A negociação para saber quem será o primeiro-ministro da Itália continua, apesar de um projeto de governo já ter sido apresentado em conjunto pelas duas maiores coligações do país, o Movimento 5 Estrelas, liderada por Luigi di Maio e a Liga, coordenada por Matteo Salvini. Os dois foram cotados para assumir o cargo, mas estão em busca de um nome que represente os interesses dos dois lados, algo que parece ser difícil. Ainda que não sejam eles a assumir o posto de primeiro-ministro, Di Maio e Salvini são os dois homens que decidem o futuro da Itália.
O resultado fragmentado das eleições legislativas da Itália acabou fazendo com que as duas maiores forças políticas tivessem que se unir para formar o governo.
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Di Maio e seu Movimento 5 Estrelas foram o partido mais bem votado. No entanto, a Liga de Salvini se uniu com o Forza Italia, partido de Silvio Berlusconi e, juntos, eles possuem a maioria, ainda que não absoluta das cadeiras do Parlamento.
O professor de Relações Internacionais da ESPM Demetrius Pereira esclarece que Berlusconi e Salvini juntos teriam o direito de nomear o novo-primeiro ministro do país, mas decidiram fazer um acordo com di Maio.
Mas quem são os dois homens, que após afirmarem por diversas ocasiões que não chegariam a um acordo, estão sentados definindo o futuro da Itália, uma das principais forças políticas e econômicas da Europa?
O anti sistema moderado
Luigi di Maio, 31 anos, é um rosto novo na política italiana. Seu primeiro cargo foi como deputado, em 2013, quando tinha apenas 26 anos e foi o principal candidato do Movimento 5 Estrelas. “Ele veio para contestar o sistema”, define Pereira.
Di Maio tem um posicionamento considerado moderado dentro do seu partido. Apesar de ser bastante crítico em relação a União Europeia, ele não deseja sair do bloco, por exemplo.
Logo em seu primeiro mandato, foi indicado por seu partido, o Movimento 5 Estrelas, para assumir uma das vice-presidências da Câmara dos Deputados do país. Se tornou o político mais jovem a ocupar essa vaga.
Sua influência dentro do partido tem estreita relação com a intimidade que ele tem com o fundador do partido, o comediante Beppe Grillo. Grillo, imediatamente viu em di Maio a imagem que ele gostaria de colocar em seu partido. Ainda atualmente, o jovem político é muitas vezes retratado na mídia italiana como um fantoche de seu mentor comediante, fundador do Movimento 5 Estrelas.
Pereira explica que a principal plataforma do Movimento 5 Estrelas é ser um partido anti sistema, que critica tanto o último governo, de centro-esquerda do PD (Partido Democrático), quanto as propostas de Silvio Berlusconi, líder da centro direita italiana.
Mas di Maio é um moderado dentro da legenda. O Movimento 5 Estrelas defende, por exemplo, a saída da Itália da União Europeia, posicionamento rechaçado por ele.
Para conseguir crescer tanto em tão pouco tempo, o partido sempre apostou em plataformas digitais. Uma estratégia que caiu com uma luva na biografia de Di Maio.
Após abandonar a faculdade pela segunda vez — a primeira tentativa foi engenharia da computação e depois direito — e não concluir nenhum dos cursos, di Maio começou a trabalhar com marketing nas redes sociais e foi assim que entrou para o Movimento 5 Estrelas, atualmente, o maior partido na Itália.
“Ele tem muita ênfase no discurso da democracia e costuma consultar os eleitores na internet”, lembra o professor.
Ex-esquerdista de direita
Matteo Salvini, 45 anos, representa o outro lado dessa disputa pelo poder na Itália.
Assim como di Maio, Salvini iniciou dois cursos na universidade e não terminou nenhum. Ele estudou ciências políticas e história. O líder do Liga iniciou na política no início da década de 1990, quando seu plano de governo era separar a região da Padania, no norte da Itália do restante do país. Ele chegou a integrar uma ala do partido chamada "Comunistas Padanos" nesse período.
No começo dos anos 2000, no entanto, Salvini se aproximou da extrema-direita e abandonou seus ideais separatistas. Teve início uma cruzada pessoal contra a União Europeia. Foi então que ele se afastou de seu cargo como vereador em Milão e se candidatou a uma vaga como eurodeputado. E venceu.
O mandato de Salvini como eurodeputado foi de 2004 a 2006 e ele aproveitou o espaço para fazer críticas à União Europeia e ao euro. Ele chamou a moeda de um “crime contra a humanidade”.
“As críticas de Salvini em relação ao Euro são porque a Itália não pode emitir a própria moeda e nem tem autonomia para controlar a taxa de juros”, destaca Demetrius.
Nas últimas eleições, a Liga foi o segundo partido mais votado, mas graças a uma coalizão com Silvio Berlusconi, a direita e a extrema-direita unidas se tornaram o maior grupo político do país. “O Salvini e o Berlusconi concordaram que quem tivesse mais votos iria representar a centro-direita. Então é o Salvini quem lidera a coalizão”, explica o professor.
Esse acordo, no entanto, freou as ideias mais exaltadas da extrema-direita liderada por Salvini, tanto que o projeto de governo apresentado não traz nenhuma manifestação sobre a saída do bloco ou o abandono à moeda europeia.
Apesar disso, uma das marcas do novo governo deve ser um controle maior sobre a imigração.