O Ministério das Relações Exteriores convocou na manhã desta segunda-feira (19) o embaixador britânico em Brasília, Alexander Ellis, para demonstrar a insatisfação do governo brasileiro em relação à retenção de David Michael Miranda por nove horas no Aeroporto de Heathrow, em Londres, no domingo (20).
A informação foi divulgada há pouco pelo chanceler do Brasil. Para Antonio Patriota, não há explicação razoável para o que ocorreu no aeroporto londrino.
“Não há justificativa para o tratamento que foi dado a um cidadão brasileiro sobre quem não pesa qualquer suspeita de envolvimento com o terrorismo ou outra atividade ilícita, retido durante nove horas incomunicável. Esperamos que isso não se repita. Será muito importante transmitirmos isso de maneira muito clara ao governo britânico”.
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Patriota também pretende conversar ainda hoje com o chanceler britânico, William Hague, sobre a detenção do cidadão brasileiro.
Ele participou no Rio de uma cerimônia em homenagem a Sérgio Vieira de Mello, brasileiro que morreu há dez anos em atentado terrorista em Bagdá, quando chefiava a representação das Nações Unidas no Iraque. Antes de conversar com a imprensa no Rio de Janeiro, Patriota havia criticado “desmandos e desvios” que vêm sendo cometidos em nome do combate ao terrorismo no mundo, em discurso durante o evento.
O chanceler brasileiro disse que o combate ao terror deve respeitar o direito internacional. O brasileiro David Miranda é companheiro do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que denunciou, em matérias publicadas no jornal britânico The Guardian, a estratégia de ciberespionagem do governo dos Estados Unidos.
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As reportagens foram baseadas em documentos fornecidos por Edward Snowden, ex-funcionário de uma empresa terceirizada que prestava serviços à NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana). Greenwold disse hoje, na chegada de David Miranda ao Rio, que o episódio era uma forma de intimidá-lo.
O brasileiro desembarcou cedo no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão. Ele contou que foi abordado no aeroporto de Londres por vários homens que lhe disseram que seria levado a uma sala para ser interrogado.
“Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira e ainda levaram o meu computador, o videogame, celular, máquina fotográfica e cartões de memória”, relatou.