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Iniciativas dão vida a um Carnaval longe das ruas durante a pandemia

Projetos independentes de blocos de rua querem levar festa às casas dos foliões. Edital da prefeitura é criticado por organizadores

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

Ruas de SP receberam 15 milhões de foliões em 2020, mas estarão vazias neste ano
Ruas de SP receberam 15 milhões de foliões em 2020, mas estarão vazias neste ano Ruas de SP receberam 15 milhões de foliões em 2020, mas estarão vazias neste ano

Longe das ruas que nos últimos anos o consolidaram como o maior – ou mais movimentado – Carnaval do país, que no ano passado atraiu 15 milhões de pessoas a São Paulo, o evento este ano não terá blocos desfilando e nem suas aglomerações, palavra que até fevereiro de 2020 possuía conotação muito mais positiva e representava um momento aguardado com ansiedade sempre que o feriado se aproximava.

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A pandemia de covid-19 e o consequente distanciamento social deixaram mais cinza a festa que sempre foi sinônimo de alegria e euforia para milhões de brasileiros. Porém, para reviver o sentimento dos foliões sem desrespeitar as normas sanitárias, organizadores de blocos paulistanos criaram iniciativas independentes a fim de fazer com que, mesmo em casa, o público possa celebrar o evento em 2021.

Um dos mais movimentados blocos de rua de São Paulo, o Casa Comigo lançou o projeto “Carnaval vem de dentro”, com produções de websérie, música e videoclipe, a fim de levantar a bandeira de que o Carnaval é um estado de espírito, e pode ser aproveitado em qualquer lugar. “Acreditamos que o Carnaval é um sentimento que aflora em qualquer canto, mesmo que seja em casa”, comenta Raul Silêncio, um dos fundadores do Bloco.

A tradicional Confraria do Pasmado, bloco que há 18 anos desfila nas ruas paulistanas, lançará um clipe em homenagem ao Festival de Música Popular Brasileira 1967, organizado à época pela Record TV, com músicas clássicas da MPB e uma mistura de ritmos brasileiros como o samba, o funk e o ijexá. O vídeo terá imagens do desfile do Pasmado em 2020 e gravações feitas em janeiro passado.

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“A ideia é misturar esses dois mundos, até pra pensar, daqui a 10 anos ou 15 anos, esse clipe como um documento histórico, misturando Carnaval de rua e aglomeração, e também todo mundo em quarentena, sem Carnaval na rua. É um momento que ninguém gostaria de passar, mas que tem que ser registrado”, comenta Bruno Ferrari, um dos organizadores do bloco.

A motivação para produzir o clipe passou por duas frentes: incentivar as pessoas a ficarem em casa durante o feriado e, já que não poderão ir às ruas, oferecer “ações para tornar essa fase menos difícil”.

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“Que a gente possa também relembrar as músicas, dançar em casa. Não dá pra substituir, mas entendemos que justamente por terem esse engajamento de milhões de pessoas, é excelente que os blocos aproveitem esse papel na sociedade pra mostrar que estamos cortando na nossa carne, mas por uma razão nobre”, conclui Ferrari.

Outra iniciativa será o “Carnaval sem rua 2021”, que neste sábado (13) reunirá apresentações online de 11 blocos e mais dois DJs na plataforma do twitch do evento, além dos canais dos respectivos blocos.

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Segundo Renata Bruggerman, organizadora do evento, a ideia é que “as pessoas possam ter, nas suas casas, em segurança, um pouquinho do Carnaval”. Para acompanhar, basta acessar este link.

Ator e humorista Marco Gonçalves na websérie ‘De Onde Vem?’, do bloco Casa Comigo
Ator e humorista Marco Gonçalves na websérie ‘De Onde Vem?’, do bloco Casa Comigo Ator e humorista Marco Gonçalves na websérie ‘De Onde Vem?’, do bloco Casa Comigo

Edital da Prefeitura

Outra iniciativa partiu da Prefeitura de São Paulo, que lançou um edital para apoiar blocos de rua do Carnaval paulistano durante a quarentena, em um evento intitulado “Festival Tô Me Guardando”. A ideia foi bem recebida, mas o valor oferecido foi muito baixo e a medida, mal organizada, avaliam os organizadores dos blocos.

O edital publicado no final de janeiro – tardiamente, para as organizações dos blocos – oferecerá um valor total de R$ 500 mil aos blocos, sendo R$ 3 mil para cada apresentação artística online e R$ 1 mil para vivências artísticas. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, criou um programa similar, destinando R$ 3,2 milhões em recursos aos blocos de rua locais, uma quantia seis vezes maior que a oferecida pela gestão de Bruno Covas (PSDB).

Para organizadores que conversaram com a reportagem do R7, a ideia é boa e poderia ser efetivamente benéfica com maiores valores, que contemplassem mais blocos da cidade. Ao todo, são mais de 800 na capital paulista.

Juliana Matheus, fundadora e organizadora do bloco Filhas da Lua e fundadora da Comissão Feminina do Carnaval de Rua, comenta que em seu bloco há 120 mulheres, e para a live do edital o número foi reduzido para 13.

“Mesmo quando reduzimos, é muita gente. E agora estamos procurando um espaço onde possamos fazer a gravação e manter o distanciamento. É complicado. Tivemos 15 milhões de pessoas em 2020, com um movimento de R$ 2,7 bilhões. Poderia ser um edital que contemplasse com um valor até maior e para mais blocos. Com o edital de uma hora pra outra e com valor tão baixo, os outros blocos não conseguem se organizar. Esperamos que essa não seja a única iniciativa”, afirma Juliana.

Já a Confraria do Pasmado não pleiteou o valor oferecido pela prefeitura paulistana. Embora entenda que o edital seja importante, Bruno Ferrari considera que foi mal organizado – “muito em cima da hora e com valores ruins”. A organização do bloco conseguirá custear o clipe que lançarão para este Carnaval, realidade que, aponta ele, não é a de todos. “[O edital] poderia ajudar a imensa maioria dos mais de 800 blocos, que são pequenos e têm dificuldade de conseguir patrocínio. O objetivo de fomento é ajudar os blocos a passar por uma fase difícil”, aponta Ferrari.

O organizador do Pasmado também relembra os R$ 2,7 bilhões arrecadados no ano passado durante o Carnaval em São Paulo. “É muito dinheiro. Se tudo der certo, ano que vem será o maior Carnaval da história. E nesse momento oferecem R$ 500 mil aos blocos daqui. E o Rio, uma cidade combalida, ofereceu R$ 3,2 milhões, seis vezes mais. Nós cotamos várias vezes quanto custa fazer uma live; R$ 3 mil não cobrem custos de um bloco de tamanho pequeno. Muitos dos que se inscreveram vão ter que pagar do bolso por isso”, considera Ferrari.

Além disso, ele considera que houve falha de comunicação por parte da atual gestão da prefeitura com os blocos de São Paulo. Desde o ano passado, segundo Bruno, a comunicação da prefeitura com os blocos piorou muito.

“O Pasmado sempre dialogou muito com todas as prefeituras, e esse foi o primeiro ano que sequer entraram em contato com a gente. Faltou comunicação, faltou organização da prefeitura, faltou humildade pra escutar mais blocos”.

Renata Bruggerman fez críticas parecidas e, devido à falta de organização apontada, a organização de seu evento também foi sem qualquer patrocínio. “O edital da prefeitura ficou pouquíssimo tempo aberto, e tinha uma série de exigências que não conseguiríamos cumprir”, comentou Bruggerman.

Juliana Matheus considera que, neste momento de pandemia, os fomentos são necessários para os profissionais de cultura poderem sobreviver e trabalhar. “Nosso setor vai ser o último a voltar. Então esperamos que, na principal cidade e o maior Carnaval do Brasil, que possam ajudar os artistas nesse momento de pandemia”, conclui.

Outro lado

A reportagem do R7 solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo a respeito das críticas feitas ao edital da prefeitura paulistana. Até o fechamento deste texto, não houve resposta.

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