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A história do neonazista alemão que se converteu ao judaísmo

Lutz se tornou neonazista aos 12 anos, por influência do tio; depois de mudar de vida, hoje ele vive em Israel, adotou a religião judaica e se chama Yonatan

Internacional|Da EFE

Lutz Langer hoje vive em Israel e trabalha em um centro de cabala
Lutz Langer hoje vive em Israel e trabalha em um centro de cabala Lutz Langer hoje vive em Israel e trabalha em um centro de cabala

Lutz Langer era um neonazista alemão que odiava negros, imigrantes e, sobretudo, judeus. Hoje, se chama Yonatan Langer, vive em Israel, é judeu, reza três vezes ao dia e trabalha em um centro de cabala.

Quando tinha 12 anos, seus pais, que haviam se mudado da Saxônia para Berlim Oriental, decidiram enviá-lo a aulas de caratê para que encontrasse um espaço de pertencimento através do esporte, mas o que ele encontrou foi um professor que o apadrinhou na ideologia neonazista, junto a alguns colegas.

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"Tudo começou com a música", explicou à Agência Efe, ao lembrar a sensação que teve na primeira vez que escutou uma canção neonazista: "Era provocadora, uma maneira de se destacar sobre a mediocridade das demais pessoas, da normalidade".

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A essas melodias, cujas letras memorizavam juntos, se somaram textos reivindicativos do Holocausto que o seu treinador lia enquanto tomavam cerveja ou cortava seu cabelo.

Grupo organizado

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O grupo formado nas aulas de caratê foi ganhando cada vez mais força e, com o tempo, passou a incorporar bandeiras, medalhas, botas e até uniformes.

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"Nosso grupo se chamava Vigrid, por um lugar mencionado na mitologia alemã. Tínhamos um espaço e uma mesa onde nos sentávamos todos com trajes de couro e rodeados de tochas", contou.

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Logo começaram a se relacionar com skinheads, clubes de motoqueiros, torcidas organizadas violentas, assassinos e criminosos.

"Tínhamos acesso a armas e até consideramos realizar atentados, mas medimos as consequências e decidimos não fazer", relembrou. Apesar disso, batiam em imigrantes na rua ou entravam em restaurantes com estrangeiros e destruíam tudo que encontravam pelo caminho.

Ódio contra o diferente

O ódio era contra tudo aquilo que era diferente, mas principalmente contra os judeus. Por isso, não comiam no McDonald's, não assistiam a filmes de Hollywood nem tomavam Coca-Cola, devido à associação que faziam entre os Estados Unidos e a comunidade judaica.

Yonatan, naquela época ainda Lutz, começou a se afastar do grupo quando entrou para a universidade: "Comecei a mudar porque estava mais envolvido na sociedade e já não era tão fácil dizer coisas como 'não tenho amigos negros ou imigrantes', 'não como em tal restaurante porque o dono é estrangeiro' ou 'não vejo certos filmes porque foram produzidos por judeus'".

Deslocado no grupo

Com o tempo, começou a se sentir mais deslocado e, aos 24 anos, o fato de ter um ou outro amigo imigrante e um título universitário em administração de empresas fizeram com que se perguntasse sobre seu lado espiritual.

Essa busca interna, que começou quando ainda frequentava o grupo neonazista, permitiu que ele descobrisse filmes como "O Segredo" (2006) e livros do guru espiritual Osho, que o introduziram à cabala, uma escola de pensamento esotérico ligada ao judaísmo.

Foi assim que chegou até o Centro de Cabala de Berlim e, depois de alguns poucos encontros, mergulhou de cabeça em suas doutrinas. Seu professor, nascido em Israel e filho de sobreviventes do Holocausto, o acolheu de braços abertos e sem preconceitos, apesar da ideologia nazista.

"Senti uma conexão com o conteúdo das suas palavras, ignorava a sua religião judia", relatou Yonatan, que se diz grato por ter sido recebido com amor e ter conhecido pessoas que o ensinaram que a vida poderia ser diferente.

Jantar tradicional

Yuan em sua casa em Israel
Yuan em sua casa em Israel Yuan em sua casa em Israel

Um jantar de shabat (jantar tradicional da cultura judaica) na casa de seu professor foi o ponto de mudança.

"Foi uma refeição íntima, de seis ou sete pessoas, cheia de alegria, entusiasmo e energia positiva. Eu não sabia o que estava fazendo, mas aplaudia e cantava", comentou Yonatan.

Uma semana depois, sentiu uma confusão de sentimentos quando voltou a se reunir com o grupo neonazista e todos escutaram canções que pregavam ódio aos judeus.

Nova trajetória

A partir daquele momento, decidiu se distanciar definitivamente do grupo e da ideologia neonazista e aprofundou os vínculos com a cabala. Depois, se mudou para Londres, onde passou a trabalhar em um centro de cabala.

Na Inglaterra, foi o encarregado de organizar eventos religiosos como orações e celebrações judaicas até que, aos 29 anos, realizou a primeira viagem a Israel. Depois da visita, decidiu dar início ao processo de conversão ao judaísmo, que incluiu a troca de nome de Lutz para Yonatan e a circuncisão.

No início deste ano, depois de uma passagem por Berlim, recebeu uma proposta para trabalhar no Centro de Cabala de Tel Aviv, onde leva atualmente uma plena vida judia: na cabeça, sempre usa o quipá, além das vestimentas tradicionais, reza três vezes ao dia e se abstém de relações sexuais antes do casamento.

"Amo Israel, mas estar aqui significa me abrir e atravessar um processo difícil para mim, que inclui muita dor e frustração", comentou.

Yonatan reconhece também que, embora esteja há dez dos seus 35 anos de vida afastado da ideologia neonazista, mudar radicalmente de opinião demora. Ele só foi capaz de condenar o Holocausto no ano passado.

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