Consumado o adeus à União Europeia (UE), o Reino Unido deve agora redefinir suas relações com o resto do mundo, um processo em que a questão mais levantada neste sábado (1) pela imprensa britânica é: o que acontecerá agora?
Os 47 anos da associação britânica ao bloco comunitário chegou ao fim à meia-noite de hoje, com sensações agridoces. Há ainda 11 meses de uma transição incerta pela frente, na qual os dois lados precisam traçar um novo vínculo.
Em artigo publicado hoje no jornal britânico "The Times", o presidente francês, Emmanuel Macron, destaca as dificuldades que os dois ex-parceiros provavelmente encontrarão em suas negociações comerciais.
"É do nosso interesse comum definir uma parceria mais estreita e próxima possível em questões de defesa e segurança e em questões de cooperação policial, judicial, ambiental, científica e cultural", afirmou o presidente.
Ao mesmo tempo Macron alerta que "a facilidade de acesso ao mercado europeu dependerá do grau de aceitação das regras da UE", uma vez que o bloco "não pode permitir que se desenvolva entre nós qualquer concorrência prejudicial".
O deputado conservador Michael Gove - junto com Boris Johnson, um dos arquitetos da campanha a favor de deixar o bloco - destaca no mesmo jornal que "o verdadeiro significado do Brexit é fortalecer a democracia parlamentar" neste país.
O jornal "Financial Times" comenta sobre o tempo que levou para finalmente o Brexit se consumado: "O Reino Unido finalmente corta seus laços com a UE", enquanto quase todos os jornais nacionais fazem a mesma pergunta: "O que vai acontecer agora?"
Já o "The Guardian" emprega, talvez, um tom mais nostálgico, com o título: "O dia em que nos despedimos", e seu editor de economia, Larry Elliott, prevê "o início de uma nova era", em que o país "entra em uma década, potencialmente, de profunda mudança estrutural".
Brexit
O acordo do Brexit ratificado estipula apenas os termos da marcha, embora ainda resolva o futuro relacionamento bilateral, uma falta de concretude que gera incerteza em todos os setores.
Entre outras questões prementes, Londres e Bruxelas terão que construir um novo acordo comercial antes do prazo final desse período de transição, em 31 de dezembro. Mas também devem determinar o grau de acesso que as empresas de serviços financeiros terão neste novo capítulo, definir regulamentos de imigração ou descrever mecanismos de segurança compartilhados.
Onze meses de transição é um período insuficiente para que a UE possa cobrir todos os detalhes do futuro tratado, embora o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tenha avisado que não vai prolongar essa transição.
Leia também
Brexit: O Reino Unido oficialmente deixou a União Europeia — O que acontece agora?
Brexit: o que a União Europeia ganha com a saída do Reino Unido, seu membro incômodo
Reino Unido deixa UE e entra em nebulosa zona de transição
Brexit: o que muda para quem quer visitar, estudar ou trabalhar no Reino Unido após saída da União Europeia
O ex-líder britânico do Brexit, David Davis, disse hoje, em declarações à "BBC Radio 4", que "é possível" forjar um acordo comercial "em apenas 11 meses".
Nos próximos meses, Londres buscará um acordo de livre-comércio que para garantir que as importações e exportações estejam isentas de tarifas.
Johnson também vai querer se desvencilhar do alinhamento com os regulamentos da comunidade, um ponto que deixa a porta aberta para novos controles de fronteira. Mas, além das negociações com os 27, o Reino Unido irá explorar um possível acordo de livre-comércio com os Estados Unidos.
Enquanto isso, o país deve continuar a cumprir os regulamentos da UE e contribuir com o orçamento da comunidade durante esse período de transição. No entanto, não haverá mais eurodeputados britânicos no Parlamento Europeu, nem um assento para o primeiro-ministro nas reuniões de líderes.
Em nível nacional, entre outros planos para essa era pós-Brexit, Johnson irá abolir o Ministério do Brexit em um gesto particularmente simbólico, com o qual lembrará ter cumprido com sucesso sua missão de desvincular o país da União Europeia.