O ex-jornalista da BBC, Martin Bashir, pediu perdão publicamente neste domingo, em um bate-papo para o jornal britânico Sunday Times, por ter mentido para conseguir uma entrevista com a princesa Diana, que foi transmitida em 1995 e assistida, na época, por mais de 20 milhões de pessoas.
Um inquérito aberto para apurar o episódio detalhou que Bashir teria violado regras editoriais ao falsificar documentos para conseguir a entrevista. Além disso, funcionários da emissora teriam acobertado suas ações.
"Fiz algo errado, mas, pelo amor de Deus, reconheçam que tínhamos uma relação e o que ela contribuiu para a entrevista (...) Era jovem quando isso aconteceu. Espero que as pessoas me deem a oportunidade de mostrar que eu estou arrependido", observou.
Martin Bashir teria mostrado extratos bancários falsos para o irmão da Lady Di, Charles Spencer, e teria relatado que pessoas eram pagas para espioná-la. Essa afirmação teria levado Spencer a apresentá-los.
Durante a entrevista ao então jornalista da BBC, Diana revelou que havia três pessoas em seu casamento com o príncipe Charles, apontando a presença de Camilla Parker Bowles, atual esposa dele. Ela também deu detalhes sobre seu casamento infeliz, admitiu ter tido um caso extraconjugal e disse sofrer de bulimia. Até então, nenhum membro da realeza britânica havia falado tão abertamente sobre a vida dentro da família real e sua relação com os demais.
Manipulação para benefício próprio
Fato é que essa entrevista lançou a carreira de Bashir, de 58 anos. Depois das revelações, ele ficou muito conhecido e teve uma carreira aparentemente bem-sucedida. Afinal de contas, o que Diana disse foi considerado um dos maiores furos de reportagem da década de 90.
Apesar de o jornalista ter se desculpado, os príncipes William e Harry afirmaram que fazer isso agora não resolve muita coisa, uma vez que sua mãe já não está mais viva. "Essa entrevista deteriorou ainda mais o relacionamento entre nossos pais e alimentou o medo, a paranoia e o isolamento dos últimos anos da vida de minha mãe", disse William em comunicado.
O duque de Cambridge acrescentou que o "efeito cascata de uma cultura de exploração e práticas antiéticas" acabou tirando a vida de sua mãe.
Martin Bashir detalhou que considera totalmente irracional vincular sua conduta para conseguir a entrevista com a morte de Diana, em 1997, após sofrer um acidente de carro.
Ao canal britânico, Sky News, a ministra do Interior, Priti Patel, afirmou que a reputação da BBC está muito comprometida. "É hora de a BBC refletir sobre as conclusões deste relatório e restaurar essa confiança", acrescentou.
Vidas destruídas
Após a repercussão desse caso, o advogado especialista em direito criminal, Émerson Tauyl, alerta que vivemos um momento onde a informação, principalmente no meio jornalístico, passa por dificuldades no que diz respeito a credibilidade.
"Não raras vezes nos deparamos com informações dúbias e envolvidas por interesses pessoais que denotam parcialidade. Então, as pessoas precisam tomar cuidado. É importante sempre buscar mais de uma fonte de confiança para entender sobre um assunto. Após cercar-se de todas as informações, é possível chegar a uma conclusão mais coerente, quiçá prudente", observa.
Infelizmente, há muitos que, assim como Martin Bashir, manipulam histórias para ganho pessoal, sem se importar com as consequências de suas atitudes desonestas. Por isso, nenhuma retratação posterior pode mudar um erro grosseiro como esse.
Uma falha sem volta. Porém, um equívoco que parece que não foi aprendido...
Escolhendo a verdade
Para agradar, por medo, por interesse, por audência, por popularidade ou por vingança. A mentira está presente no cotidiano da sociedade e são várias as desculpas para usá-la.
Em muitos casos, começa pequena e vai aumentando. Mente-se tanto que a pessoa se acostuma e acaba mentindo a qualquer hora. Só que as consequências de uma mentira podem ser irreversíveis.
Então, até que ponto vale tudo para conseguir o "sucesso"? Que lição podemos tirar da atitude antiética desse jornalista britânico?
A verdade é sempre a melhor resposta.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.