O rompimento das barragens do Fundão e Santarém, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região central de Minas, pode agravar a crise hídrica que atinge boa parte de Minas Gerais. Até sexta-feira (6) eram 126 cidades em situação de emergência pela seca.
O professor Ricardo Coelho, coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios do Departamento de Biologia da UFMG, destaca que "durante essa crise hídrica, a última coisa que a gente deveria discutir agora é o rompimento de barragens. A tendência é que afete o abastecimento das cidades". Moradores das cidades afetadas relatam um cheiro insuportável de material podre por onde passa a corrente de lama que desceu da barragem da Samarco, mineradora controlada pela Vale.
Leia mais notícias de Minas Gerais no Portal R7
Experimente grátis: todos os programas da Record na íntegra no R7 Play
Segundo alerta do CPRM (Serviço Geológico do Brasil), 12 cidades mineiras e três do Espírito Santo podem ser atingidas pela enxurrada de dejetos até terça-feira (10). O volume de água pode atrapalhar a geração de energia em quatro usinas no trajeto e já interrompeu as atividades na usina Risoleta Neves, no Rio Doce. Com o volume forte da enchente de lama tóxica, os sistemas de abastecimento podem ser prejudicados. A (CTGEC) Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce emitiu alerta sobre alterações na qualidade da água e orientou os setores de abastecimento a protegerem instalações de captação durante a passagem da onda por pelo menos quatro horas para evitar transtornos.
O Serviço de Água e Esgoto de Governador Valadares, que atende 270 mil pessoas, avisou que na hora passagem dos rejeitos as bombas serão desligadas dependendo do volume da água. Se não houver condições de tratamento, o abastecimento será suspenso.
Apesar das explicações da Samarcode que a água não oferece risco de contaminação humana, o professor Ricardo Coelho aponta que o líquido proveniente de barragens pode carregar resíduos de metais, óleos e outros sólidos em suspensão. Por prevenção, médicos que atendem vítimas em Mariana aplicam vacinas em quem reclama do contato com a lama.
— Represas que recebem rejeitos de mineração tradicionalmente apresentam problemas com contaminação de metais, nitrogênio, fósforo, óleos, graxas. Elas foram construídas para conter resíduos de atividade industrial, aquilo não é somente enxurrada de água.
Para certificar a qualidade, o promotor do Ministério Público Carlos Eduardo Ferreira Pinto, do Núcleo de Combate a Crimes Ambientais e do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais, destaca que amostras foram colhidas.
— O risco é mínimo em razão do material. Segundo as informações preliminares e técnicas da empresa, seria um material inerte. Nós recolhemos amostra para tirar dúvida se há risco de toxicidade ou não.
Ainda que não cause danos ao ser humano, a enchente já matou milhares de peixes e arrancou toneladas de árvores pelo caminho. "É o maior desastre com barragens do Estado. Como infelizmente no Brasil esperamos acontecer tragédias para tomar providências, espero que force mudanças nas políticas públicas de gestão ambiental de reservatórios", aponta Coelho.