A Itália pediu à ONU a abertura de uma investigação e "respostas claras" após a morte de seu embaixador na República Democrática do Congo (RDC) em um ataque contra um comboio do Programa Mundial de Alimentos (PMA), anunciou nesta quarta-feira (24) o chefe da diplomacia italiana.
"Pedimos formalmente ao PMA e à ONU a abertura de uma investigação para esclarecer o que aconteceu, as razões que justificam o dispositivo de segurança aplicado e quem foi responsável por estas decisões", disse o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, aos deputados italianos.
"Explicamos que esperamos, o mais rápido possível, respostas claras e exaustivas", completou.
O embaixador Luca Attanasio, de 43 anos, foi baleado quando o comboio do PMA, no qual ele viajava, sofreu uma emboscada na província oriental de Kivu do Norte, perto da fronteira com Ruanda.
Também foram mortos seu segurança italiano, o carabineiro Vittorio Iacovacci, e um motorista congolês do PMA, Mustafah Milambo.
Kivu do Norte é considerada uma das áreas mais perigosas da RDC, no limite do Parque Nacional de Virunga. De acordo com autoridades humanitárias, porém, a rota em que o comboio estava viajando não exigia escolta.
"Esperamos que a agência nos forneça um relatório exaustivo sobre tudo que esteja relacionado com o programa da visita e as medidas de segurança tomadas para proteger a delegação", frisou Di Maio.
Embora o embaixador pudesse decidir por si mesmo como viajar pelo país, a organização da viagem ao leste da RDC era de responsabilidade total do PMA.
"A missão aconteceu a convite das Nações Unidas. Por isso, a viagem de carro também foi realizada no âmbito da organização prevista pelo PMA", disse o ministro.
O chanceler italiano ressaltou que a Procuradoria de Roma abriu uma investigação e enviou uma equipe de investigação de uma força especial de carabineiros, a ROS.
"Pelo que sei, outras equipes a seguirão", completou Di Maio.
Os corpos do diplomata e do jovem carabineiro chegaram a Roma na noite de terça-feira a bordo de um avião militar, um Boeing 767, em caixões envoltos na bandeira italiana.
O primeiro-ministro Mario Draghi e Luigi Di Maio foram ao aeroporto de Ciampino receber a viúva do embaixador e suas três filhas.
As autoridades ordenaram a necropsia dos dois corpos. Depois serão organizados os funerais de Estado, afirmou Di Maio, sem revelar uma data.
- 'Acusações apressadas'
Na segunda-feira, as autoridades congolesas acusaram os rebeldes huthus ruandeses das Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR), instaladas no leste da RDC, de terem ordenado o ataque, chamado de "terrorista" pelo presidente congolês, Félix Tshisekedi.
Em um comunicado divulgado no dia seguinte, os rebeldes das FDLR negaram envolvimento no ataque e pediram às autoridades congolesas e à Monusco (Missão da ONU na RDC) que investiguem as responsabilidades por esse "assassinato desprezível, antes de recorrerem a acusações apressadas".
O governo da RDC afirmou que o comboio foi vítima de uma emboscada a três quilômetros de seu destino, na cidade de Kiwanja, no território de Rutshuru.
Segundo a Presidência do país, eram seis criminosos, armados "com cinco fuzis AK-47 e com um facão".
"Eles deram tiros de advertência antes de obrigar os ocupantes dos veículos a descer e acompanhá-los até o outro extremo do parque (Virunga), depois que mataram um dos motoristas para gerar pânico", afirma um comunicado da Presidência.
Alertados, guardas florestais e soldados congoleses presentes na região iniciaram uma perseguição.
"A 500 metros (do local do ataque), os sequestradores atiraram à queima-roupa no segurança (italiano), que morreu na hora, e contra o embaixador, que foi ferido no abdômen", completou a nota oficial.
A reconstituição dos fatos por parte do chanceler Di Maio corresponde, essencialmente, ao relato feito pelas autoridades congolesas.
As mortes do diplomata e do policial provocaram reações de consternação no mundo político italiano.