convencer as pessoas [através dessa leitura]. Dois meses depois, eu comecei a trabalhar em uma rádio concorrente como radioescuta. Foi aí que nasceu a vocação para o jornalismo. O trabalho de radioescuta, na rádio de interior nessa época, era ouvir as grandes emissoras do Rio de Janeiro e São Paulo para buscar informações de caráter nacional e internacional. Lá, eu também contei com o apoio do gerente da rádio, que era um locutor tradicional. Na hora que eu entregava o texto para ele apresentar, ele dizia: “Vai lá filho, você sabe fazer”.

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E como foi a sua chegada à televisão?

Eu saí de Criciúma (SC) e fui para o norte do estado, pois achava que não tinha capacidade para trabalhar em Florianópolis [na capital]. Depois de seis meses em Joinville (SC), fui trabalhar em uma emissora de ondas curtas na capital também como radioescuta e como jornalista apresentador. Em 1972, fui para Brasília (DF) prestar o serviço militar, buscando trabalhar em uma grande capital. Fiquei como militar um ano, mas tive uma diferença do batalhão: eu tinha permissão para sair para trabalhar na rádio depois do expediente e também podia apresentar o Jornal Nacional local [da TV Globo]. Na solenidade de baixa, por exemplo, o quartel exigiu que eu não apresentasse o jornal e fosse apresentador do evento do encerramento da turma.

Celso dividiu a bancada com Cid Moreira entre os anos de 1983 e 1989 (Arquivo pessoal)

Poucos jornalistas presenciaram tantos avanços e tiveram a oportunidade de participar de tantas coberturas importantes ao longo das décadas. Olhando para trás, como você enxerga essa jornada?

Eu me sinto um indivíduo feliz por ter passado por todas essas fases. O primeiro jornal que apresentei, de peso, era com [câmeras de] 16 milímetros. A nossa expressão facial, o tom de voz e o jeito de olhar para a câmera tinham que traduzir o sentimento da informação. E a televisão evoluiu e ganhou velocidade com o videotape. Hoje em dia, é uma facilidade incrível colocar informação no ar com um celular. Existia uma preocupação muito grande com a qualidade da imagem. Atualmente, com o telefone celular e com todas essas mídias sociais que a gente recebe a informação e o fato, não tem mais esse tipo de preocupação.

Em uma entrevista recente, você comentou sobre a relação entre o índice de analfabetismo no Brasil e o jornalismo. Como isso impactou seu trabalho no início da sua carreira?

Era a grande preocupação, principalmente em relação a dados. Eu tive um chefe de redação que dizia: “Jornalismo tem vocação para números”. Então, isso era uma maneira de chamar a nossa atenção. No auge da década de 1970 e 1980, realmente o número de analfabetos no Brasil era muito grande. Era, digamos assim, a única oportunidade que as pessoas tinham de acessar conhecimento, de ter informação. Por isso, era uma lição que a gente tinha de, repetidamente, redobrar os cuidados com relação às informações e aos números que a gente passava.

A sua vinda para a RECORD representa um investimento da emissora no setor de jornalismo. O que essa mudança significou para a sua carreira?

Uma coisa que eu friso em todas as entrevistas é o orgulho de ter vindo para a RECORD no momento em que a emissora resolveu investir em criar, digamos, uma consciência nacional de ter outro veículo de comunicação. Até então, a gente só tinha a Globo [à frente das grandes coberturas]. E, de repente, a RECORD assumiu essa posição: “Tem um fato acontecendo, pode ligar na RECORD, porque ela está cobrindo. E com qualidade, com precisão, com credibilidade”. Então, a gente investiu e formou essa realidade que é hoje o telejornalismo da emissora. Até então, não tinha uma cobertura global. Não tinha uma cobertura de correspondentes em todos os continentes. E passamos a ter correspondentes na África, como Luiz Fara Monteiro, que foi o primeiro correspondente nosso na África do Sul.

São 20 anos de RECORD e inúmeras coberturas marcantes nessa trajetória. Quais delas mais te marcaram?

Eu posso citar dois fatos que marcaram e ajudaram a dar essa importância para [o jornalismo da] RECORD: o tsunami, na Indonésia, em 2006, e o Furacão Katrina, nos EUA, em 2005. Foram coisas que sensibilizaram e chocaram o mundo. Um ingrediente que todo conteúdo de televisão tem que ter é a emoção. As pessoas se emocionam com o entretenimento, com a dramaturgia e com um fato jornalístico. A gente soube passar a intensidade desses fatos. Aqui no Brasil, também tivemos o buraco no metrô Pinheiros, em São Paulo, em 2007. No mesmo ano, o acidente com o avião da TAM, no aeroporto de Congonhas. Uma participação mais marcante minha foi cobrir a votação e a eleição do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, em 2008. Eu ancorei o jornal de lá.

O que está por trás das grandes coberturas? Como se preparar para esses momentos?

É uma coisa de sensibilidade, está no âmago do profissional, do jornalista, de ser primoroso na informação. Eu tive um excelente professor na faculdade, que falava que todo o bom texto e trabalho jornalístico tem que ter concisão, clareza e precisão. Esses três ingredientes fazem parte de uma boa informação, um bom trabalho realizado por um bom profissional.

São 55 anos de carreira e muitos colegas de bancadas. Como é essa relação com os parceiros de trabalho?

Uma coisa que aprendi é que no início de carreira eu contei com bons professores, grandes profissionais de referência no rádio e até mesmo na televisão. Até então, não existia uma escola para formar um bom apresentador ou um bom locutor. E eu tive essa oportunidade de trilhar com profissionais no início da carreira.

Carolina Ferraz e Celso Freitas já dividiram a bancada de um telejornal, e se reencontraram na RECORD após décadas (Arquivo pessoal)

Pouca gente se lembra, mas você já apresentou um programa jornalístico com Carolina Ferraz, que também faz parte do time da RECORD atualmente. Como é reencontrá-la hoje nos corredores da emissora?

Uma maravilha. É uma pessoa muito gentil, que eu tive a oportunidade de trabalhar lá atrás, há sei lá quantos anos. Ela trabalhou durante um ano no Fantástico, migrou para o entretenimento e teledramaturgia e, hoje, voltou às raízes. O que chama atenção é que eu ouço muitos comentários de pessoas, como: “Acompanho você desde criança”. É porque eu comecei jovem, essa é a verdade. Eu não tinha 18 anos e estava apresentando um jornal na televisão. A Carolina [foi uma dessas]. Ela dizia que, quando tocava a música do programa, ela lembrava da pizza e do refrigerante do domingo. Isso porque eu antecedi ela na apresentação.

Apresentar um jornal ao vivo é adrenalina pura. Em todos esses anos, você se lembra de algum episódio difícil ou algum momento constrangedor?

Eu tenho um episódio que aconteceu lá no início da minha carreira, na Rádio Diário da Manhã, onde um diretor da rádio começou a redigir uma notícia e, de repente, empolgado, começou a escrever e transformou o texto em garrancho. Eu estava no ar, quando ele me entregou esse rascunho. Eu entendi as primeiras linhas, o restante não. Eu parei, fiquei perdido no ar. Depois, fui reclamar que ele não fizesse mais isso, de entregar o material nessas condições, porque comprometi a qualidade do trabalho. O diretor não gostou e acabou me demitindo.

Poucos anos depois da sua chegada à RECORD, você participou do lançamento da RECORD NEWS em 2007. O que esse momento representou na sua trajetória?

Volto a repetir a empolgação que eu tive de participar dessa alavancagem que a RECORD fez no telejornalismo. Foi uma oportunidade de criar mercado de trabalho para os profissionais. Isso é importante, porque era tudo muito restrito, digamos assim, meio mambembe. E não tinha tantas opções. De repente, você teve a RECORD com esse investimento forte, saudável, alicerçado, em termos de um jornalismo vibrante. Empolgou nesse aspecto.

E como chegou o convite para apresentar o Jornal da Record?

A minha imagem empolgou [a emissora]. Então, eles resolveram trocar a cara do jornalismo. O Boris Casoy – então apresentador do jornal – tinha uma equipe reduzida, que contemplava mais o noticiário político de Brasília (DF) e o econômico de São Paulo (SP). Não tinha uma estrutura brasileira. Cada emissora da RECORD era, digamos assim, uma emissora diferente. Não tinha essa característica que tem hoje de unidade, uma mesma identidade visual. Foi a partir de um jornal nacional que se formou esse padrão de rede.

Desde 2020, Celso Freitas divide a bancada do Jornal da Record com Christina Lemos (Edu Moraes/RECORD)

Você é um dos poucos nomes que se mantém no ar há mais de 50 anos ininterruptamente. A pandemia, porém, foi um momento em que teve que se afastar da bancada. Como foi esse período?

A pandemia me ausentou da bancada do JR. Em função de idade, por ser do grupo de risco, fui obrigado a ficar em casa. Mas teve uma coisa que me ajudou, e muito: o trabalho de participar de lives e podcast. Isso me recolocou em contato com os colegas e com os repórteres que estavam aqui, em franca atividade, enfrentando a pandemia. Eu não me ausentei, não me desliguei da preocupação com os acontecimentos. Foi bom.

Além da apresentação do JR, você está à frente do JR 15 Minutos, um dos principais podcast jornalísticos do país. Isso quer dizer que um dos maiores nomes da televisão também tem seu nome nas plataformas digitais. Como você enxerga esse espaço?

É voltar ao rádio. Essa proposta é maravilhosa, porque cria uma oportunidade de você aprofundar um assunto que foi destaque no Jornal da Record. Eu acho que tem muito telespectador, ouvinte, ou consumidor da informação, que é um pouco jornalista, que quer se aprofundar e saber mais detalhes. Com o JR 15 Minutos, a gente tem essa oportunidade de conciliar uma entrevista com um especialista. A gente pratica isso há mais de três anos e é um sucesso.

Durante a pandemia, Celso Freitas trabalhou de casa, na apresentação do podcast JR 15 Minutos (arquivo pessoal)

O podcast é uma oportunidade de conversar diretamente com a fonte. Como é o Celso Freitas no papel de entrevistador?

É gratificante, [principalmente quando o] entrevistado manifesta aquilo que eu falei: “Eu te acompanho faz tempo”. Normalmente, ele cresceu acompanhando os fatos que eu narrei, por isso existe uma ligação. Quer dizer que eu fui o interlocutor, o condutor dessa informação até ele. Então, cria, digamos assim, uma identidade, uma empatia.

Um dos jornalistas mais respeitados e admirados do país. O que precisa para ganhar esse título?

Para lidar com a informação, você precisa ser apaixonado por isso. Tem que ter isso no âmago, de querer saber, de buscar o detalhe. Como apresentador, você tem que ser fiel ao seguinte: transmitir a verdadeira profundidade disso, tomando cuidado, porque você não é o dono da verdade. Quanto mais imparcial você for e quanto mais exato, melhor vai ser o respaldo que você vai receber – ou a sua longevidade como condutor da informação. Esse eu acho que é o meu lado de credibilidade que tenho até hoje.

Você é o ídolo de muita gente. Mas quem é o ídolo de Celso Freitas?

Heron Domingues foi um ícone. Ele era uma pessoa respeitadíssima, todo mundo vibrava, todo mundo o referenciava. Ele tinha uma postura. O Heron tinha um comportamento, por exemplo, de ligar para a embaixada para saber a pronúncia correta de determinada autoridade. Se um determinado apresentador fala de um jeito e o outro fala de outro, confunde o público. É aquele negócio: na França, o Jean-Paul Sartre era conhecido como Jean-Paul Sartre; na Argentina, como Juan Pablo Sartre [risos]. Parece que você está falando de outra pessoa. Heron tinha esse negócio de precisão, de uniformizar pronúncia. E foi meu grande ícone do jornalismo.

O Heron estaria orgulhoso de quem se tornou Celso Freitas?

Eu acho que sim, porque assim como ele era uma pessoa de notoriedade, de respeitabilidade no meio artístico, eu acho que hoje eu desfruto desse conceito. Não é ousadia minha, mas eu recebo essa retribuição, essa gratidão por parte das pessoas que eu entrevisto no podcast, do público de uma maneira geral. E não é à toa que, com quase 71 anos, eu estou aqui à frente de um telejornal tão importante como o Jornal da Record.

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