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Cristina mostra força para recuperar terreno antes de eleições na Argentina

Internacional|

Natalia Kidd. Buenos Aires, 2 mar (EFE).- Enérgica, sem papas na língua para bater de frente com os que considera seus adversários e pegando a oposição de surpresa com uma polêmica iniciativa de nacionalização das ferrovias, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, entrou de cabeça na tarefa de recuperar posições antes das eleições de 2015. Após a crise provocada pela morte do promotor Alberto Nisman, morto com um tiro na cabeça quatro dias após denunciar Cristina por suposto acobertamento de terroristas iranianos, e da dura disputa entre o governo e parte do Poder Judiciário, muitos apostavam que a governante se mostrasse na defensiva neste domingo, em seu discurso de abertura do ano legislativo. "Além do conteúdo do discurso, a presidente parecia mais vital e enérgica que nunca, inteira. O governo claramente está desgastado, mas ela não. Parecia firme e com vocação de, se não concorrendo por um cargo legislativo, ter um forte protagonismo na campanha", opinou nesta segunda-feira à Agência Efe Patrício Giusto, da empresa de consultoria Diagnóstico Político. Para o analista, a atitude de "força" de Cristina foi a "grande surpresa" do discurso de quase quatro horas que ela fez neste domingo perante o plenário das duas câmaras do Congresso. "Se alguém de fora vir e não lhe contarem que é o oitavo ano de governo e o último de seu segundo mandato, sem possibilidade de reeleição, pensaria que acaba de assumir com todas a vontade e uma agenda de temas próprios. Muitos esperavam o discurso de uma mulher encurralada e tiveram uma surpresa", acrescentou Giusto. Para o diretor do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano, Orlando D'Adamo, o tom de Cristina, que deixará o Executivo em dezembro nas mãos do vencedor do pleito do próximo mês de outubro, foi "o de sempre, embora em uma versão mais exacerbada e personalista". O analista disse à Efe que a governante exagerou em "autoelogios", "tergiversando" os números sobre os resultados de sua gestão e "sem falar de inflação, insegurança ou narcotráfico". "(Cristina) segue pesando que tem perspectivas políticas no futuro. Foi um discurso de alguém que não sairá da política, e quer ter algum papel. Está apostando que quem vier depois dela não será seu sucessor e que ela vai ser sua própria sucessora dentro de quatro anos", comentou D'Adamo. Segundo este analista, o discurso teve, entre outros erros, uma duração exagerada - mais de três horas e meia - que impossibilita que qualquer pessoa preste atenção e um abuso da utilização da primeira pessoa. Porém, para Giusto, houve acertos, como o "inteligente" anúncio de um projeto de lei para nacionalizar as ferrovias, algo que, no julgamento do analista, "impactou e descolocou" a oposição, que ficará em uma situação "incômoda" para discutir esta iniciativa em plena campanha. "A nacionalização é um tema que sempre prende o eleitorado e muitos opositores, que se mostraram a favor no passado, não vão poder criticá-la", ressaltou. Os dois analistas concordaram que o anúncio também procura escorar a candidatura presidencial do ministro do Interior e Transporte, Florencio Randazzo, que focou sua gestão na modernização dos trens. Segundo Giusto, Cristina ainda tem a "esperança" que a imagem de Randazzo ganhe força e se equipare com a do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, um governista de quem muitos desconfiam no núcleo duro do kirchnerismo. Não causou tanta surpresa as duras críticas de Cristina ao Judiciário, em particular pela falta de avanços para esclarecer os atentados com a embaixada de Israel, em 1992, e contra a associação mutual israelita Amia, em 1994; este último investigado por Nisman. Segundo Giusto, a governante deixou "fora de jogo" o titular da Corte, Ricardo Lorenzetti, a quem o governo acusou anos atrás de esconder aspirações presidenciais e presente neste domingo no Congresso, enquanto Cristina exigia ao Supremo informação sobre sua investigação a respeito do ataque à embaixada. "Foi muito duro o ataque que Lorenzetti recebeu, e com certa fundamentação de parte da presidente; afinal é verdade que o atentado à embaixada de Israel não foi esclarecido e essa é uma grande dívida pendente que compete estritamente à Justiça", concluiu o analista. EFE nk/rsd

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