A gente não quer só comida
Minas se destaca pela gastronomia, cultura e natureza, mas perde dinheiro e prestígio por não tratar seus principais atrativos com o cuidado que merecem
Eduardo Costa|Eduardo Costa
Provavelmente, metade dos mineiros já sabe da descoberta de falsificação, em Belo Horizonte, da famosa cachaça Havana. Não duvido que só a metade dessas pessoas sabe da realização, nestes mesmos dias, do Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Para o produto e o evento não muda muito pois, afinal, ambos são sucesso garantido de público.
Mas, por que o cronista liga os dois assuntos? Para chamar a atenção do quanto Minas Gerais perde de dinheiro e prestígio por não tratar seus principais atrativos com o respeito, o cuidado e a sensatez que merecem.
Primeiro, falemos sobre Havana. Ora, muitos ainda acham que a cachaça, genuinamente nacional, ainda é só aquela invenção de escravos que, percebendo o caldo resultante da moagem e fervura da cana, na produção do açúcar, experimentaram e passaram a trabalhar mais animados. Não, a nossa caninha saiu da senzala, passou pela roça, ganhou os ambientes chiques brasileiros e, finalmente, atravessou oceanos, sendo apreciada por todo o mundo. Quanto vale? Vá à internet e pesquise: você vai descobrir que uma garrafa de Havana pode ser vendida por 3 mil reais.
Agora, o festival. Depois de duas décadas, deixou de ser realizado em agosto, mas, não podia abandonar Tiradentes e muito menos os amantes da boa comida. Resultado: misturou virtual com presencial, deixou de ser “em Tiradentes” para ser em benefício da cidade e, como sempre, sucesso absoluto. Seu coordenador, Rodrigo Ferraz, é uma dessas pessoas que não conhecem obstáculos; recentemente, fez no mundo virtual um evento de seu “Fartura” e ultrapassou todas as expectativas. Agora, incluiu o “cultura” no nome e levou o festival para outros estados. Isso mesmo. Quem mora em Porto Alegre pede o prato executado na “live” e recebe em casa.
Pergunto, caro leitor: já imaginou o quanto Minas poderia ganhar se juntasse esforços, nos vários níveis de governo, estimulando congressos e seminários na capital, permitindo, paralelamente, aos participantes e acompanhantes conhecer as nossas cidades históricas, nossa tradição religiosa, nossa beleza natural? Tudo isso combinado com tutu à mineira, frango ao molho pardo e nossa melhor cachaça? Imagina a cadeia econômica, o faturamento, a geração de empregos, a segurança que ruas cheias garantem, a felicidade do encontro... Afinal, como diz o Rodrigo Ferraz quando corre o mundo divulgando nossa mesa, não se sabe se a nossa comida é melhor, mas, com certeza, o melhor lugar para comer é em Minas Gerais.
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