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Grávida sem trabalho por causa da quarentena sobrevive com doações

Vanessa de Oliveira Santos enfrenta a falta de dinheiro e de comida enquanto aguarda a chegada do segundo filho nos próximos meses

São Paulo|Brenda Marques, do R7

Vanessa e Lorenzo, seu filho mais velho
Vanessa e Lorenzo, seu filho mais velho Vanessa e Lorenzo, seu filho mais velho

Eram mais de três horas da tarde quando Vanessa de Oliveira Santos, de 30 anos, fez sua primeira refeição em mais um dia de isolamento social. Comeu cinco bolachas de água e sal acompanhadas de um chá. Às 18h30, ela ainda não tinha cozinhado o macarrão, que seria seu "almoço e jantar" daquele dia.

"Eu e meu esposo, se tem, a gente toma o café e depois a gente faz almoço e janta ao mesmo tempo", explica.

Por causa da quarentena, o casal está sem nenhuma fonte de renda. Eles têm um filho chamado Lorenzo, que acaba de completar dois anos. A família vai aumentar daqui um tempo, porque Vanessa está grávida de quase sete meses: espera um menino que vai se chamar Noah. 

Seu companheiro trabalhava com análise e desenvolvimento de sistemas, mas está desempregado há um tempo. Era ela quem, mesmo com renda instável, sustentava a casa com a venda de brigadeiros. 

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"No último mês eu vendi 450 brigadeiros e ganhei uns R$ 800", lembra. Era com esse dinheiro que ela pretendia comprar o enxoval do segundo filho. "Muitas pessoas falaram que iam me ajudar, mas até agora não recebi nada", conta.

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Se ainda não falta 'o grosso' - arroz, feijão e macarrão - para a família, é graças a doações. "Ganhei um pacotinho de carne e um de frango de um moço que vende espeto, mas a gente não liga muito para mistura nem nada", diz a jovem.

"Meu medo é mais para frente, se vai continuar a quarentena e se eu vou conseguir ir para a rua ou não", desabafa. "Eu gostaria muito de voltar a trabalhar, porque quem não trabalha não tem nada. Estou sobrevivendo de doações", acrescenta.

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Lorenzo é o único que faz todas as refeições e, quando possível, come frutas. "Ele já tomou café da manhã, almoçou, já já vou dar uma banana para ele e depois vou dar a janta na hora que a gente for comer", contou Vanessa, naquele fim de tarde.

Pré-natal na pandemia

A enfermeira que acompanha Vanessa no pré-natal - feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) - disse que a jovem precisa tomar um complexo de vitaminas por não estar se alimentando direito.

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A obstetra, por sua vez, teve que adequar a recomendação ao produto disponível no posto de saúde: sulfato ferroso. Por conta própria, Vanessa optou por tomar a mesma vitamina que usou durante a gravidez de Lorenzo.

"A médica disse que era ótimo e que tenho que tomar até o fim da gravidez. Aí eu falei para ela: vou tomar até onde der, porque eu não tenho dinheiro", conta. "Eu tenho duas opções: comprar o leite [para o filho mais velho] ou a vitamina para tomar".

Na semana passada, comprou a vitamina com o pagamento por uma encomenda feita pela pediatra do Lorenzo. Vendeu 25 doces para a médica e recebeu R$ 50. A vitamina custou R$ 42.

Vanessa usa máscara e troca de roupa sempre que vai ao posto de saúde, que fica em frente à sua casa, na zona norte de São Paulo. Mas, mesmo assim, teme se infectar com o novo coronavírus e passar para o marido, que tem hipertensão.

À espera do auxílio emergencial

Vanessa fez o cadastro para receber o auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal, mas não sabe se foi aprovada. Em outubro de 2019, ela também se registrou no Bolsa Família, mas não teve uma resposta.

"Tenho três contas de luz para pagar, mas vai chegar o dia e eles vão cortar. Assim que entrar algum valor, a gente vai comprar vela. Eu tenho internet, mas já vai para a segunda [conta vencida]. Sinceramente, eu tô no escuro", resume.

'Grávidas precisam de muita coisa'

O ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma que é comum a recomendação de suplementos vitamínicos para mulheres grávidas. 

"A gente recomenda porque as grávidas precisam de muita coisa e não conseguem ter uma alimentação saudável o suficiente", esclarece.

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De acordo com o especialista, os complexos vitamínicos propiciam a reposição de todas as vitaminas necessárias. "Se por algum motivo ela não puder tomar, muito provavelmente não vai acontecer nada". Ele acrescenta que só há risco se a mulher estiver com algum problema, como anemia.

Já o sulfato ferroso é usado quando não é possível tomar as vitaminas. "Ele só tem ferro. No posto de saúde recomendam porque não tem o que dar, mas não é a mesma coisa. Os suplementos têm vitaminas A, B, C, D e ômega 3", compara.

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