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Polícia indicia GCM que matou estudante após confundir carro

De acordo com a polícia, agente modificou a cena do crime. Vítima levou dois tiros após trocar carro do pai pelo do guarda civil

São Paulo|Mariana Rosetti, da Agência Record

Imagem de câmera de segurança mostra estudante saindo do curso técnico
Imagem de câmera de segurança mostra estudante saindo do curso técnico Imagem de câmera de segurança mostra estudante saindo do curso técnico

A Polícia Civil de São Paulo indicia o Guarda Civil Municipal (GCM) Marcelo Antônio de Oliveira Júnior por homicídio e fraude processual. O agente é acusado de atirar e matar o estudante Lucas Costa, de 19 anos, na noite de 27 de setembro, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, além de modificar a cena do crime.

O guarda "praticou homicídio consumado e fraude processual, haja vista que efetuou dois disparos na vítima no momento em que esta se aproximou de seu veículo", diz o documento assinado pelo delegado Rogério Nunes Pezzuol, do 1º DP de São Bernardo do Campo.

A Polícia concluiu que Marcelo alterou provas para "induzir a erro o juiz ou o perito", implantando uma arma de fogo falsa no local do crime, a fim de incriminar a vítima.

"Analisando o perfil e o histórico de Lucas, não se mostra crível a alegação de que o simulacro o pertencia, eis que a vítima era um jovem tímido, sem antecedentes criminais, que trabalhava como jovem aprendiz e frequentava um curso técnico", apontou o delegado.

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O documento também apresenta imagens de circuito de segurança que mostram o jovem na catraca do curso técnico. Corroborando com a narrativa dos pais de que ele esperava carona quando o crime aconteceu.

Segundo o advogado Ariel de Castro, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Bernardo do Campo acompanha o caso.

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O relatório final foi entregue nesta quinta-feira (6). Agora cabe ao Ministério Público e a Justiça de São Paulo analisar o relatório da Polícia Civil e, conforme interpretação, oferecer a denúncia.

Marcelo foi preso em flagrante na noite do crime e teve sua prisão convertida em preventiva no dia seguinte.

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Relembre o caso 

Jovem, de 19 anos, foi baleado e morto por guarda civil após sair da faculdade em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, na noite do dia 27 de setembro. O agente foi preso em flagrante, mas afirma que atirou pois achou que seria assaltado.

Lucas teria confundido o carro do GCM com o do pai dele, que ia pegá-lo próximo a faculdade
Lucas teria confundido o carro do GCM com o do pai dele, que ia pegá-lo próximo a faculdade Lucas teria confundido o carro do GCM com o do pai dele, que ia pegá-lo próximo a faculdade

O caso aconteceu na Avenida Senador Vergueiro, altura do número 10, próximo ao Shopping Metrópole, na região central, por volta das 22h32.

Lucas Costa Souza, de 19 anos, morreu após levar dois tiros no peito. Ele foi baleado por Marcelo Antonio de Oliveira Júnior, de 34 anos, agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Bernardo do Campo.

Em depoimento à Polícia Civil, a mãe da vítima, Cristiane Costa Souza, contou que o filho estudava Administração de Empresas no SENAC, há três meses. O pai sempre buscava o garoto na saída do curso, por volta das 22h30, com um Chevrolet/Corsa da cor vermelha, que tinha películas escuras nos vidros. 

Contudo, naquela noite, o combustível do veículo acabou no meio do caminho. A mãe enviou uma mensagem para o menino e pediu que ele fosse até o ponto de ônibus para pegar o transporte público.

A mulher contou que o filho concordou e pediu para ela preparar um pão e café com leite para ele comer quando chegasse, pois estava com fome.

Marcelo Júnior afirmou, também em depoimento à Polícia Civil, que voltava do Hospital São Bernardo com a sua mãe, Margareth Cilani de Oliveira, em seu Chevrolet/Celta da cor vermelha, quando parou no sinal vermelho do semáforo.

O homem contou que viu um jovem caminhar em direção ao seu carro e olhar fixamente para o interior do veículo, até chegar perto e abrir a porta do passageiro. Segundo o guarda, o rapaz falou "vai" e colocou a mão no meio do peito, para fingir que estava armado.

Marcelo pegou a sua arma e atirou duas vezes contra Lucas, que correu após ser atingido. O homem relatou que foi atrás do garoto e viu o momento em que ele jogou algo em um gramado próximo.

O guarda disse que conseguiu alcançar o jovem perto do ponto de ônibus e mandou ele ficar deitado, com a barriga para baixo. Ainda de acordo com Marcelo, o rapaz gritou várias vezes "não sou eu, não sou eu".

O homem declarou que pediu apoio à GCM e esperou as equipes chegarem para ir até a sua mãe e ver como ela estava, mas no meio do trajeto encontrou uma arma de fogo falsa, no local onde o menino havia jogado um objeto.

Margareth afirmou que percebeu o momento em que Lucas abriu a porta e logo na sequência o seu filho efetuou dois disparos na direção do garoto. Ela viu o homem correr atrás do jovem e decidiu não sair do carro em momento nenhum. 

A mãe de Lucas acredita que o filho tenha confundido o carro de Marcelo com o do pai, já que os dois são modelos parecidos, da mesma marca, têm a mesma cor e películas escuras.

Ela disse que o marido costumava deixar os vidros abertos, pois o menino não checava se ele estava no veículo. Contudo, chovia bastante na noite de terça-feira, o que pode ter feito a vítima acreditar que as janelas estavam fechadas para não molhar o automóvel.

Segundo Cristiane, o seu filho trabalhava como Jovem Aprendiz, era muito tímido e não bebia ou fumava. Ela afirmou repetidas vezes que Lucas não estava armado e nunca havia pego uma arma, seja de verdade ou de brinquedo.

Ainda em depoimento à Polícia Civil, os guardas Enéas Rogerio Andrade, Igor Teixeira de Carvalho e Alison Matos Alves afirmaram que estavam em patrulhamento, quando a Central de Monitoramento da GCM pediu que eles fossem prestar apoio a um agente que teria sido vítima de uma tentativa de assalto.

Enéas afirmou que, no local, o guarda Luciano Xavier da Silva lhe entregou uma arma falsa. Ele perguntou ao colega sobre a origem do objeto e Luciano disse que havia recebido de Marcelo assim que chegou no local. O agente insistiu e perguntou quem havia mexido no item, já que isso atrapalha o trabalho da perícia, mas não recebeu nenhuma resposta.

Marcelo afirma que só encontrou a arma falsa depois que as equipes da GCM chegaram no local e pegou o objeto, pois sentiu que estava em perigo. Contudo, Luciano diz que recebeu o objeto dele assim que chegou na cena do crime.

Depois dos depoimentos, Marcelo disse à Polícia Civil que gostaria de dar outra versão da história, onde a arma falsa não aparece.

A pistola .380, cinco munições intactas e um carregador de Marcelo foram apreendidas, assim como a arma falsa. A perícia foi até o local e confirmou que o Chevrolet/Celta não estava preservado, pois o seu interior estava todo revirado.

Marcelo foi preso em flagrante, após a Polícia Civil concluir que ele agiu por impulso, já que Lucas não estava armado, além de ter entrado em contradição.

O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial no 1º Distrito Policial de São Bernardo do Campo.

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