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Argentina: Macri completa 100 dias de governo pressionado por inflação e perda de popularidade

Desafio para o governo se sustentar é superar a forte recessão por que passa o país

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Macri quer que o Estado contribua para o desenvolvimento
Macri quer que o Estado contribua para o desenvolvimento Macri quer que o Estado contribua para o desenvolvimento

Poucos dias antes de assumir, o presidente eleito da Argentina, Maurício Macri, veio ao Brasil e, na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), prometeu, com entusiasmo. 

— O Estado deve funcionar a serviço do desenvolvimento, das instituições nacionais, da criação de empregos.

Passados mais três meses desde sua posse, no dia 10 de dezembro, ele está percebendo que um governo não se faz apenas com palavras bonitas, campanhas incandescentes, promessas recheadas de certezas. Claro que grande parte das dificuldades era esperada. 

Mas, se os números dos primeiros 100 dias se mantiverem, a inflação baterá às portas de 35% anuais, o que seria uma das taxas mais altas do mundo. O presidente luta nesse momento para não perder popularidade por causa do índice inflacionário. 

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Segundo pesquisa do diário Perfil, um dos mais importantes do país, a maioria da população ainda o apoia, mas não como no momento da eleição, conforme conta ao R7 o editor de política do diário, Damian Nabot.

— Os principais desafios de Macri são dois: em primeiro lugar colocar a Argentina para crescer novamente e depois parar a inflação. Em grande nível a governabilidade de Macri depende da economia.

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Com a atual recessão, o governo corre o risco de perder popularidade. Nabot revela que a pesquisa do diário, neste fim de semana, mostra que, apesar de ainda alta, a imagem do governo sofreu um abalo por causa das primeiras medidas desta gestão.

— Na eleição há um pico de popularidade. Ela se mantém boa, em cerca de 60%, mas caiu 10% desde que Macri foi eleito. Medidas como o aumento das tarifas de energia e a inflação geram as primeiras baixas.

Promessas em aberto

Por outro lado, ações que Macri havia prometido para os primeiros 100 dias ainda não foram realizadas, como o acordo social com vários setores. Ele ainda não conseguiu trazer para si o apoio de alas peronistas, simpatizantes de Cristina, como o La Cámpora (de jovens), e alguns sindicatos.

Outras iniciativas foram uma questão de honra, para recolocar o país nas negociações internacionais, como o acordo com os chamados fundos abutres (que se recusaram a aceitar renegociação com governo anterior), que fará a Argentina desembolsar cerca de US$ 4,5 bilhões para recuperar o crédito no mercado externo.

Mas, com uma inflação de 12% nos últimos três meses e a perspectiva de um baixo crescimento em 2016, está difícil colocar o país nos trilhos do desenvolvimento.

O presidente culpa a herança deixada pelo governo da antecessora Cristina Kirchner que, segundo ele, foi responsável pelo Banco Central financiar gastos públicos, o que causou a inflação. 

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Nabot diz, por sua vez, que a desvalorização cambial de cerca de 30%, para aumentar as exportações e com isso trazer mais recursos, pode servir como um estímulo à já existente inflação e prejudicar as vendas para o exterior.

— A desvalorização veio para tentar melhorar as exportações. Mas o problema é que isso acarreta em um círculo vicioso. A desvalorização na Argentina costuma gerar inflação e causa impacto porque, devido à inflação, as exportações ficam mais caras.

Já o aumento das tarifas de energia, com o fim dos subsídios, pode chegar a mais de 300%. Neste sentido, segundo outro jornalista especializado em economia, Claudio Zlotnik, do famoso programa de rádio El Exprimidor, algumas medidas de Macri, apesar de esperadas, estão assustando pela intensidade. 

Uma delas é, após a negociação com os fundos abutres, a nova emissão de dívida a ser feita, de cerca de US$ 15 bilhões, para recompor as reservas internacionais do país. Zlotnik mostra preocupação com a decisão.

— Vem por aí a a maior emissão de dívida para um país em desenvolvimento.

Pior do que em 2015

Zlotnik diz que a própria desvalorização cambial foi mais alta do que o esperado, aumentando a perda de poder aquisitivo da população.

— Estamos em uma recessão pior do que tínhamos no ano passado. Basicamente, a situação econômica está pior. 

Segundo ele, uma desvalorização cambial, devido à perda de competitividade argentina no exterior, teria de ser feita independentemente do mandatário, inclusive se fosse um peronista. A questão é a intensidade com que isso está ocorrendo.

— Macri tomou as medidas sabendo das consequências, acredita que no segundo semestre a situação vai melhorar, mas pelo menos nos próximos dois, três meses imagino uma situação econômica bastante difícil.

Do ponto de vista político, mesmo tendo um Congresso contrário, Nabot diz que Macri tem sua tarefa facilitada pelo fato de o peronismo, maior força política do país, estar dividido. Isso abala os alicerces da popularidade da presidente Cristina Kirchner, de uma das alas peronistas. E facilita a negociação do governo com o legislativo.

— Se o peronismo estivesse unificado na liderança de Cristina, Macri teria muito mais dificuldade de negociar, porque ela propõe uma posição mais dura em relação ao atual governo.

Alento

A perspectiva de Macri terminar seu governo, por outro lado, já é um alento no país. Isso porque, desde 1983, ele é o primeiro presidente que não pertence a nenhum dos principais partidos, tanto do peronismo quanto da União Cívica Radical. 

E numa Argentina acostumada a golpes, principalmente até o fim dos anos 90, será uma vitória para ele ser o primeiro não peronista a terminar um mandato após a presidência de Juan Domingos Perón e os governos militares dos anos 70 e 80.

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Zlotnik acredita que, independentemente da linha de Macri, liberal na economia, a simples permanência dele até o fim será um sinal de amadurecimento institucional.

— Neste momento pensamos que a Argentina tem a chance de mostrar que pode ser governada por um partido que não seja peronista.

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