Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Vacina russa pode não ser um aventura irresponsável de Putin

A história por trás da criação da Sputinik V foi pouco contada – até pela forma precipitada e retumbante com que chegou ao conhecimento público

R7 Planalto|Marco Antonio Araujo, do R7

Cientista trabalha dentro de um laboratório do Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya durante a produção e teste de laboratório de uma vacina contra a covid-19, em Moscou, Rússia
Cientista trabalha dentro de um laboratório do Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya durante a produção e teste de laboratório de uma vacina contra a covid-19, em Moscou, Rússia Cientista trabalha dentro de um laboratório do Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya durante a produção e teste de laboratório de uma vacina contra a covid-19, em Moscou, Rússia

A vacina russa contra a covid-19 foi recebida com indisfarçada repulsa pela comunidade cientifica internacional. Muito dessa antipatia e desconfiança se deve à forma idiossincrática com que o presidente Vladimir Putin anunciou a descoberta.

Para quem vinha acompanhando o esforço de governos e grandes laboratórios – aprendendo os protocolos de segurança que cercam o lançamento de qualquer medicamento, ainda mais em inédita escala mundial – não havia como disfarçar a perplexidade diante de um anúncio feito em tom triunfante.

Em pouco ajudou a provocação embutida no nome de batismo da vacina – homenagem no mínimo deselegante ao satélite soviético lançado em 1957 e que marcou o início da corrida espacial durante a Guerra Fria entre a antiga URSS e o mundo ocidental. Tempos sombrios.

A Sputinik V, é inquestionável, segue um caminho heterodoxo, dando margem a dúvidas honestas. Como pode ser confiável um medicamento testado em brevíssimos três meses e com apenas 38 voluntários (remunerados)? É seguro promover vacinação em massa antes de testagem controlada em grupos mais amplos?

Publicidade

Ao mesmo tempo, cabe questionar a possibilidade de uma potência abrir mão do rigor e submeter sua população (no primeiro momento, profissionais de saúde) a tamanho risco de vida (no caso de irresponsabilidade calculada). Quem bancaria o risco de uma tragédia dessas proporções?

A história por trás da criação da vacina russa tem sido pouco contada – até pela forma precipitada com que chegou a público. O Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo) lançou um site com o objetivo de “prover informação precisa e atualizada” sobre a Sputinik V.

Publicidade

Está lá que décadas de esforços de cientistas russos e soviéticos levaram à criação de uma ampla infraestrutura de pesquisas, como o Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya. Também ficamos sabendo que a Rússia herdou uma das "bibliotecas virais mais ricas do mundo, criada usando uma técnica única de preservação, até o centro de experimentos de reprodução animal”.

De fato, desde 1980, o Centro Gamaleya tem liderado o esforço para desenvolver uma plataforma tecnológica usando adenovírus, encontrados em adenoides humanos e normalmente transmitindo o resfriado comum, como "vetores" ou veículos que podem induzir material genético de outro vírus dentro de uma célula.

Publicidade

Não cabe aqui estender essa explicação técnica. O que os cientistas envolvidos dizem é que decidiram usar essa tecnologia já comprovada e disponível ao invés de entrar por um território desconhecido – como em tese está fazendo o restante da indústria farmacêutica.

Foi por esse caminho que o Gamaleya desenvolveu e registrou uma vacina contra o ebola. Em tom de propaganda, dizem que o uso de “dois vetores” é uma tecnologia única, o que diferencia a vacina russa de outras vacinas vetoriais de adenovírus em desenvolvimento ao redor do mundo.

Kirill Dmitriev, do RFPI, lembra que o fundo já assegurou parcerias de produção conjunta da vacina russa em cinco países. “Talvez em algum momento, graças a tal parceria na luta contra a COVID-19, nós possamos rever e abandonar as restrições politicamente motivadas nas relações internacionais, que já se tornaram obsoletas e representam um obstáculo aos esforços coordenados para lidar com os desafios globais”, afirma Dimitriev.

Em breve saberemos quem está com a razão, os céticos e precavidos ou a orgulhosa e retumbante ciência russa. Poderemos observar de perto, já que o governo do Paraná se dispôs a assinar nesta quarta-feira (12) um acordo de colaboração com a Rússia para desenvolver ao Sputinik V. O governador da Bahia também demonstrou interessse em firmar a mesma parceira.

Vamos ficar atentos para que o Brasil não seja apenas um satélite russo nessa corrida para estancar a pandemia.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.