A violência contra jovens entre 15 e 29 anos aumentou significativamente em 10 anos. É o que apontam os dados do Atlas da Violência 2018, organizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), divulgado nesta terça-feira (5).
Em 2016, ano analisado no documento, houve um aumento de 7,4% em relação a 2015 no número de jovens mortos de forma violenta. Já no período de dez anos, entre 2006 e 2016, o aumento registrado foi de 23,3%.
De acordo com Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e coordenador do estudo, diz que cerca de 70% dos jovens que são vítimas de violência são negros, pessoas de baixa escolaridade e que não tem o ensino fundamental concluído. Esses fatores são ainda mais fortes quando se olha para localidades dominadas pelo crime organizado.
— A gente tem, na nossa sociedade, vários municípios, cidades, comunidades que foram, simplesmente, abandonadas pela sociedade e pelo Estado. Então existem crianças que muitas vezes são criadas em uma família desestruturada, em um ambiente de violência doméstica, violência comunitária, sem modelos de ideais de sucesso a não ser o traficante ali da esquina que ostenta um cordão de ouro, um AR15 e que namora todas as meninas da comunidade.
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A partir dessa afirmação, o pesquisador aponta que os jovens acabam cumprindo não só o papel de vítima, mas também o de executor dos crimes.
— Esse jovem que, logo na infância, não teve as condições de desenvolvimento sadio, é uma criança que depois nao vai ter acesso a uma boa escola e, mais a frente, não terá acesso ao mercado de trabalho. O que se espera desse jovem? Esse jovem vai ficar a mercê do crime organizado e desorganizado.
Soluções
Para Cerqueira, uma das soluções para evitar a morte de jovens no Brasil é criar políticas de prevenção e diagnóstico prévio. Outro ponto também é investir na investigação.
— Os que são presos são os ladrões de galinha, pé de chinelo. E quando são feitas na base da investigação e inteligência, você vai conseguir prender um cara que realmente causa terror na sociedade.
O pesquisador conclui que, mesmo que essas medidas sejam tomadas, também é preciso pensar em políticas públicas para a juventude, para que ela saia do alvo da violência.
— Outro pilar importante, é que nada disso garante a sustentabilidade da segurança pública se não investirmos na criança de hoje para que não seja o bandido de amanhã. Então precisamos investir em ações de prevenção social focalizadas.