O celular do homem mais rico e um dos mais poderosos do mundo, Jeff Bezos, fundador e presidente da Amazon, foi hackeado em 2018 pelo príncipe saudita Mohammed bin Salman, diz o jornal britânico The Guardian, que teve acesso a uma investigação sobre o caso.
Segundo o jornal, Bezos e Salman se conheceram em um jantar em Hollywood e começaram a trocar mensagens, quando o herdeiro saudita enviou um vídeo, cujo conteúdo não foi divulgado, e que é “altamente provável” que o conteúdo estivesse infectado. Com isso, uma grande quantidade de dados e informações foram extraídas do celular do empresário dentro de horas.
Invasão de celulares
O caso de invasão de celular não é incomum no governo saudita e nem Bezos é um alvo aleatório. Além de controlar a Amazon, o empresário também é dono do jornal The Washington Post, no qual o jornalista Jamal Kashoggi trabalhava e criticava duramente o regime saudita.
Leia também
Bezos é criticado por valor doado à Austrália para combate a incêndios
5 bilionários que tiveram primeiros empregos bem modestos antes da fama
Como Jeff Bezos largou emprego e usou dinheiro dos pais para apostar na Amazon, criada há 25 anos
Divórcio de Jeff Bezos: As cinco separações mais caras da história
Kashoggi foi assassinado em outubro de 2018 na embaixada da Turquia na Arábia Saudita e seu corpo foi queimado em um forno. O príncipe é um dos principais suspeitos de ter mandado matar o jornalista.
Semanas depois da invasão do celular de Bezos, um crítico do governo saudita e amigo de Khasoggi também foi hackeado. Segundo uma análise do grupo Citizen Lab, Omar Abdulaziz recebeu um link infectado e liberou o acesso de hackers ao seu celular.
Ele e Khashoggi haviam trocado “centenas” de mensagens nos meses seguintes, e elas foram interceptadas pelo governo saudita, alega Abdulaziz em um processo. O governo nega as acusações.
Outros dois dissidentes, o artista Ghanem Almasarir e Yahya Assiri, amiga pessoal de Khashoggi, também foram alvos de ataques virtuais, diz o Guardian.
A exposição da traição de Bezos
Mesmo com um governo criticado e escrutinado pela mídia internacional, o príncipe saudita tinha um importante aliado nos Estados Unidos: David Pecker, o chefe executivo da American Media Inc e dono do tabloide National Enquirer.
Quando Salman viajou para os Estados Unidos, ele ganhou uma matéria exclusiva na revista de Pecker, que o chamava de grande líder que poderia transformar o mundo.
No começo de 2019, o National Enquirer publicou que Jeff Bezos estava traindo a esposa. Outros veículos da American Media Inc também publicaram versões sobre a traição, em uma campanha contra o empresário.
Nas matérias, conversas entre Bezos e a namorada foram publicadas, e algumas das mensagens foram enviadas dias depois de o empresário receber o vídeo do príncipe saudita.
A briga entre Bezos e Pecker se estendeu, com o magnata alegando que Pecker o estava extorquindo e ameaçava publicar fotos íntimas de Bezos com a namorada, caso o empresário não concordasse em parar uma investigação para descobrir como Pecker havia conseguido as mensagens de texto.
Bezos encerrou a história divulgando e-mais trocados entre os dois, incluindo as descrições das fotos que Pecker alegava ter posse.
Ao Guardian, tanto o governo saudita quanto a American Media Inc negaram que a monarquia estava envolvida na publicação da história do caso extraconjugal de Bezos.
O advogado do empresário disse não ter comentários a fazer, além de que “o senhor Bezos está cooperando com as investigações”.