A aprovação pela Câmara do novo Marco Legal do Saneamento Básico (PL 4162/19) era para ser uma conquista do conjunto da sociedade. Mas nem todos quiseram participar desse avanço patrocinado pelo parlamento. A oposição, extremamente zelosa em demarcar território, preferiu apostar no chorume ideológico.
Deputados de esquerda tentaram obstruir a votação desde a semana passada, reclamando que a proposta pretende privatizar um direito básico da sociedade: o acesso à água.
Só que é preciso muito esforço narrativo para que uma abstração econômica, em 2019, impeça que, em 2033, estimados 100 milhões de brasileiros finalmente tenham acesso ao que há séculos é negado aos miseráveis deste país: coleta e tratamento de esgoto.
Entre tantas vergonhas nacionais, uma das maiores é condenar metade da população a viver em condições insalubres e inumanas. Famílias vivem com córregos imundos na porta de casa, fossas cavadas em lugar de banheiros, crianças expostas a doenças e epidemias erradicáveis por um planejamento urbano cuja primórdios remetem às galerias e sistema de abastecimento construídos pelo Império Romano.
Se o esgoto tratado vai chegar por meio de dinheiro privado ou investimento público é de uma irrelevância atroz quando o esforço é no sentido de criar diretrizes que tragam soluções efetivas para milhões de cidadãos abandonados.
A urgência é tamanha que eventuais ajustes poderão ser adiados ou, no extremo, impostos quando erros ou equívocos forem identificados, lá na frente. O que não parece razoável é impedir que avanços ocorram, sejam estes alavancados pela direita, pelo centro ou pela esquerda. Depois reclamam quando estão na sarjeta.