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Os índices de inflação refletem os aumentos de preço?

Como pode inflação de 10% com os preços subindo muito mais que isso? Na verdade, inflação de 10% é muito alta. O MonitoR7 explica.

MonitoR7|Do R7

O IBGE divulgou recentemente o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de setembro. Esse é considerado o índice de inflação oficial do país e foi de 1,16% no mês passado. Considerando o período dos últimos 12 meses (setembro/2020 a setembro/2021), a inflação chegou a 10,25%.

Esses números, muitas vezes, geram reações de descrença em muitas pessoas. Como pode uma inflação de 12 meses ser de 10%, se só em setembro a energia elétrica aumentou mais de 6%, o botijão de gás ficou quase 4% mais caro, o preço do tomate subiu quase 6% e o da batata-doce subiu mais de 20%?

Para entender isso, é preciso saber como os índices de inflação são calculados. O componente mais importante do cálculo é avariação dos preços. Então, pesquisadores dos institutos saem às ruas e vão a feiras, mercados, cabeleireiros, lojas de material de construção e onde mais for preciso para saber qual o preço que estão cobrando por vários produtos e serviços.

Mas como são definidos os preços que serão pesquisados? Aí entra um outro componente importante. A base para os índices de inflação é sempre uma cesta de produtos e serviços que são consumidos pelas famílias da região em que a pesquisa está sendo realizada.

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Para definir essa cesta, periodicamente é realizada a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que pergunta o que as pessoas daquela região consomem e quanto consomem de cada item. E essa composição vai mudando ao longo do tempo, conforme muda o padrão de consumo. Há vinte anos, por exemplo, a conta do telefone celular não era um item importante da cesta. Nos últimos anos, se tornou.

E qual é a importância de cada item dessa cesta de produtos para o orçamento das famílias? É outro componente do cálculo da inflação que a POF define: o peso de cada item no orçamento familiar. Além de saber o que as pessoas compram, a POF investiga o quanto elas gastam com cada item.

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Se uma família mora de aluguel, por exemplo, normalmente esse é um item que consome boa parte da renda. Por isso, o aluguel tem peso alto para aquelas famílias. Se há muitas famílias com esse perfil naquela região, o aluguel passa a ter peso alto no índice de inflação calculado ali.

Na pesquisa do IPCA, por exemplo, o preço do feijão-preto tem um peso alto no cálculo da inflação do Rio de Janeiro (0,3585), porque ele é muito consumido por lá. No cálculo da inflação de Curitiba, esse item tem um peso menor (0,1114). E no cálculo de São Paulo, esse item nem é considerado, porque o produto é pouco consumido no estado. Ali, tem peso o preço do feijão carioca ou rajado (0,1934).

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Então, aqueles pesquisadores que citamos vão para as ruas pesquisar o preço dos produtos que as famílias da região consomem. Aí, com os preços atuais nas mãos, eles comparam com os preços do período anterior (semana, mês ou ano). E calculam quanto o preço aumentou ou diminuiu no período.

Esses aumentos ou quedas nos preços são considerados no cálculo de acordo com o peso de cada produto. No exemplo que demos acima, se o preço do feijão-preto subiu muito, terá um impacto maior na inflação do Rio de Janeiro. O impacto será menor na inflação de Curitiba. E não terá nenhum impacto na inflação de São Paulo.

A batata-doce, que ficou mais de 20% mais cara em setembro, por exemplo, teve um impacto pequeno no IPCA, porque esse é um produto pouco consumido por quase todas as famílias. Já o preço da energia elétrica é um item importante no orçamento de quase todo mundo. Por isso, foi o item que teve o maior impacto na inflação do mês.

Então, o cálculo da inflação é feito com dados sobre a variação dos preços de uma cesta de produtos consumidos pelas famílias, de acordo com o peso de cada item no orçamento dessas famílias. O resultado vai refletir quanto a renda das famílias consegue comprar. Se a inflação aumenta 10% no ano, por exemplo, quer dizer que a renda daquelas famílias consegue comprar 10% menos do que conseguia comprar no ano anterior. É um grande impacto sobre a renda.

O coordenador da pesquisa do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Guilherme Moreira, explica que, em situações assim, a família precisa necessariamente receber uma correção na sua renda, para “continuar comprando a mesma quantidade de bens e serviços que comprava no início do ano”.

Para quem é mais jovem é difícil imaginar, mas os brasileiros já enfrentaram inflação de 80% ao mês. Isso significava que assim que recebiam o salário, seus pais ou avós saíam correndo para fazer as compras da casa, porque em um mês aquele dinheiro já tinha perdido 80% do seu poder de compra. Se os salários não fossem aumentados todos os meses, como ocorria na época, no mês seguinte as famílias não conseguiriam sobreviver.

Ou seja, a inflação tem um grande poder de impactar a vida das pessoas. E se há fatores naturais que influenciam os aumentos de preço (e, por consequência, a inflação), como seca ou chuva excessiva em áreas de agricultura, há muitos fatores também que dependem dos gestores públicos. Como a variação dos juros ou do câmbio.

A cotação do dólar no Brasil, por exemplo, varia, entre outros fatores, de acordo com a confiança que a gestão da economia brasileira desperta fora do país. Se não confiam na evolução da economia brasileira, investidores não vão colocar seus dólares no Brasil. Durante a gestão do ministro Paulo Guedes, o valor do dólar aumentou ao menos 40% no Brasil.

O coordenador do IPC-Fipe e professor da USP Guilherme Moreira explica o impacto disso na inflação: “Quando o real perde valor, muitos preços aqui no Brasil sobem, pois são afetados por essa cotação, aumentando assim a inflação” declara Moreira.

Os índices de inflação, portanto, refletem os aumentos de preço registrados no dia a dia das famílias (e as quedas também). Mas eles são uma média dessa variação, baseada numa média do padrão de consumo das famílias. Portanto, nunca vão mostrar fielmente como os preços impactaram o orçamento de cada família isolada. Na verdade, cada família tem a "sua" inflação. 

Os índices, no entanto, são uma ótima ferramenta para mostrar o reflexo do aumento de preços na renda média das famílias. E indicam quando a economia está sofrendo com desequilíbrios que podem impactar a qualidade de vida e até a sobrevivência das famílias mais vulneráveis de um país. E quando a economia do país precisa de mudanças para não correr o risco de enfrentar situações que pareciam já estar no passado.

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