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Banco Mundial perde credibilidade por manipulação de dados do Chile

Governo de Michelle Bachelet teria sido prejudicado

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Índice teria comprometido imagem de Bachelet
Índice teria comprometido imagem de Bachelet Índice teria comprometido imagem de Bachelet

A notícia de que o Banco Mundial teria manipulado dados sobre a economia do Chile de forma a prejudicar a imagem da presidente Michelle Bachelet deve ter efeitos muito ruins sobre a credibilidade da instituição, avaliam especialistas.

Em entrevista ao jornal The Wall Street Journal publicada no sábado (13), o economista-chefe da instituição financeira, Paul Romer, reconheceu ter alterado intencionalmente nos últimos anos a metodologia do relatório Doing Business — que classifica cada país de acordo com as leis e regulações que facilitam ou dificultam as atividades das empresas.

As mudanças fizeram parecer que as condições para negócios em território chileno pioraram no último mandato de Bachelet, de 2014 a 2018. 

“Quero pedir desculpas pessoalmente ao Chile e a qualquer outro país sobre o qual transmitimos a impressão errada. Com base nas coisas que estávamos medindo antes, as condições comerciais não pioraram no país sob a administração Bachelet. Eu não tomei as devidas providências e depois percebi que não tinha confiança na integridade [do relatório]”, afirmou Romer.

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Para Manuel Furriela, diretor da Faculdade de Direito do Complexo Educacional FMU, de São Paulo, quem sai mais prejudicado do episódio é a instituição financeira — e não o país latino-americano.

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— Desde sua fundação, o Banco Mundial se notabilizou como uma instituição de credibilidade. Seus relatórios sempre foram parâmetros internacionais de apoio aos países no seu desenvolvimento econômico. É uma grande perda para a confiança que a comunidade internacional depositava na instituição. O Chile, que provavelmente perdeu investimentos por conta do reletório Doing Business, foi prejudicado em segundo plano.

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No último mandato de Bachelet, entre 2014 e 2018, as posições do Chile no Doing Business recuaram de 34 para 57; já nos anos de 2010 a 2014, enquanto o centrista Sebastian Piñera esteve na presidência, as colocações flutuaram entre 49 e 37. Veja abaixo.

Na opinião de José Maria de Souza, doutor em Ciência Política e especialista em América Latina das Faculdades Integradas Rio Branco, os números podem refletir o fato de que os empresários chilenos apoiavam Piñera e não Bachelet.

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— Em geral, grupos de dentro de cada país utilizam o posicionamento de certas organizações internacionais para reforçarem sua agenda e vencerem políticas e resistências domésticas. O Piñera é um líder conhecido por seu posicionamento pró-mercado, então ele tem muito apoio dos empresários no Chile. Pode ter sido essa pressão que favoreceu a manipulação dos índices do Banco Mundial. A conclusão é de que a instituição faz seus relatórios de maneira política, além de técnica.

Investimentos comprometidos

Sebastian Piñera venceu o candidato apoiado por Bachellet
Sebastian Piñera venceu o candidato apoiado por Bachellet Sebastian Piñera venceu o candidato apoiado por Bachellet

Após a divulgação da entrevista de Paul Romer, muito se falou sobre o impacto que a manipulação dos dados pode ter causado na recente eleição presidencial chilena — em que Sebastian Piñera venceu o candidato Alejandro Guillier, apoiado por Michelle Bachellet. O professor Manuel Furriela, acredita, entretanto, que as consequências são mais de ordem econômica do que eleitoral.

— O Doing Business é um dos principais parâmetros utilizados por donos de empresas na hora de analisar os riscos de investimentos em determinado país. Pode ter havido investidores mais cuidadosos que decidiram apostar em outras economias e o próprio Chile pode ter perdido credibilidade para captar recursos e fazer empréstimos internacionais. A consequência é que o Chile acabou perdendo investimentos e isso influencia na geração de empregos, na arrecadação de impostos, nas movimentações econômicas, etc. Há operações que deixaram de ser realizadas e as oportunidades para o cidadão chileno podem, sim, ter deixado de existir.

José Maria de Souza, por sua vez, é mais cauteloso.

— Eu acho que o Doing Business é uma referência, mas não o fiel da balança quando uma companhia decide investir em um país. Na prática, uma empresa de médio ou grande porte que queira investir no país vai até esse país, vê como as coisas são, analisa a parte jurídica, as particularidades do mercado. Um relatório é importante, mas não o único referencial.

Novos cálculos e cobrança por respostas

O economista-chefe do Banco Mundial reforçou na entrevista ao Wall Street Journal que os índices de competitividade chilenos serão corrigidos e recalculados. A presidente chilena, Michelle Bachellet, afirmou em publicação no Twitter que vai solicitar à instituição financeira uma investigação completa sobre o caso. "Os rankings administrados pelas instituições internacionais devem ser confiáveis, pois influenciam o investimento e o desenvolvimento dos países", disse. 

O próprio Banco Mundial emitiu nota oficial no sábado (13) afirmando que, nos últimos 15 anos, o Doing Business tem servido como uma ferramenta importante para países que procuram melhorar seu clima de negócios. A organização afirma que o relatório já passou por uma série de revisões, tanto internas como externas ao longo de sua existência: "À luz das preocupações expressas pelo economista-chefe Paul Romer na mídia e pelo nosso compromisso com a integridade e a transparência, realizaremos uma revisão externa dos indicadores do Chile no Doing Business", completa o informe. 

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