Bolsonaro em setembro de 2020 cercado por políticos e militares
Marcos Corrêa/PR - 01.09.2020Com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) confirmado na Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro devolve a pasta para um civil depois de um ano e cinco meses sob o comando militar, e com isso, tem o desafio de reequilibrar os núcleos político e militar dentro do Palácio do Planalto.
Eleito em 2018 com uma aliança de ocasião com o PSL, e sem, portanto, uma base política forte, Bolsonaro inaugurou um novo presidencialismo de coalizão. Sem inicialmente formar uma base aliada no Congresso, montou três núcleos de sustentação: o militar, o ideológico e o político. E o jogo de forças entre esses três núcleos foi mudando ao longo da gestão, com o ideológico atualmente praticamente fora do governo.
A ida de um senador do maior aliado no Congresso, o PP, para a Casa Civil, pasta que coordena nas ações do governo, inclusive de outros ministérios, retira um espaço importante ocupado pelos militares, que tem nesse momento a menor "fatia" desde o início da gestão Bolsonaro. Não foi por acaso que ontem o presidente, pressionado pela ala militar, cogitou manter a Casa Civil com o general Luiz Eduardo Ramos e entregar a Ciro Nogueira a esvaziada Secretaria Geral, conforme informou o Blog do Nolasco.
A tentativa não deu certo porque o governo Bolsonaro depende mais nesse momento da aliança com o PP, que claro, não aceitaria o "rebaixamento". Desde que Bolsonaro entendeu que não terminaria o mandato sem uma base aliada no Congresso e formou a aliança que elegeu Arthur Lira (PP-AL) na Câmara, tem conseguido aprovar projetos considerados prioritários no Congresso, como autonomia do BC, lei do gás, fim dos supersalários, e mais importante, barrar as centenas de pedidos de impeachment que repousam sobre a mesa de Lira.
A aliança chegou a ficar em risco na semana passada com uma insatistação enorme dentro do PP após a declaração de Bolsonaro de vetar o fundão eleitoral, e ter jogado a responsabilidade da aprovação no colo do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), aliado de Lira, além da repercussão das supostas ameaças do general Braga Netto sobre as eleições sem voto impresso.
Bolsonaro precisou dar mais espaço para o seu núcleo político. Agora os militares, que se resumem a Ramos, Braga Netto e general Heleno, devem tentar reconquistar espaço, ou, caso não consigam, se afastar ainda mais do governo Bolsonaro. O núcleo militar enfrenta ainda os desdobramentos da polêmica passagem do general Pazuello pelo Ministério da Saúde.
A gestão já perdeu o general Santos Cruz, atual porta-voz da insatisfação militar com o governo, o general Fernando Azevedo e Silva, que pediu para sair da Defesa levando os comandantes das Forças, e o general Mourão, que permanece na vice mas deve seguir um projeto político solo em 2022.
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