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Brexit reacende revolta e causa conflito na fronteira das Irlandas

Manifestantes unionistas incendiaram carros e enfrentaram policiais nas últimas semana, por se sentirem 'traídos' por Londres

Internacional|Da AFP

Manifestantes chegaram a jogar coquetéis Molotov contra a polícia na Irlanda do Norte
Manifestantes chegaram a jogar coquetéis Molotov contra a polícia na Irlanda do Norte Manifestantes chegaram a jogar coquetéis Molotov contra a polícia na Irlanda do Norte

Incidentes registrados nos últimos dias na Irlanda do Norte, que foram de carros queimados a coquetéis Molotov arremessados contra a polícia, mostram um crescente conflito nessa província britânica, onde as consequências do Brexit, em efeito desde janeiro, criaram um sentimento de traição entre os unionistas, que defendem a permanência da região no Reino Unido.

Leia também: Cidade na fronteira irlandesa volta a ser foco de tensões com Brexit

Na semana passada, a violência explodiu primeiro na cidade de Londonderry, na fronteira entre as duas Irlandas, antes de se espalhar por bairros unionistas da capital, Belfast, e locais próximos, durante o feriado da Páscoa.

Pequenos grupos de jovens mascarados botaram fogo em carros e jogaram coquetéis Molotov e outros objetos contra a polícia, ferindo 41 agentes.

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"Não há dúvida de que o Brexit", assim como a introdução de controles alfandegários às mercadorias que chegam da ilha da Grã Bretanha "danificaram significativamente o equilíbrio de forças na Irlanda", afirmou Duncan Morrow, professor de Ciências Políticas da Universidade de Ulster.

É algo que "vem fermentando durante meses", disse à AFP.

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Esses incidentes trouxeram de volta o fantasma de três décadas de conflito sangrento na Irlanda do Norte entre republicanos católicos e unionistas protestantes, que deixaram cerca de 3.5 mil mortos.

O acordo de paz assinado em 1998 eliminou a fronteira física entre a província britânica e sua vizinha, a República da Irlanda — país-membro da União Europeia — mas o Brexit veio solapar esse delicado equilíbrio, exigindo a reintrodução de controles alfandegários entre o Reino Unido e a UE.

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Após duras negociações, Londres e Bruxelas conseguiram chegar a um acordo, conhecido como "protocolo da Irlanda do Norte", que evita a volta de uma fronteira física na ilha da Irlanda e coloca os controles alfandegários nos portos do lado britânico.

"Traídos" por Londres

Nesse contexto, muitos norte-irlandeses unionistas, apegados ao pertencimento ao Reino Unido, se sentem traídos.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, "prometeu um acesso sem restrições, o que não é o caso", denunciou nesta quarta-feira (7) a ministra da Justiça do governo regional da Irlanda do Norte, Naomi Long, em entrevista à BBC.

"Negaram que haveria qualquer fronteira, no mesmo momento em que levantavam estas fronteiras", protestou.

Segundo Allison Morris, especialista em questões policiais e judiciais do jornal Belfast Telegraph, os manifestantes não se interessam pelas complexas relações comerciais que foram criadas pelo Brexit, mas "estão revoltados".

"Eles entendem que foram traídos exatamente pelo governo britânico pelo qual seus pais, avós e bisavós sempre mostraram uma lealdade servil", escreveu em uma coluna.

Alguns também acreditam que os negociadores do Brexit cederam demais aos nacionalistas, que ameaçaram tacitamente com uma resposta violenta diante da perspectiva de qualquer reconstrução dos controles na fronteira com a República da Irlanda.

"Isso criou um precedente explosivo, já que muitos jovens unionistas olham esse protocolo e concluem que a violência foi recompensada", disse o militante unionista Jamie Bryson para o jornal News Letter.

Debate sobre a reunificação irlandesa

No início de fevereiro, os controles alfandegários nos portos de Belfast e Larne foram suspensos devido ao surgimento de ameaças contra os agentes aduaneiros.

Mas o Brexit é apenas um aspecto de uma crise mais profunda entre os unionistas da Irlanda do Norte.

Em 2017, eles perderam sua histórica maioria no parlamento regional. Depois, em 2019, as eleições do Reino Unido elegeram, pela primeira vez, mais representantes republicanos do que unionistas norte-irlandeses para o Parlamento britânico.

A isso se soma uma mudança demográfica de uma geração mais jovem cada vez mais próxima do nacionalismo, o que faz com que os unionistas se sintam como uma minoria em risco.

O Brexit também ressuscitou um debate mais intenso sobre a reunificação irlandesa. O governo do novo presidente dos EUA, Joe Biden, chegou a advertir o Reino Unido que não deve se retroceder no processo de paz de 1998.

Os episódios de violência também se produziram depois que as autoridades decidiram não processar alguns representantes do partido republicano Sinn Fein, ex-braço político do IRA, que compareceram ao velório de um antigo líder paramilitar.

Isso, segundo a ministra da Justiça local, explica "em parte" a ira dos unionistas contra a polícia.

Mesmo assim, na opinião de Morrow, "ainda é muito difícil ver onde tudo isso vai levar, além de uma frustração cada vez maior e da ira".

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