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Golfe para milionários é mais um laço que une Donald Trump à Arábia Saudita

Série de torneios Liv Golf deve render lucros altíssimos ao ex-presidente norte-americano

Internacional|Eric Lipton, do The New York Times

Propriedades de Donald Trump sediarão torneios de liga esportiva patrocinada por sauditas (Scott McIntyre/The New York Times - 03.04.2024)

Golfistas amadores fizeram fila na quinta-feira no Trump National Doral, perto de Miami. Pagaram mais de US$ 9 mil cada um para jogar uma partida amistosa ao lado de alguns dos melhores profissionais do mundo.

A previsão é que os quartos do hotel resort ficarão lotados de fãs quando o torneio profissional, com alguns dos maiores nomes do esporte, começar nesta sexta-feira. Os restaurantes e bares do resort atrairão mais clientes e o nome Trump será transmitido para todo o mundo na televisão e na internet.

Por trás desse aumento nos negócios em uma das propriedades do ex-presidente Donald Trump, está o acordo para acolher torneios da Liv Golf, a nova liga esportiva patrocinada pelo fundo soberano da Arábia Saudita.

A avidez da Liv em pagar para que Trump hospede torneios em seus resorts é apenas mais um exemplo dos laços que unem os sauditas à família Trump, no momento em que ele se apresenta para concorrer à presidência dos Estados Unidos outra vez. É um acordo conflituoso, mas é a cara de Trump.

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Este conversou recentemente com o líder da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, disseram duas fontes informadas sobre o encontro, enquanto a administração Biden vem trabalhando com a Arábia Saudita em um plano de paz para o Oriente Médio. Mas não ficou claro o que Trump e o líder saudita discutiram. Representantes de Trump não responderam aos pedidos de comentários para esta reportagem.

Ao mesmo tempo, a empresa de investimento criada pelo genro de Trump, Jared Kushner, com US$ 2 bilhões em financiamento do mesmo fundo soberano saudita que bancou a Liv Golf, tem feito negócios nos últimos meses tanto nos Estados Unidos quanto no exterior.

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Os laços da família Trump com o governo saudita vêm levantando questões por causa da tentativa de Trump de regressar à Casa Branca. É preciso levar em conta também a natureza evolutiva dos negócios de Trump, que estiveram intimamente associados a hotéis em centros urbanos, mas que, agora, focam cada vez mais o mundo do golfe.

No ano passado, o acordo entre Trump e sauditas gerou o pagamento inicial de uma taxa de licenciamento de US$ 5,4 milhões (Doug Mills/The New York Times - 28.07.2022)

No fim do ano passado, a Trump Organization tinha vendido ou perdido acordos da marca com seis hotéis em todo o mundo – os mais recentes foram o Trump Waikiki, no Havaí, e o Trump International Hotel, em Washington. Outros locais em que hotéis abandonaram o nome Trump foram Vancouver, Toronto, Panamá e o bairro SoHo, de Nova York, totalizando 1.893 quartos. À família Trump restou apenas três hotéis localizados no centro da cidade em Nova York, Chicago e Las Vegas.

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O resto de suas participações na indústria hoteleira em todo o mundo, incluindo o Doral, na Flórida, é composto quase inteiramente de resorts construídos em torno de campos de golfe. Nos últimos três anos, a organização viu sua posição reforçada internacionalmente como resultado dos torneios de golfe da Liv, generosamente financiados pelo fundo soberano da Arábia Saudita para atrair astros como Jon Rahm, Phil Mickelson e Brooks Koepka.

Eric Trump, um dos filhos do ex-presidente, disse em uma entrevista que a mudança nas participações da empresa na indústria hoteleira reflete o rápido crescimento da indústria do golfe desde a pandemia, tendência que beneficia os 11 clubes de golfe nos Estados Unidos pertencentes à família e os quatro que estão sediados no exterior. Referindo-se em particular aos resorts de golfe, declarou: “O mercado de lazer tem sido o mercado mais aquecido do mundo hoteleiro. Os clubes de golfe estão cheios.”

Mas a queda no negócio hoteleiro nos centros urbanos não foi algo que os Trump planejaram. Há uma década, a família iniciou uma campanha de marketing no país para promover o que então chamava de “Trump Hotel Collection”, uma cadeia crescente de hotéis butique em cidades da América do Norte e em outras partes do mundo. Iniciou também um programa próprio para beneficiar visitantes frequentes, chamado Trump Card. “Nosso estilo de vida é onde se pode fazer mais, experimentar mais e viver a vida sem fronteiras, limites ou compromissos”, vangloriava-se a empresa de Trump em sua campanha de marketing, cuja lista, na época, incluía muitas propriedades hoteleiras que hoje retiraram o nome Trump da fachada.

A família Trump, na ocasião, contratou um conhecido executivo da indústria hoteleira, Eric Danziger, para planejar uma grande expansão da marca, que incluísse dezenas de hotéis em locais espalhados pelo mundo. Mas Danziger deixou a empresa depois que esta abandonou os planos de expansão de grandes hotéis.

Documentos preparados para a família Trump e seus credores oferecem uma explicação para o declínio da marca hoteleira nos centros urbanos – e eles apontam para o próprio Donald Trump.

“De acordo com a administração, a marca Trump impactou negativamente o desempenho do personagem. O sr. Trump é uma figura polarizadora que desperta fortes sentimentos tanto nos seus apoiadores quanto nos apoiadores de seus oponentes políticos. Isso resultou no cancelamento de eventos na propriedade por muitos grupos”, registrou uma avaliação, feita em 2021, pelo hotel Doral e preparada para o Deutsche Bank, um dos credores de Trump.

Em um processo civil levado a cabo pelo procurador-geral do estado está um documento, assinalado como “altamente confidencial”, que veio a público no fim do ano passado como parte de um processo judicial na cidade de Nova York. Nele, Trump é acusado de inflacionar o valor de algumas de suas propriedades.

Uma segunda avaliação, preparada em 2022, sobre o Doral – também tornada pública recentemente por intermédio do processo de Nova York – concluiu que, se a família Trump vendesse o hotel, um novo operador teria mais chances de ver a ocupação e as tarifas médias cobradas pelas diárias dos quartos aumentarem quase imediatamente.

Os mesmos problemas se estendem aos hotéis Trump em outras localidades.

Para a família Trump, as receitas indiretas com o torneio de golfe serão consideráveis nos próximos meses (Scott McIntyre/The New York Times - 03.04.2024)

A ocupação do Trump International Hotel and Tower Chicago, durante o período de um ano, até setembro de 2023, foi de apenas 49% em média, de acordo com um estudo de mercado preparado para a Trump Organization. São 15 pontos percentuais abaixo dos seus concorrentes em Chicago.

Os dados do hotel de Chicago – obtidos pelo “The New York Times” em resposta a uma solicitação de acesso à informação pelo avaliador de impostos de Nova York – mostram que a maior fraqueza do hotel Trump, em comparação com seus concorrentes, está nas vendas para grandes grupos, outro sinal de que corporações e outras organizações estavam evitando o hotel da família Trump.

Para complicar mais os planos de negócios hoteleiros de Trump, existe ainda a longa lista de projetos que foram cancelados ou adiados, incluindo hotéis da marca em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; em Nova Orleans; na República Dominicana; e dois na Indonésia. Os planos para iniciar duas novas cadeias de hotéis nos Estados Unidos – que se chamariam Scion e American Idea – foram abandonados na época em que Trump ainda estava na Casa Branca.

Um dos poucos novos projetos de resorts internacionais que está avançando rapidamente é o de Omã, que tem apoio de uma empresa imobiliária sediada na Arábia Saudita.

Por outro lado, os campos de golfe de Trump em locais como Jupiter e West Palm Beach, na Flórida; Virgínia do Norte; e Charlotte, na Carolina do Norte, entre outros locais, registaram grandes saltos nos lucros líquidos nos últimos anos, como mostram os registros judiciais. As receitas provenientes do golfe, bem como das vendas de alimentos e bebidas no Doral, em Miami, também aumentaram.

As taxas de entrada, para ingressar em dois clubes de golfe de Trump, na Flórida, saltaram para algo perto de US$ 400 mil, disse Eric Trump, e as anuidades também aumentaram de preço.

A empresa está construindo um segundo campo de golfe em seu clube em Aberdeen, na Escócia, e um em Omã, como parte do projeto apoiado pela Arábia Saudita. No ano passado, o acordo gerou o pagamento inicial de uma taxa de licenciamento de US$ 5,4 milhões.

Este salto nas receitas oriundas do golfe em Bedminster, Nova Jersey, e no Doral coincide com a decisão da Liv Golf, tomada há três anos, de promover torneios nos empreendimentos da família Trump. Atrair o golfe profissional tem sido um dos principais objetivos do ex-presidente. Até porque ele foi desprezado pelas principais organizações de golfe profissional, como a PGA of America, que cancelou um torneio planejado em Bedminster depois do ataque ao Capitólio, em seis de janeiro de 2021.

O próprio Trump anunciou o evento deste ano em Doral. Escreveu uma postagem em dezembro no Truth Social que dizia: “O Trump National Doral, em Miami, acaba de assinar com a Liv Golf para sediar uma disputa de campeonato em abril de 2024.” A liga disputou três torneios nos campos de Trump no ano passado, na Flórida, em Nova Jersey e na Virgínia – mais do que qualquer outra marca de campos de golfe no mundo.

Executivos da Organização Trump afirmaram que os pagamentos diretos da Liv Golf foram relativamente pequenos, cobriram apenas os custos de sediar os torneios e algumas reformas relacionadas aos campos e instalações para a prática do golfe. A Liv Golf, separadamente, distribuirá US$ 25 milhões em prêmios aos 54 jogadores profissionais que participarão.

“Querem usar minhas propriedades porque são as melhores”, disse Trump em um torneio Liv no Trump National Golf Club Washington, em maio passado, acrescentando que os pagamentos da Liv “são café pequeno para mim”.

Para a família Trump, as receitas indiretas com o torneio de golfe serão consideráveis. Esta semana em Doral, a ocupação hoteleira aumentou. Eric Trump espera a presença de dezenas de milhares de fãs de golfe no resort de Miami durante o fim de semana. É um contraste com o que houve há apenas uma semana. Um repórter visitou o Doral e notou que o hotel de 643 quartos, as salas de conferências e os restaurantes estavam relativamente silenciosos, mesmo sendo um período movimentado de férias de primavera na Flórida.

O preço pedido para se hospedar nos quartos do Doral mais que dobrou à medida que o início do torneio se aproxima, chegando a quase US$ 1.000 por noite para um quarto básico.

Chalés privados para assistir ao torneio são alugados por até US$ 89 mil para o evento de três dias, enquanto uma vaga para entrar no chamado Birdie Shack (local ao ar livre com vista para o circuito de golfe e música dançante) pode ser adquirida por US$ 249, incluindo três bebidas e a agitação dos DJs.

Recentemente, a família Trump recebeu das autoridades municipais locais o direito de construir até cinco arranha-céus, com um total de 1.410 apartamentos e villas no resort Trump Doral. A aprovação já fez subir o valor de revenda da holding Doral, mesmo que o próprio hotel tenha uma ocupação relativamente baixa. Mas esse empreendimento ainda não tem data de início.

Eric Trump rejeitou qualquer sugestão de que a família Trump, implicada em vários conflitos legais, possa ter dificuldades em obter um empréstimo bancário para construir o projeto. “Enquanto o mercado estiver ativo e estivermos de bom humor, vamos prosseguir.”

c. 2024 The New York Times Company

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