O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), estuda concentrar a passagem dos grandes blocos de rua do carnaval paulistano na avenida 23 de Maio, em um circuito que começaria na região do parque do Ibirapuera, na zona sul da cidade, e terminaria no vale do Anhangabaú, no centro.
A pedido da Prefeitura, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) está produzindo um estudo de impacto no trânsito da cidade considerando a possibilidade de mudança. A ideia é reservar uma pista para os foliões enquanto a outra seria reservada como apoio para ambulâncias, Polícia Militar, banheiros químicos e postos de venda de bebidas e lanches.
A proposta será apresentada oficialmente aos blocos em seminário no dia 28. Pelo esboço inicial, os pequenos blocos continuariam desfilando em seus roteiros originais nos bairros.
Em nota, a Prefeitura informou que o uso da 23 de Maio para blocos de grande porte é "uma das possibilidades" estudadas. "Não há nada definido a respeito. Qualquer decisão ou mudança sobre desfiles somente será tomada com o aval dos blocos e da comunidade local", informou a Prefeitura, em nota.
Segundo auxiliares de Doria, a mudança não será imposta aos blocos, mas negociada. O principal objetivo é "facilitar a vida de quem pula e de quem não pula" carnaval, além de oferecer estrutura adequada a blocos de outros Estados. O carnaval de rua de São Paulo teve quase 500 desfiles e 450 blocos em 2017, ante 306 no ano anterior. A cidade registrou o maior carnaval de rua da história e superou, em número de desfiles, cidades como Recife, Rio de Janeiro e Salvador.
Neste ano, para evitar conflitos entre moradores e foliões, a Prefeitura já havia congelado o número de blocos na Vila Madalena, na zona oeste, e transferido agremiações maiores para outras partes de Pinheiros, também na zona oeste. Ainda havia aumentado o total de vias com tráfego proibido de foliões. Em fevereiro, a Prefeitura enfrentou problemas no pré-carnaval, com acúmulo de lixo em algumas vias e dificuldades de deslocamento de foliões.
Divisão
A proposta divide os blocos. "A Prefeitura tem todo o direito de criar alternativas para grandes blocos de fora da cidade. O Acadêmicos do Baixo Augusta e, tenho certeza, a maioria dos grandes blocos tradicionais vão permanecer em seus trajetos", diz Alexandre Youssef, diretor executivo do bloco. Com mote politizado, o Baixo Augusta defendeu a "apropriação urbana" e reuniu neste ano 500 mil na Consolação, no centro.
— Valorizar as comunidades e tradições é o modo de garantir o carnaval livre, democrático e descentralizado, pelo qual sempre lutamos.
Já Silvia Lopes, do bloco Nóis trupica mais não cai, diz ser melhor blocos "comerciais" circularem em grandes vias.
— Não tem sentido um bloco enorme no meio da Vila Madalena.
Para Paula Flecha, do Arrastão dos Blocos, que reúne cerca de cem agremiações, a ideia contraria a tradição do carnaval de rua paulistano. "Não faz o menor sentido sair da frente daquele boteco onde todo ano o seu bloco se concentra e ir a um ‘blocódromo’", critica ela, que reclama de dificuldades de diálogo com a Prefeitura.
Moradores
Para Guilherme Haddad, diretor da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia, no entorno do Ibirapuera, a área não comporta evento desse tipo.
— Temos hospitais na região. Fora os danos ao meio ambiente.