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Desconfiança sobre Coreia do Norte persiste após acordo 'vago' com EUA

Para especialistas, descoberta sobre instalações em funcionamento não é surpresa. Registros mostram manutenção e melhoras de infraestrutura

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Kim Jong-un e Donald Trump durante encontro em Cingapura, em junho
Kim Jong-un e Donald Trump durante encontro em Cingapura, em junho Kim Jong-un e Donald Trump durante encontro em Cingapura, em junho

A informação divulgada nesta semana de que a Coreia do Norte mantém bases de mísseis não declaradas em funcionamento não chegou de forma exatamente inesperada para a comunidade internacional.

“Não é nenhuma grande surpresa. Quando o acordo [de total desnuclearização da península coreana] foi fechado entre Donald Trump e Kim Jong-un no encontro em Cingapura, muito se falou sobre a fragilidade do tratado”, lembra Leonardo Paz, professor de Relações Internacionais do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).

À época, os analistas chamaram a atenção para o fato de que o texto não apresentava etapas específicas previstas para o desmonte nuclear.

“As pessoas se perguntaram como o Trump pôde classificar um acordo vago com a Coreia do Norte como ‘maravilhoso’ ao mesmo tempo em que retirou os Estados Unidos do acordo com o Irã — que era bastante restritivo — por considerar este último ‘muito fraco’”, completa o especialista.

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Segundo o relatório divulgado na segunda-feira (12) pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, baseado em Washington, foram identificadas pelo menos 13 bases de operação de mísseis não declaradas na Coreia do Norte.

Os registros feitos por satélite mostram que houve manutenção e melhoras de infraestrutura em alguns locais, apesar das conversas internacionais em processo.

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Desconfiança mútua

Desde a cúpula entre Trump e Kim, negociadores dos EUA e da Coreia do Sul tentam obter uma declaração concreta de Pyongyang a respeito do tamanho de seu programa de armas ou uma promessa sobre a suspensão do arsenal existente. Sem sucesso.

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“O grande problema é a desconfiança mútua que ainda existe. Para Kim Jong-un, manter as instalações nucleares é um jeito de se garantir caso algo dê errado. Só que isso é uma faca de dois gumes: ele acaba colocando a própria segurança em risco à medida que a manutenção dessas instalações compromete as conversas internacionais”, explica Alexandre Uehara, doutor em Ásia e professor no curso de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), em São Paulo.

Leonardo Paz reforça que os passos comedidos dados por Kim Jong-un até o momento não fogem do esperado. 

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“Os norte-coreanos não têm como acreditar que Trump seja confiável. Na cabeça deles, arma nuclear é garantia de ter como se de defender. Eles veem o que aconteceu com Irã, Líbia, Iraque e outros países que abriram mão de suas armas e foram atacados e derrubados. Houve o desmonte de uma das principais bases de lançamento de mísseis, mas nenhuma contrapartida dos Estados Unidos. O Trump não pôs fim a nenhuma das sanções. ”

Para o professor do Ibmec, é importante considerar o fato de que as descobertas da semana não envolvem bases nucleares.

“Essas instalações reveladas recentemente são para mísseis balísticos de grande porte que, por consequência, podem carregar ogivas nucleares. Em tese, Coreia do Norte não está violando o tratado, porque não são instalações nucleares, Kim Jong-un não está enriquecendo urânio para desenvolver bombas. Não deixa de ser um movimento de esperteza do líder norte-coreano, ainda assim.”

Próximos passos

A partir de agora, deve-se acompanhar a reação dos principais líderes envolvidos em relação à descoberta sobre as bases de mísseis não declaradas. Ao ser questionada sobre o assunto, uma uma autoridade do Departamento de Estado americano disse que Trump deixou claro que "se Kim seguir com seus compromissos — incluindo a completa desnuclearização e eliminação dos programas de mísseis balísticos — um futuro muito melhor estará adiante para a Coreia do Norte e seu povo".

“Trump não deve admitir que as conversas com a Coreia do Norte foram um completo fracasso porque isso seria admitir que a agenda dele é um completo fracasso. Nesta semana, ele conta com questões muito mais importantes na mão — houve a eleição do Congresso e ele perdeu a maioria na Câmara. Há problemas domésticos mais complexos neste momento”, comenta Leonardo Paz.

Quem deve começar a desenhar uma estratégia em breve é Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul — um dos grandes articuladores no processo de desnuclearização das Coreias e reaproximação entre Washington e Pyongyang.

“Coreia do Sul e Coreia do Norte vêm se dando muito bem. Não se sabe se esse tipo de revelação pode reascender alguma tensão na região. É uma baita incógnita”, pontua o especialista do Ibmec.

“Outro ator importante é a China, que teve um papel importante neste processo de aproximação entre Washington e Pyongyang. Eu creio que essa descoberta feita por satélites contraria o posicionamento chinês. Já existe uma dificuldade entre China e Estados Unidos em relação a questões comerciais e a situação envolvendo essas instalações para mísseis deve respingar no governo chinês, que é um aliado regional da Coreia do Norte”, conclui Uehara.

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