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Com talibãs, Afeganistão pode ser estratégico para a China

Localização do país pode fazer governo chinês se aproximar do Talibã com reconhecimento e investimentos em infraestrutura

Internacional|Fábio Fleury, do R7

A retirada das tropas norte-americanas e a tomada de Cabul pelo Talibã no último domingo (15) marcaram o fim de quase 20 anos de intervenção dos EUA no Afeganistão. Além da queda do governo local para o grupo extremista, o episódio também representa uma importante transição na região, que vem sendo acompanhada de perto pelo governo da China.

Leia também: Conheça o Talibã, grupo radical que está no controle do Afeganistão

O país, que hoje é o principal adversário dos EUA tanto economicamente como em termos de influência, já demonstrou por meio de seus canais diplomáticos que não deve ter problemas em dialogar e formalizar acordos com os talibãs, caso eles consolidem um governo afegão. É um cenário que pode beneficiar a ambos.

Para os extremistas, que buscam agora mostrar uma face mais moderada pelo menos diante da comunidade internacional, seria um caminho mais fácil para uma legitimização como força governante do país, além da possibilidade de obras estruturais e financiamento.

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Afegãos tentam deixar Cabul durante ofensiva do Talibã
Afegãos tentam deixar Cabul durante ofensiva do Talibã Afegãos tentam deixar Cabul durante ofensiva do Talibã

Já para o governo chinês, além de um vácuo de influência para ser ocupado na Ásia Central, o Afeganistão tem uma localização privilegiada que tem um grande valor estratégico. Outro fator importante para o país é que com o Talibã 'pacificado', há menos risco de apoio para movimentos vindos de minorias muçulmanas como os uigures de Xinjiang, a província que faz fronteira com o Afeganistão.

Reconhecimento e investimentos

Para Áureo Toledo, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que estuda o Talibã e o Afeganistão há mais de uma década, um eventual apoio chinês pode se tornar essencial não apenas para a legitimidade internacional do grupo, mas para seus esforços de garantir investimentos estrangeiros.

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"A China tem um interesse antigo no Afeganistão, e já sediava conversas entre o Talibã e o governo desde 2015. O governo participou ativamente das negociações em Doha (Catar) também. O que tem nessa conversa é que de um lado a China espera que o Talibã se comprometa a não desestabilizar a região e pretende manter os investimentos", avalia ele.

Um exemplo desses interesses é o projeto de uma rodovia ligando Cabul à cidade paquistanesa de Peshawar. Essa construção já vinha sendo negociada com o governo afegão do ex-presidente Ashraf Ghani — que fugiu de Cabul no fim de semana — e faria parte de um grande plano de infraestrutura entre a China e o Paquistão, com rodovias, ferrovias e rede de transmissão elétrica, no valor de um investimento de US$ 62 bilhões (pouco menos de R$ 330 bilhões).

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"Tem também um outro projeto de exploração de cobre, e esses são apenas alguns exemplos. A instabilidade política no Afeganistão era muito ruim para os chineses. A ideia é que enquanto o país estiver instável, é mais difícil lançar grandes projetos. Enquanto os EUA estavam lá, a China não intervinha, mas com estabilidade eles conseguia avançar seus projetos", explica Toledo.

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A estratégia chinesa de investir no Afeganistão, com ou sem o Talibã, se explica pela localização do país, que fica entre o Irã, o Paquistão e a China, além do Uzbequistão, Turcomenistão e Tajiquistão ao norte. Se conseguir ampliar sua influência e infraestrutura no país, fica mais fácil prosseguir com o projeto conhecido como "Nova Rota da Seda", que pode chegar até o Oriente Médio e a Europa, como gasodutos, ferrovias e estradas.

"Já para o Talibã, a busca por financiamento e reconhecimento é fundamental. Por isso eles estão tentando mostrar moderação, falando em anistia geral, direito das mulheres. O problema é que a interpretação da lei islâmica deles não se sustentava dentro do Alcorão. Além disso, não sabemos ainda se vai haver uma resistência interna a eles no Afeganistão", ressalta o professor da UFU.

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