A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada no último dia 14, recebeu uma homenagem no SXSW, em Austin, nos Estados Unidos. O evento South by Southwest é conhecido por ser lançador de tendências e o principal festival de economia criativa do mundo. Uma das suas grandes características é ser extremamente inclusivo, além de identificar e divulgar o que será moda nas áreas de comportamento e consumo.
Foi esta sensibilidade que permitiu aos organizadores capturarem a hashtag #MARIELLEPRESENTE nas redes sociais, entender a questão em torno do assassinato da vereadora e montar um painel para discutir o assunto internacionalmente. O SXSW apresenta Marielle como "uma poderosa voz para a mudança em uma era turbulenta da política brasileira". E completam: "a vereadora lésbica e negra vinha sendo uma inspiração para a comunidade criativa e criticava fortemente a presença militar nas favelas do Rio".
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O assassinato de Marielle se encaixa perfeitamente aos valores do SXSW, que vê a democracia brasileira ameaçada. "Em resposta ao assassinato, músicos, artistas e escritores brasileiros estão se unindo para aproveitar sua arte e criatividade para defender a democracia ameaçada do Brasil", afirma o descritivo do evento "O que #MariellePresente significa para a música brasileira".
Fabiana Batistela, diretora da Semana Internacional de Música de São Paulo, a cantora Liniker, Pedro Garcia de Moura, da agência Isobar, e Bruno Natal, criador da plataforma Queremos, conduziram o debate em Austin (Texas).
O painel foi aberto por Tracy Mann, da organização do evento. Tracy fez a ressalva de que não é comum os organizadores do festival abrirem a mesa, mas que este era um momento incomum. "Entendemos a importância disso e estamos ao lado de vocês", afirmou.
"Mesmo que haja uma tentativa de volta da ditadura%2C podemos usar a internet e a arte para evitar isso"
O assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Pedro Gomes foi colocado por Fabiana como o marco para um momento de mudança necessário para o País, e que a música e os artistas brasileiros precisam ser porta-vozes desses movimentos. "Precisamos lembrar da importância da classe artística desde a ditadura. Não podemos deixar essa tolerância continuar", afirmou a executiva.
"O Brasil está sempre à frente de tendências e uso da internet, como a liderança nas redes sociais, a ocupação das escolas. Precisamos usar este pioneirismo para mudar e ocupar os espaços que são da sociedade", acredita Garcia. "Mesmo que haja uma tentativa de volta da ditadura, podemos usar a internet e a arte para evitar isso."
Liniker, aos 22 anos, ressaltou a dificuldade de ser cantora, negra e transexual. "Não vamos desistir."
A cantora convidou todos para resistir e não deixar o lugar do negro e dos artistas LGBT ser subjugado. A artista notou que havia apenas quatro negros na plateia. "Onde estão os negros que se indignam?", questionou.
Desde os assassinatos, a hashtag #MariellePresente já apareceu mais de 14.800 vezes nas redes sociais, Twitter, Instagram e Google Plus, segundo levantamento do Torabit desde o dia 13 de março. Outros termos relacionados aos assassinatos chegam a quase 2.000 menções.
Espaço para as mulheres
Tanto Fabiana quanto Liniker afirmaram que é muito difícil ser mulher porque o trabalho sempre fica em segundo plano. "Não quero mais falar sobre ser trans ou roupas e maquiagem. Dou entrevistas para falar sobre música e produção musical", afirma Liniker. "O empoderamento feminino é um enfrentamento diário de quebra de paradigmas estabelecidos pela sociedade e que não necessariamente é a escolha individual de cada mulher", declara Fabiana.
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