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Esperança na Câmara Municipal

Novos vereadores eleitos ocupam a Câmara Municipal de BH em janeiro de 2021; Diversidade de perfis levanta pautas divergentes

Eduardo Costa|Do R7 e Eduardo Costa

Câmara Municipal Belo Horizonte, vereadores BH
Câmara Municipal Belo Horizonte, vereadores BH Câmara Municipal Belo Horizonte, vereadores BH

Agora que as festas passaram, é hora de trabalhar e manifesto aqui esperança de que teremos vereadores de melhor nível que os das últimas legislaturas. Quando cobria o dia a dia da Câmara da capital, assistia a debates de pessoas de ideologias diferentes, mas, dignas de muito respeito por suas convicções. Alguns exemplos? Patrus Ananias, Sérgio Miranda, José Lincoln Magalhães, Helena Greco, Arutana Cobério... Tinha de tudo um pouco – comunista, defensor do mercado imobiliário, ex-guerrilheiro, defensora ferrenha dos direitos humanos quando o tema não era popular... O pau quebrava, mas, era lindo, construtivo, melhorava a cidade.

De duas décadas para cá o nível caiu muito e a recém encerrada legislatura foi paupérrima. Por posturas conservadoras inacreditáveis, arroubos progressistas agressivos, até as chamadas vias de fato. E, no meio da confusão, vereadores cassados, presos, acusados... Horror. Aliás, mais do que nunca parecia, de fato, a Casa do Espanto.

Mas, graças à bendita urna, temos motivos para esperançar. Temos 11 mulheres, vários líderes comunitários, um marceneiro que trocou a loucura da torcida organizada pela proteção dos animais; temos, acima de tudo, diversidade. E não há nada mais interessante em uma casa legislativa que vozes divergentes, sonhos múltiplos, visões diferentes da mesma cidade.

Pensem na grandeza do que fizeram os eleitores colocando lá, para fazer nossas leis e vigiar a decência, uma mulher trans, ou seja, alguém que nasceu num corpo que não combinava com o seu Ser e, depois de vencer todos os obstáculos, quebrar todos os tabus e ensinar em um dos colégios mais renomados do Brasil agora chega à Câmara com quase 38 mil votos.

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Eu não tenho a pretensão de convencer você que continua do mundo do homem e da mulher a mudar de opinião. Só peço, de coração, o respeito que todos os eleitos merecem, especialmente Duda Salabert. Não votei nela; aliás, devo confessar que pedi a uma das filhas a ficar com o outro candidato, argumentando que ela já estava eleita. Duda é uma evangélica que sofre com a usurpação da narrativa cristã por pessoas intolerantes. Ela luta há décadas por transexuais que não têm direito ao sol, não vão comprar pão de manhã na padaria ou são vistos no ponto de ônibus à tarde... São vistos nas madrugadas, nas esquinas que conquistaram a duras penas, quase sempre prostituindo porque não lhe damos oportunidade de fazer outra coisa.

Os trans, como Duda, morrem normalmente na metade da média nacional, aos 35 anos, quase sempre com violência inenarrável. Fora Duda, travesti famoso em Belo Horizonte só Cintura Fina que, meio século atrás, tinha de usar a navalha para defender oprimidos como ele. É um baita avanço levar Duda e outras 23 pessoas diferentes para a Câmara pela primeira vez. E antes que pessimistas digam coisa do tipo “agora só vão falar de LGBT na Câmara”, saibam que as principais bandeiras de Duda são educação e meio ambiente. Alguém que conhece nossas enchentes e nossa educação básica em queda discorda?

Bom trabalho, menos escândalo e mais decência na Câmara.

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