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Necessidade, moda e esconderijo de quem somos

Sempre fomos mascarados e, de forma concreta, assim continuaremos a vida

Eduardo Olimpio|Do R7

Cada dia mais vamos esbarrar nas ruas com este novo elemento a cobrir a pele humana
Cada dia mais vamos esbarrar nas ruas com este novo elemento a cobrir a pele humana Cada dia mais vamos esbarrar nas ruas com este novo elemento a cobrir a pele humana

O biquini, como o conhecemos e suas variadíssimas formas, cores e texturas, quando começou a ser usado (pois ousado sempre foi a cada época, como também é certo que tinha outro nome e função) cerca de 3 séculos antes de Cristo, provavelmente servia para mascarar as partes femininas que, historicamente, sempre foram ‘acusadas’ de provocar alguns entorses no mundo masculino. Na sua versão moderna, dos anos 1940, virou traje para ir à praia e piscina sem nunca ter deixado de lado uma natural ousadia e, de carona, ajudou a compor a personalidade de quem o usa desde então.

Seja por necessidade, pura inspiração ou ‘na falta do que fazer’, criações de roupas e adereços obedecem a algum critério do seu tempo e assim acontece com equipamentos de segurança individual que vestem os humanos e os protegem de situações ou ambientes que demandam a precaução; têxteis, polímeros... é a química como um todo a salvaguardar a vida dos trabalhadores.

Não era assim desde a 1ª Revolução Industrial no final do século 18, mas a modernidade mostrou e provou que na indústria em geral, na construção civil, nos serviços, na condução de máquinas automotivas, etc, a utilização em larga escala e já assimilada de EPIs entrou de vez nas linhas de produção e fez a diferença entre a vida e a morte. É um ganho, apesar de segmentos do capitalismo que ainda exploram o trabalho alheio como se estivessem na aurora desumanizada da máquina à vapor (carvoarias, garimpos, oficinas de costura, olarias, canaviais, entre outras atividades econômicas). E vieram para ficar, prolongando a existência de quem, de fato, produz.

Tudo isso para chegarmos agora em que, além das ‘linhas de produção’ de artefatos de saúde, as máscaras tomam o cotidiano e nos ‘roubam’ a metade de nossas caras nos deixando órfãos de alguma vaidade a fim de, num coletivo de novos comportamentos diários, nos ajudar a sobreviver. Por ora, adeus batons ‘gliterizados’ de cores vivas que cruzamos pelas calçadas e elevadores. Por ora, adeus bigodinhos, sorrisos perfeitos ou carentes de dentes, cicatrizes nas bochechas e queixos, e cantos de boca cortados, ou roxos e machucados pela violência.

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A moda imperiosa outono-inverno são tecidos e demais elementos filtrantes específicos e brancos, até ontem nas vitrines quase que exclusivas de unidades de saúde a vestirem modelos profissionais do setor. Além desta pura cor, hoje (ou será para sempre?) as estampas coloridas, desenhadas e em formatos e materiais diferentes tomam as ruas das cidades grandes, médias e logo nas pequenas também, e serão parte do corpo da gente por tempo indeterminado. Olhando para trás, lembro de ter visto por anos populações de cidades industriais asiáticas perambulando entre ruas e avenidas portando máscaras de rosto para minimizar efeitos da poluição do entorno. Pareciam cenas fortes demais aos ocidentais, como se não estivéssemos no mesmo ecossistema planetário.

No presente e futuro, cada dia mais vamos esbarrar nas ruas com este novo elemento a cobrir a pele humana, que nos dará um primeiro aceno de personalidade com os olhos em destaque para os quais retribuiremos um eventual cumprimento, (re)aprendendo a ‘ler’ mensagens que a boca deixará de fazer de imediato. E, pelas máscaras, tentaremos acessar a autodeterminação, a moda, a tribo, a personagem atrás deste figurino, a sobrevivência física e psíquica de todos.

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