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Insatisfação com União Europeia leva a avanço da extrema-direita na liberal Holanda

Partido cresce, apesar de país ser conhecido pela tolerância e liberdades individuais

Internacional|Marta Santos, do R7

Cartaz mostra candidatos que disputam as eleições holandesas deste ano
Cartaz mostra candidatos que disputam as eleições holandesas deste ano Cartaz mostra candidatos que disputam as eleições holandesas deste ano

Em meio à ascensão de políticos e partidos de extrema-direita na Europa, até mesmo um país conhecido como um dos mais liberais do mundo poderá eleger um governo ultranacionalista este ano. Apesar de a tolerância e os direitos e liberdades individuais serem uma marca internacionalmente reconhecida da Holanda, pesquisas mostram que o PVV (Partido da Liberdade), eurocético e conhecido por suas posições rígidas sobre a imigração, deve alcançar uma porcentagem considerável dos votos nesta quarta-feira (15), podendo até mesmo eleger seu líder, Geert Wilders, como primeiro-ministro.

Uma das principais bandeiras defendidas por Wilders é a saída da Holanda da UE (União Europeia), que, na visão do candidato, seria culpada pelas crises econômica e migratória vividas pelo bloco, explica Demétrius Pereira, professor de Política Europeia das Faculdades Integradas Rio Branco.

— Os holandeses tendem a ser um pouco rígidos em relação à economia, mas são um dos membros fundadores da UE. Eles apoiaram esse processo de integração e a ascensão desses partidos de extrema-direita é um embate muito grande. Eu morei na Holanda em 2011 e, além de os holandeses serem muito liberais, eu não vi tanta xenofobia, tanta aversão aos imigrantes. No entanto, nos últimos anos, com o agravamento da crise migratória, isso vem aumentado. Eles tendem a conectar com a economia, tendem a ver os imigrantes como ladrões de empregos. Isso também acaba transbordando também na ideia de que a UE é a culpada pela livre circulação de pessoas.

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A Holanda é governada por um Parlamento de 150 pessoas, que, atualmente, é dividido entre 11 partidos. Como nenhum partido obteve mais de 50% dos votos nas últimas eleições, o governo se formou por meio de coalisões.

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Hoje, o poder está nas mãos de uma coalisão entre os partidos VVD (Partido Popular pela Liberdade e pela Democracia), partido liberal e de centro-direita, do atual primeiro-ministro Mark Rutte, e PvdA (Partido Trabalhista), social-democrata e de centro-esquerda.

— Atualmente, os partidos menos radicais se uniram para impedir um governo da extrema-direita. Em vários países europeus, o avanço da extrema-direita provocou uma reação contrária dos outros partidos se unindo para impedir que eles governem. Ou seja, o governo pode acabar ficando com essa coalisão de outros partidos menos votados. Mas é claro que este é um cenário perigoso, porque a extrema-direita também pode conseguir um número de votos que seja difícil de bater, ainda que haja a união de outros partidos.

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Mas os problemas relacionados à economia podem tirar votos dos partidos que, hoje, compõem o parlamento holandês.

— A ascensão da extrema-direita começou em 2008, com a crise econômica. Os holandeses foram afetados porque eles têm uma economia muito integrada ao restante da Europa. Depois, foi crescendo o descontentamento com a UE. Os holandeses tendem a apoiar essas medidas de austeridade, ou seja, acham que a solução para a crise é ‘apertar os cintos’. A Holanda é um país muito rico e se alinha mais ao pensamento alemão, de que tem que cortar os gastos, do que a visão francesa, de que tem que investir mais para crescer.

Fim da União Europeia?

Além da Holanda, outros dois países membros-fundadores da UE — França e Alemanha — poderão redefinir completamente a dinâmica do bloco dependendo do resultado das eleições que acontecerão ao longo deste ano. Nos três países, partidos de extrema-direita têm se mostrado fortalecidos nas pesquisas de voto.

— É uma consequência da conjuntura atual, então, eu tendo a ver isso como algo já esperado. O Brexit abriu o debate em relação a isso e a UE tende a ser o bode expiatório de tudo isso. Se houvesse sua saída da Holanda e, posteriormente, da França seria catastrófico para a UE, praticamente o fim.

Para Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o bloco está falhando em encontrar formas de resolver as insatisfações internas.

— No momento, a UE parece querer resolver esses problemas reafirmando os princípios europeus, mas, talvez, a resposta seja outra. Para a UE sobreviver, vai ter que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração. Há uma perspectiva de aumento das forças contra a integração europeia, mas, na verdade, a Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, quando isso acontece o argumento contra UE se fortalece. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai ainda mais imigrantes.

As eleições alemãs serão realizadas no dia 24 de setembro e as francesas em dois turnos: o primeiro em 23 de abril e o segundo em 7 de maio.

— A grande equação para a UE em 2017 é saber se a [chanceler alemã] Angela Merkel vai ou não continuar no poder e qual será o resultado da eleição francesa. Teremos que ver como a direita vai conseguir lidar com a sua suposta ascensão e conseguir manter isso, principalmente, a direita radical francesa da Marine Le Pen. Na França, a direita vai ganhar de uma forma ou de outra, realmente vai vir um governo mais conservador. Só resta saber o quanto à direita. Agora, a Alemanha é a grande incógnita.

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