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Neto de russos diz sofrer preconceito no Brasil após início de guerra

Boris Zabolotsky é contra o conflito, mas adverte que confronto é cercado por questões que envolvem minorias russas na Ucrânia

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Praça Vermelha é um dos cartões-postais da Rússia
Praça Vermelha é um dos cartões-postais da Rússia Praça Vermelha é um dos cartões-postais da Rússia

O conflito entre Rússia e Ucrânia, sacramentado em 24 de fevereiro com o anúncio de Vladimir Putin na TV russa, deu início a uma ampla cobertura da mídia mundial sobre a guerra. Os ataques militares de Moscou contra Kiev, entretanto, trouxeram consequências aos descendentes de russos que moram no Brasil.

O cientista político e doutorando do programa de pós-graduação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Boris Zabolotsky, que é neto de russos, diz que foi alvo de ofensas e xenofobia após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Pessoas, influenciadas por um discurso muito dramatizado do conflito e pela espetacularização da guerra,” estão “criticando e me atacando com insultos, russofobia, que também é derivada desse discurso que se constituiu em relação à Rússia”, explica Zabolotsky ao R7.

O pesquisador entende a ira de algumas pessoas que se informam somente pelo viés ocidental da cobertura da guerra, que tende a ser mais permissivo com os ucranianos. Entretanto, ele ressalta a importância de entender os lados do confronto.

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“É bastante complexa essa situação quando a gente fala sobre o conflito porque ninguém é favorável a uma guerra, à violência. Mas essa guerra é precedida por questões muito mais complexas e anteriores que não são comentadas ou que não são faladas pela mídia.”

Um dos pontos que Zabolotsky acredita ser importante ressaltar são as perseguições por parte da Ucrânia — de maneira estatal e da população local — contra as minorias russas que moram no país. Segundo o pesquisador, violências de diferentes tipos foram cometidas contra o povo originário da Rússia.

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Além da proibição de uso da língua russa, o doutorando da UFRGS vê uma “desmontada” artificial dos laços históricos entre russos e ucranianos, que por quase um século estavam sob a bandeira da União Soviética.

“Isto leva a todos os movimentos separatistas que não se sentem representados por aquelas autoridades que formularam essas políticas”, conta Zabolotsky. “[É imprescindível] que as minorias russas tenham seus direitos e que queiram manter seus laços com a Rússia.”

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Imprensa ocidental ignora os grupos extremistas ucranianos

Batalhão de Azov está integrado ao Exército ucraniano na luta contra a Rússia
Batalhão de Azov está integrado ao Exército ucraniano na luta contra a Rússia Batalhão de Azov está integrado ao Exército ucraniano na luta contra a Rússia

Para o pesquisador, há um importante ponto nas motivações russas para a invasão da Ucrânia que é ignorado pela imprensa ocidental: os grupos de extrema direita do país.

“Quando a gente escuta a imprensa ocidental, a gente tende a entender que esses grupos nazistas que atuam na Ucrânia são esparsos ou sem representação, sem nenhum tipo de influência política, e que de fato, não é o que acontece na prática. Esses grupos compõem uma boa parcela do Exército ucraniano e estão vinculados à Guarda Ucraniana, ao poder Executivo da Ucrânia.”

Zabolotsky está se referindo aos batalhões de Aidar e de Azov, este último que, inclusive, ganhou destaque por ser o coração da resistência militar ucraniana em Mariupol. O cientista político acredita que a mídia ocidental deixe esta questão à parte para não fortalecer o discurso de desnazificação de Putin.

“Isso é algo que tem sido apartado da imprensa ocidental porque supostamente legitimaria o discurso de desnazificação do Putin. Embora haja bastante divergência acerca dessa questão, acredito que o fato de apontar a existência desses grupos, apontar a influência desses grupos, não significa legitimar ou concordar com o conflito, com a guerra em si”, conta o pesquisador.

Na opinião de Zabolotsky, os soldados voluntários que foram para a Ucrânia lutar ao lado dos batalhões de extrema direita podem trazer essas ideias aos seus países de origem, incluindo o Brasil.

“[Os batalhões extremistas] precisam ser tratados de uma maneira mais ampla pela mídia ocidental com objetivo de não permitir que haja uma maior influência desses grupos em um possível cenário pós-conflito.”

Todos querem o fim da guerra

Espanhóis vão às ruas de Madri protestar contra a guerra na Ucrânia
Espanhóis vão às ruas de Madri protestar contra a guerra na Ucrânia Espanhóis vão às ruas de Madri protestar contra a guerra na Ucrânia

Zabolotsky não vê um cenário no qual algum povo deseja a guerra. Entretanto, para o cientista político, é difícil enxergar o fim próximo do conflito, cercado de hostilidades dos dois lados. Para o pesquisador, não há uma vontade real de nenhum dos governos de um cessar-fogo.

“O ideal é que as partes arrefecessem os ânimos, tentassem um diálogo, mas isso é bastante improvável exatamente por causa das disputas, dos antagonismos alimentados nesse conflito.”

Com a dificuldade dos governos para chegar a um acordo, sofre o povo ucraniano, bombardeado diariamente nas cidades do país, mas também os russos, que têm amigos e parentes do outro lado da fronteira.

“[Os russos] estão apreensivos com essa situação, afinal o país está envolvido pela primeira vez nos últimos anos em um conflito ali perto da fronteira, na Ucrânia”, conta Zabolotsky. “Muitos deles têm parentes na Ucrânia, têm amigos na Ucrânia. Muitos ucranianos têm parentes e amigos na Rússia. Esses dois países têm laços familiares, de amizades, muito fortes e desenvolvidos”.

Popularidade de Zelenski cresce no mundo enquanto Putin se fortalece na Rússia

Vladimir Putin (à esq.) e Volodmir Zelenski (à dir.) travam guerra no Leste Europeu
Vladimir Putin (à esq.) e Volodmir Zelenski (à dir.) travam guerra no Leste Europeu Vladimir Putin (à esq.) e Volodmir Zelenski (à dir.) travam guerra no Leste Europeu

Ao mesmo tempo que Volodmir Zelesnki se tornou um símbolo da resistência para o Ocidente, Vladimir Putin não ficou para trás em popularidade na Rússia. Reconhecido por Zabolotsky como figura controversa, o pesquisador acredita que o presidente russo deseja, acima de tudo, a segurança nacional do país.

“Em alguma medida, vejo que Putin busca o interesse nacional da Rússia acima das outras perspectivas. Ele não está preocupado com o cancelamento dele no Ocidente, se o Ocidente vai construir um monstro, já que isso vem sendo construído há anos em uma retórica bastante antiga.”

O cientista político adverte que caso Putin permitisse que a Ucrânia aderisse à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), isso poderia custar o seu cargo no Kremlin com uma provável pressão popular. “Há essa percepção de ameaça da Otan sobretudo quando há essa sensação de cerco dos russos”, conta.

Do outro lado da fronteira, Zabolotsky é crítico à postura de Zelenski, classificando como “problemática em alguns aspectos”. O pesquisador não concorda com as formas como o presidente da Ucrânia inflama a população, inclusive convidando o povo a pegar em armas.

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“Na minha percepção, esse tipo de conduta é um tanto quanto irresponsável, problemática. Porque ao incentivar os civis — muitos deles que nunca sequer pegaram em armas — a lutar contra um exército profissional, isso me parece muito mais um convite ao suicídio do que uma política concreta, sensata, estruturada.”

Segundo o cientista político, de acordo com a Convenção de Genebra, todo civil que pega em armas se torna um soldado para o direito de guerra.

“Isso também fere os direitos dos civis, incentivando esse tipo de conduta, incentivando a população por um discurso, por uma torcida. [...] Isso me parece uma atitude irresponsável do governo Zelenski”, conclui Zabolotsky.

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