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População do Iêmen está prestes a morrer de fome. Literalmente

Portos fechados pioram a situação do povo massacrado pela guerra civil

Internacional|Andrea Miramontes, do R7

Família vive em cabana na cidade portuária do Mar Vermelho, em Hodeida
Família vive em cabana na cidade portuária do Mar Vermelho, em Hodeida Família vive em cabana na cidade portuária do Mar Vermelho, em Hodeida

Com uma guerra civil que já dura dois anos e o bloqueio dos portos, o Iêmen está prestes a ver a crise humanitária, que já matou milhares por desnutrição e doenças como a cólera, se agravar radicalmente.

Para impedir a entrada de armas a opositores do governo, a Arábia Saudita fechou de vez a entrada de qualquer produto no país, incluindo comida e água.

De acordo com o historiador Leon Petta, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, a capital, Saná, já está sem água, e a situação dramática para os iemenitas só tende a piorar.

"A Arábia Saudita quer impedir que os rebeldes recebam armas vindas do Irã. Mas com o fechamendo dos portos, nada entra. A capital [Saná] já ficou sem água, a ajuda de organizações internacionais está muito dificil de entrar no país e, agora, o povo está prestes a ficar sem comida", reforça Leon.

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"Os civis são os que mais sofrem. Nem sempre conseguimos fazer tudo que é necessário"

(Tatiana Chiarella, enfermeira brasileira no Médicos sem Fronteiras)

Como começou o conflito

A guerra civil no país é um reflexo do conflito entre Irã e Arábia Saudita. De forma simples, de um lado está a Arábia Saudita que apoia o exército do governo do Iêmen, e outro, o Irã em apoio aos opositores, houthis, grupo rebelde político-reigioso xiita que quer chegar ao poder.

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Como explica historiador Márcio Scalércio, professor da IRI/PUC-Rio e da Universidade Cândido Mendes, o Iêmen é o país mais pobre da Península Arábica, localizado em um deserto, com eternas brigas tribais e que já foi dividido durante a Guerra Fria, até ser unificado em 1990.

A situação piorou em 2011, durante a Primavera Árabe, que o professor prefere chamar de levante. "Foi uma disputa tribal, na qual os houthis derrubaram o governante na época, Ali Abdullah Saleh. Depois, esse grupo se aliou a esse presidente para derrubar o atual líder, Abd Rabbo Mansour Hadi", reforça Mendes. E a expansão territorial com cidades derrubadas pelos houthis continuou.

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Em março de 2015, após tomar algumas cidades, eles chegaram próximo a Áden, a sede do poder do governo. O presidente Abd Rabbo Mansour Hadi fugiu do Iêmen para a Arábia Saudita, que apoiou o governante com ataques aéreos e bombas, a fim de restaurar o poder.

O bombardeio continua, assim como as mortes e a piora das condições de saúde. As organizações internacionais já consideram o Iêmen como o país com a pior crise humanitária do mundo atual. "Esses conflitos deixam reflexos também no pós-guerra, a fome permanece, e as pessoas continuam morrendo mesmo depois de terminarem as bombas", reforça Scalércio.

De acordo com a ONU, o conflito já fez quase 14 mil vítimas, sedo mais de 5 mil mortos e 8,7 mil feridos. Agora, a guerra também gera reflexos na região, já tensa. "Para piorar, o Daesh (conhecido como Estado Islâmico) está se fortalecendo na região", completa o professor Leon Petta.

Fome, mortes e doenças

Incluindo doentes, mais de 20,7 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária no país, de acordo com a Ocha (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), em dados de setembro de 2017.

Para piorar, das 3.507 istalações de saúde qu existem no país, 1.900 pararam de funcionar por danos, falta de funcionários e de suprimentos. Isso afeta o acesso a tratamentos de saúde de milhões de pessoas.

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A enfermeira brasileira Tatiana Chiarella trabalha há quatro anos na organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ela, que esteve no Iêmen em 2015, no auge da guerra, acabou de voltar de outra missão de ajuda no país.

"Em crises humanitárias, os civis são os que mais sofrem. É muito comovente ajudar essas pessoas e também gera angústia, porque nem sempre conseguimos fazer tudo que é necessário", conta.

Saida Baghili se trata em um hospital do Iêmen, em 2016
Saida Baghili se trata em um hospital do Iêmen, em 2016 Saida Baghili se trata em um hospital do Iêmen, em 2016

A fome agrava dia a dia. De acordo com a ONU, 7 milhões de pessoas passam fome no Iêmen, sendo que 4,5 milhões de crianças, grávidas e mulheres em amamentação foram reportadas como "extremamente desnutridas". 

Em 2016, a jovem Saida Ahmad Baghili virou símbolo da desnutrição no mundo ao aparecer nesta foto chocante ao lado, aos 18 anos, quando estava internada em um Hospital Al-Thawra, em Sanaa, no país.

"Em 2015, no auge da guerra, havia uma ala só para pessoas em profunda desnutrição, e era o lugar mais lotado", conta Tatiana. 

Desde março, o país também passa por uma terrível epidemia de cólera. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no fim de agosto, 575.249 pessoas estavam infectadas, e mais de 2 mil já morreram.

O MSF instalou 22 centros e unidades de tratamento de cólera em nove províncias iemenitas. "Felizmente, agora conseguimos diminuir o número dos afetados e controlar o surto da doença", conta Tatiana.

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