A radicalização do debate político no Brasil já está banalizada, de forma trágica. Houve um tempo, recente, em que a esquerda se dizia vítima de ataques destemperados, insultos grosseiros e golpes baixos, sempre à direita. Se esse momento ocorreu, Zé de Abreu acaba de sepultar qualquer possibilidade futura de lembrança.
No Twitter, o ator, notório virulento, decidiu se assumir como “radical mesmo”. Admite que está “num caminho sem volta”. Esse sincericídio foi a única opção que lhe restou após ultrapassar os limites da civilidade em sua cruzada contra a secretária de Cultura, Regina Duarte.
Solta, a frase proferida por Abreu contra a colega já tem lugar garantido no panteão das infâmias proferidas pela esquerda: “vagina não transforma uma [mulher] fascista em um ser humano”. Não vale a pena tentar explicar o contexto em que isso foi dito. A deselegância é tão atroz que impede qualquer atenuante.
Não custa lembrar que a atriz foi convidada a ocupar o cargo no lugar de um cidadão, já defenestrado do governo, que chamou Fernanda Montenegro de “sórdida”. Como se vê, os extremos da democracia estão numa ruidosa dança do acasalamento.
Bem provável que tenhamos que conviver um bom punhado de anos com essa espécie de militantes selvagens. Nessa fauna, o nome de Zé de Abreu jamais será esquecido – ou melhor, sempre virá acompanhado de algum insulto pornográfico. Ele fez por merecer.