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'Espero que coronavírus nos deixe com novo Iluminismo', diz Tabata

Deputada federal pelo PDT-SP idealiza a sociedade pós-pandemia, avalia as medidas tomadas pelo Ministério da Saúde e defende ações do Congresso

R7 Planalto|Plínio Aguiar e Mariana Londres, do R7

'Espero que coronavírus nos deixe com novo Iluminismo', diz Tabata
'Espero que coronavírus nos deixe com novo Iluminismo', diz Tabata 'Espero que coronavírus nos deixe com novo Iluminismo', diz Tabata

A narrativa de que a educação transforma vidas é lembrada diversas vezes por Tabata Amaral (PDT), eleita a sexta deputada federal mais votada em 2018 por São Paulo, com 264.450 votos. E é, obviamente, nessa área que a parlamentar projeta a esperança num mundo pós-pandemia do novo coronavírus.

“Eu espero que o coronavírus nos deixe com um novo Iluminismo, de valorização da ciência, do conhecimento, da educação”, afirma a deputada, que viu a própria vida transformada pela educação, em entrevista ao R7 Planalto.

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“A pandemia vem mostrando que a ciência salva vidas. Por alguma razão, a gente chegou num ponto em que as pessoas valorizam a ignorância, em ter alguém que esbraveja as ignorâncias como bonito, enquanto os cientistas estão cada vez menos valorizados, as bolsas de pesquisa, cortadas.”

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O Iluminismo surgiu no século XVIII na Europa e defendia o uso da razão, pregava liberdade econômica e política, criticava os privilégios da nobreza e estimulava o conhecimento. “Esse é o meu maior sonho. De voltar a entender o valor da educação, da ciência, porque eu tenho certeza que vamos mudar muito a rota e a forma com quem a gente vem tratando a educação no Brasil”, diz.

A doença que impulsiona o debate sobre o mundo pós-pandemia já causou 1.532 mortes no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados na terça-feira (14). O país tem, ao todo, 25.262 casos confirmados de coronavírus. Os números, no entanto, podem ser ainda maiores uma vez que há subnotificação, apontam críticos.

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No Brasil, o rosto à frente da covid-19 é o de Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, o qual tem recebido afagos da deputada Amaral. “Ele tem feito um bom trabalho. Muitas vezes, eu imagino que seja muito difícil fazer esse bom trabalho quando o líder máximo da nação continua dizendo que é só uma gripezinha”.

“Se a gente não tiver prefeitos, governadores e o presidente entendendo que essa é uma crise humanitária gigantesca e que todo mundo tem que trabalhar coordenado, é como se todo o esforço que a gente coloca tivesse uma perda de energia. E, nesse momento, não dá para desperdiçar nenhum recurso e nenhum tempo”, argumenta.

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Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista com a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP):

- O Brasil tem mais de 1.000 mortes por covid-19 e mais de 20 mil casos confirmados. O ministro da Saúde tem feito um bom trabalho? E o governo federal?

O ministro da Saúde tem feito sim um bom trabalho. Muitas vezes, imagino que seja muito difícil fazer esse bom trabalho quando o líder máximo da nação continua dizendo que é só uma gripezinha, que as pessoas devem ir às ruas, ele mesmo vai e incentiva esse tipo de manifestação, e aí como o próprio ministro Mandetta disse ser muito complicado porque as pessoas não sabem se ouvem o presidente ou o ministro.

A minha experiência é que a gente viu mundo afora alguns presidentes demoraram a ter uma resposta em relação ao coronavírus – isso aconteceu com (Donald) Trump, Boris Johnson, e de certa forma uma demora na Itália. Todos eles quando viram a gravidade da crise voltaram atrás. O prefeito de Milão pediu desculpas. Não acho que o Trump tenha feito isso, mas mudou o discurso. Eles mudaram, é o que importa.

A gente está começando a ver os primeiros hospitais colapsando no Brasil. Estamos perto dessa realidade, que é a mais triste para mim, de negar assistência a algumas pessoas. Fazer escolhas sobre quais pacientes serão tratados. Eu espero do fundo do meu coração que quando isso acontecer, e infelizmente vai acontecer no Brasil, que o Bolsonaro volte atrás. Eu não vou estar em busca de que ele peça desculpas, mas se ele fizer igual ao Trump, de mudar o discurso, já está bom.

Se a gente não tiver prefeitos, governadores e o presidente entendendo que essa é uma crise humanitária gigantesca e todo mundo tem que trabalhar coordenado, é como se todo o esforço que a gente coloca tivesse uma perda de energia. E, nesse momento, não dá para desperdiçar nenhum recurso e nenhum tempo.

- Após a pandemia, como garantir que a Educação, sua principal bandeira, não fique ainda mais negligenciada nesse cenário?

É a dificuldade de sempre. A pandemia escancarou algumas das nossas fragilidades. Ela também escancarou o que significa morar num país em que se tem 13 milhões na extrema pobreza, que quase metade da população não tem saneamento básico, então, algumas mazelas vieram mais à tona.

Quando a gente fala de educação, como ativista pela educação e como alguém que conheceu na pele o poder que ela tem de transformar vidas, eu acho que não é diferente. A pandemia vem mostrando, por exemplo, que a ciência salva vidas. Por alguma razão, a gente chegou num ponto em que as pessoas valorizaram a ignorância, em ter alguém que esbravejava as ignorâncias como bonito, enquanto os cientistas estavam cada vez mens valorizados, as bolsas de pesquisa, cortadas.

Eu espero que o coronavírus nos deixe com um novo Iluminismo, de valorização da ciência, do conhecimento, da educação. A gente está vendo que nessa hora o achismo e a opinião matam e desinformam. Eu espero que a gente chegue num momento em que queiramos líderes políticos preparados. O meu maior sonho é esse, voltar a entender o valor da educação, da ciência, porque eu tenho certeza que vamos mudar muito a rota e a forma com que a gente vem tratando a educação no brasil.

Parlamentar foi eleita pelo Estado de São Paulo com 264.450 votos
Parlamentar foi eleita pelo Estado de São Paulo com 264.450 votos Parlamentar foi eleita pelo Estado de São Paulo com 264.450 votos

- O plano de socorro aos Estados será votado nesta segunda (13) na Câmara dos Deputados. Qual será seu voto? Críticos defendem que o socorro não irá resultar numa responsabilidade fiscal – a senhora concorda?

Eu vou votar favorável ao projeto e eu acho que vale dizer porque muitas pessoas estavam com essa preocupação de que o texto que iremos votar hoje é muito diferente do texto inicial. A gente sabe que são os estados e municípios que tem capacidade de chegar nas pessoas. E o que muita gente sempre repete: as pessoas moram nos municípios, não no governo federal. Será uma medida importante, e o novo texto sanou as preocupações existentes e ficou muito bom.

Inclusive na minha avaliação, o governo tem sido muito lento. Tanto na assistência as pessoas mais vulneráveis, com a implementação da renda básica que poderia ter vindo antes; quando a gente fala do auxílio as micro e pequenas empresas, também é uma resposta que está vindo muito devagar.

É muito importante que nesse momento a gente dê uma pausa, vire a chavinha e entenda se a gente não estender as mãos para socorrer os mais vulneráveis, e muitas pessoas voltaram a passar fome com a pandemia, se não estender as mãos aos microempreendores e pequenas empresas, vai ser muito mais difícil a recuperação econômica depois da pandemia.

Está bem consolidado que as pessoas que responderam mais rápido à crise, olhando para pandemias passadas, socorrendo os mais vulneráveis, segurando ao máximo o número de empregos e respeitando o isolamento, esses países tiverem muito mais chance de se recuperar quando a crise passou. Então, esse momento é que lideranças tem que liderar e a gente tem que tomar medidas firmes e rápidas.

- Há uma pressão para que o auxílio emergencial de R$ 600 seja transformado em um programa de renda mínima. Como você analisa essa questão?

Sim e é importante falar sobre o futuro. É a maior crise que o nosso país está enfrentando, de longe. E quando a gente fala sobre um pós-pandemia, eu acho que a renda mínima veio para ficar. É uma das poucas discussões que você economistas, de direita e esquerda, defendendo por razões diferentes. 

- O projeto 183, que taxa grandes fortunas, está pronto para ser votado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, mas essa discussão ocorre também na Câmara. Parlamentares de oposição ao governo federal têm defendido a medida como uma das ações de enfrentamento ao coronavírus – esse dinheiro seria destinado, por exemplo, a Saúde. A senhora concorda?

Sim, eu concordo, mas acho importante dizer que tem vários textos circulando, tanto na Câmara quanto no Senado. É um momento que toda a população deve fazer sacrífico e uma coisa que eu venho dizendo é que nem a pandemia conseguiu colocar a gente no mesmo barco. Algumas pessoas estão sofrendo muito mais do que outras.

Há maneiras e maneiras de taxar grandes fortunas. É uma expressão que diz muita coisa e ao mesmo tempo não diz nada. Temos que ter cuidado na hora de fazer esse desenho para não ter fuga de capital. Uma delas é a taxação de patrimônio – bens luxuosos, iates e coisas do tipo, tem um trabalho muito grande a ser feito por que, de fato, taxamos bem menos que outros países. Outro ponto é a taxação de herança.

E aí uma medida de médio-longo prazo é que a gente tenha coragem de falar numa reforma tributária não só de simplificar tributos, mas que torne o nosso sistema mais progressivo. Uma medida específica é a diminuição da taxação sobre pessoas jurídicas e compensar, não aumentar, taxando dividendos. Esse é o momento em que você não quer taxar empresas, que empregam e podem investir, mas por que não taxar menos as empresas e sim os dividendos, que é algo que não se faz no Brasil?

Eu concordo com a ideia de taxar grandes fortunas, mas é um trabalho sério. A minha preocupação é que a gente faça uma coisa que soe bonitos nos jornais, mas na prática só gere fuga de capital.

- O coronavírus será usado também para rever os nossos hábitos e provocar mudanças comportamentais na população? De que forma o coronavírus pode impactar a política?

Sinceramente eu acho que esse é um processo que começou lá em 2013 e está longe de acabar. Hoje eu não gosto dessa expressão de velha e nova política. Existe a boa e má política. Tem muita gente que se elegeu agora com práticas mais velhas que minha tataravó enquanto tem muita gente há um tempão e fazendo trabalho sério. A boa política é pautada em evidência, em fatos, em dados, em números, pela ciência. É menos pautada nas grandes fake news, e sim nas duras verdades. Eu gosto de pensar, no sentido de esperança, que depois dessa pandemia a gente não aceite que uma liderança pública fale que aquecimento global não existe, por exemplo.

Educação é a principal bandeira de Tabata Amaral
Educação é a principal bandeira de Tabata Amaral Educação é a principal bandeira de Tabata Amaral

- Mas haverá uma mudança no comportamento dos parlamentes?

Isso é mais difícil de dizer. Eu vi uma mudança de postura durante a pandemia e eu espero que pelo menos um pouco dela fique. Por exemplo, a bancada paulista inteira sentou e concordou que todas as emendas seriam para a Saúde. Você vê um movimento na Câmara de focar mais no consensual e no que é urgente. Estou vendo bastante união, bastante gente se preocupando com o que de fato importa, com discursos mais sérios. Isso vai continuar? Não sei. Mas acho que um pouco, pelo menos, fica. Até porque a população cansa.

Por exemplo, nós temos muitas pessoas que recebem acima do teto no serviço público. O teto é o salário de um ministro do STF. Tem pessoas, com penduricalhos, que recebem R$ 100 mil do dinheiro público. Isso é ilegal, a Constituição proíbe, é imoral, tem vários projetos que circulam na Câmara, mas que a gente não consegue colocar na pauta, porque é extremamente impopular. Por causa da pandemia, eu vejo gente falando com seriedade sobre pautar esse projeto. Então, eu vejo vários deputados de várias frentes ideológicas querendo pautar o projeto. É uma mudança que talvez não aconteceria se não fosse a pandemia.

- Em meio à pandemia, como fica a agenda social que a senhora está tocando junto com o deputado federal Felipe Rigoni e com o apoio do presidente Rodrigo Maia?

Uma das coisas que a pandemia mostrou para todo o Brasil é o quanto essa agenda é urgente, e como estaríamos numa situação melhor caso ela já tivesse sido aprovada. A dificuldade no momento é que a agenda social estava na fase das comissões especiais. Como é muito ampla, ao invés de ter uma tramitação comum, foi instalada comissões especiais para analisar cada uma das áreas e agora é o momento mais importante de escutar a sociedade e melhorar os textos.

Estou conversando com os presidentes das comissões especiais a fim de encontrarmos uma maneia de dar continuidade a essas audiências de forma online. A gente não consegue votar os textos sem que isso aconteça, e é bom porque o texto melhora muito nesse processo, mas estou conversando com deputados para a gente tentar usar o aparato que nós estamos usando na plenária da Câmara para fazer as comissões especiais funcionarem.

- A senhora lançou no dia 19 de dezembro de 2019 um projeto para apadrinhar mulheres que pensam em entrar para a política. Quais foram os resultados até então? Quantas mulheres a senhora conseguiu apadrinhar?

Nós tivemos quase 400 mulheres inscritas que vão se candidatar e mais de 1000 voluntários. Depois de muitas entrevistas, conversas, vídeos, etc, nós chegamos a 53 mulheres. E é um grupo bem diverso: quatro participantes que tem deficiência, meninas-mães-avós, de 22 estados, presidentes de ONGs, presidentes de empresas e lideranças comunitárias.

Agora, estamos buscando apoio para essas mulheres. Muitas delas não têm apoio psicológico, então nós estamos atrás de profissionais que topam fazer isso. E agora estamos fazendo uma parte importante do projeto, que é o match dessas mulheres e mentores. Nós temos deputados estaduais, federais, senadores, ativistas, de renome em sua área, que toparam mentorar essas mulheres pelos próximos meses.

- Em quais partidos?

Elas estão em vários partidos, ficou bem diverso. Eu brinco que a gente só tinha dois critérios: concordar que democracia é o que há e que mais mulheres na política é bom para todo mundo (risos). Nós temos candidatas de direita, de centro, de esquerda, enfim, é bem amplo.

- A senhora acumula desentendimentos com o partido PDT. Recentemente, demonstrou apoio a uma candidata a vereadora em São Paulo pelo Cidadania. A senhora pretende mudar de sigla? O Cidadania é um partido que a senhora vê com bons olhos?

Eu ainda não sei para qual partido eu vou. A escolha da Malu Molina, que terá meu voto, foi escolha dela. A mesma orientação que eu dei para ela eu dei para outras mulheres do projeto Vamos Juntas é sentar e conversar com os partidos. Ela conversou com vários e sabe as razões as quais foi para o Cidadania.

Eu vou esperar a decisão da Justiça e depois vou sentar e conversar com os partidos. Estou disposta a tentar toda reconstrução que eu tinha feito no PDT – caminhando para ter uma Comitê de Ética, compliance no partido, enfim. A minha escolha não é só pra colocar meu nome, mas de fato construir algo bacana e isso vai demorar algum tempo. Não me vejo filiada a nenhum partido esse ano, porque eu realmente quero tomar todo o meu tempo para conversar e entender e tomar uma boa decisão. Dessa vez, eu realmente espero que eu consiga ficar nesse partido o resto da minha vida, que é o que eu queria com o PDT e não foi possível.

- Muitos nomes são cotados para as eleições de 2022. Um deles é o do apresentador de TV Luciano Huck. Qual a sua avaliação sobre ele?

É uma pergunta difícil. Pessoalmente eu admiro e acho que ele faz um trabalho bacana, mas não tenho menor condição de avaliar como candidato. Primeiro porque, até onde eu sei, ele não se colocou como candidato e eu não sei quais serão os outros candidatos.

Especialmente nesse momento de pandemia, não gosto nem de falar das eleições de 2020. Porque aí a gente tem um problemão aqui em São Paulo, porque nós vamos ter eleições que provavelmente vão ser muito fragmentadas, mas ainda não é o momento.

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