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Um militar como vice

Heródoto Barbeiro|Do R7

Há uma acirrada disputa pela presidência da república. De um lado um militar do exército e de outro um representante dos civis. Os eleitores estão divididos e não se sabe quem vai ganhar a eleição. Os jornalistas que cobrem o pleito dão amplo destaque para as propostas dos candidatos que têm plataformas divergentes sobre as melhores soluções para consolidar a democracia no Brasil. Há fortes boatos que se o militar não vencer o país pode assistir a um golpe de estado e a implantação de uma ditadura. A disputa é acompanhada pelas elites nacionais uma vez que a população em geral não tem acesso aos jogos dos bastidores das campanhas e das articulações que se desenvolvem no Congresso Nacional. A maioria dos deputados e senadores é oriunda das áreas rurais e representa o agro negócio, a principal atividade do Brasil e responsável pela balança comercial frágil. A esperança dos políticos recém eleitos são as reformas que dormem nos escaninhos do poder legislativo como a da justiça criminal e do incentivo às atividades comerciais que atrapalham os exportadores das commodities agrícolas. O governo anterior é acusado sistematicamente de impedir as reformas e o desenvolvimento nacional. Boa parte dos debates do Congresso é a fórmula pela qual se quer modernizar a economia.

A república vive uma crise econômica e financeira. Os esforços para se implantar uma estrutura industrial levam a uma bancarrota geral. A inflação come solta, a moeda brasileira está fortemente desvalorizada ante as moedas internacionais e com isso os produtos importados sobem assustadoramente de preço. As empresas abertas com incentivo governamental, em sua maioria, existem apenas nos papéis negociados na bolsa de valores da capital do Brasil A maioria delas existe apenas no papel, nos registros públicos e na burocracia governamental. A descoberta pelos investidores que tais empreendimentos só existem na propaganda, provoca uma grande corrida aos bancos e promove a venda desesperada das ações dessas empresas recém criadas. O resultado é uma perda rápida e acentuada do valor das ações na bolsa e muitos investidores tomam consciência que perderam o dinheiro investido. Acusam o ministro da economia de criar uma fantasia que é possível tornar o Brasil um país industrial com o apoio do chefe de governo e de parte da mídia. Isso agrava o embate político entre os pretendentes a ocupar a presidência da república por 4 anos, de acordo com a jovem constituição. Há ameaças de confronto entre os partidos e setores militares que acusam os políticos de querer restaurar a velha ordem onde pontifica o domínio das oligarquias regionais.

Chega-se a um consenso que a eleição do presidente e do vice seria individual e não através de uma chapa completa constituída de um titular e um vice. Com isso se corre o risco de ter no mesmo governo dois adversários, o que é tudo o que a nação não precisa neste momento de consolidação de um governo republicano. Contudo há uma forte influência do pensamento positivista, sobretudo no exército, o responsável pela derrubada do governo anterior e a implantação de uma república federalista e do voto universal masculino. Não se cogita em estender esse direito às mulheres. O oligarca Prudente de Morais tem o apoio dos cafeicultores dos estados mais fortes, São Paulo e Minas Gerais. Os militares apostam no chefe do poder provisório da república, Deodoro da Fonseca. Entre as ameaças de rompimento das regras do jogo estabelecidas pela constituição, o militar tem mais da metade dos votos no Congresso. Derrota Prudente de Morais. Em terceiro lugar aparece o nome de outro representante do exército Floriano Peixoto, a quem cabe a vice presidência da república. Os dois militares são rivais, mas não divergem sobre a tese que o poder executivo deve prevalecer nos rumos do país e o legislativo não deve interferir nos planos de governo. A reação dos derrotados está encastelada no Congresso, unida para pôr limites aos desejos autoritários de Deodoro e fazê-lo cumprir a primeira constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Mais uma vez os jornalistas apontam para uma crise sem saída democrática. Há articulações nos quartéis do Rio de Janeiro para que Deodoro dê um golpe e se torne o primeiro ditador republicano da história.

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