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Terra molhada, mas firme para morar! 

A natureza não sabe a dor que causa quando soterra pessoas, mas nós sabemos 

Eduardo Olimpio|Do R7

Escrever sobre as dezenas de mortes ocorridas na Baixada Santista há uma semana é se meter na lama da negligência e de toneladas de terra que caíram sobre casas que não deveriam estar onde estavam.

Ocorre que não foram só a terra, as pedras e a vegetação que desabaram em cima dos lares e seus moradores, até então vivos. Também não foram únicas na história as cenas mostradas na televisão acerca desse triste acontecimento; outras encostas brasileiras derreteram, quase que num rodízio macabro, mostrando que residências luxuosas e casebres mal rebocados deitaram suas alvenarias por não suportarem o peso do terreno inclinado cheio de água somado a condições geológicas de seus entornos.

Voluntários ajudam os bombeiros no Guarujá, litoral de São Paulo
Voluntários ajudam os bombeiros no Guarujá, litoral de São Paulo Voluntários ajudam os bombeiros no Guarujá, litoral de São Paulo

Desde que o Homem começou a perceber que esse negócio de morar em caverna úmida e gélida não estava com nada, multiplicaram-se formas de se viver abrigado das chuvas, do sol, do vento, dos animais selvagens e de tudo que lhe afetava ou colocava sua vida em risco (até de outras pessoas!). E depois que ‘cansou’ de coletar alimento do ambiente e flechar animais para garantir carne e pele, começou a se fixar no chão e, neste, semear grãos, o que mudou tudo na relação do homem com a terra.

Dando um salto enorme no tempo, aqui chegamos, vivendo em povoados ou em megalópoles, habitando algum tipo de casa que nos proporciona – ou deveria proporcionar – segurança física, tornando-se o tal porto seguro onde a vida familiar se desenvolve.

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O problema é que nem todo mundo tem o direito — mas na palavra da Constituição Federal tem — a esse bem social e os governos, com mais ou menos esforços, deveriam proporcionar a casa própria por meio de políticas públicas de habitação. Da falta destas, construir o cantinho de cada um por vias próprias e invariavelmente sem as técnicas consolidadas de construção, é um pulo.

Não é de hoje, nem de ontem, que o que acaba acontecendo é a ocupação irregular de pedaços do terreno público. Isso inclui fixar quatro estacas na beira d´água e sobre elas pregar chapas e tábuas de madeira e fazer disso um lar ou capinar o mato das encostas de morros e apoiar neles estacas, ferro, tijolo, bloco e cimento para erguer ali um lugar de morar.

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O que a sociedade precisa estancar não é a chuva em quantidade de milímetros muito acima das que costumava cair antes. Dominar algumas das forças da natureza até que aquele Homem que saiu das grutas conseguiu. Estão aí as gigantescas represas artificiais de geração de energia hidrelétrica e as barragens de resíduos do extrativismo mineral.

No entanto, sabemos que nem tudo no planeta é passível de domesticação quando estão em jogo erupções vulcânicas, terremotos, tsunamis, furacões ou mesmo enchentes espontâneas, como as do pantanal mato-grossense, por exemplo, e em mangues.

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Descontando as cheias naturais, todas as variáveis citadas são tragédias, ou podem se tornar tragédias, à medida que matam, machucam e destroem as infraestruturas urbanas ou marítimas sem que quase nada possamos fazer para evitá-las. A palavra drama, que uma significativa parte da imprensa toma emprestada equivocadamente para descrever o cenário de horror de uma enchente urbana por falta de planejamento, não deveria ser usada em situações como a descrita, pois o termo engloba tudo o que poderia ser evitável pelas mãos e ações da autoridade pública.

E quem ocupa temporariamente o cargo que exerce a autoridade pública? Até inventarmos um robô que não seja totalitário com Inteligência Artificial acima do permissível, por certo é um descendente daquele ex-morador dos ocos das rochas.

Somos todos uma família que vive na mesma casa, no mesmo planeta...e muitos ainda em cavernas, físicas ou eticamente gélidas.

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