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SP: após triplicarem em 2021, casos de dengue devem subir novamente

Especialistas avaliam que epidemia deve ser mais intensa a partir de 2022. No ano passado, casos subiram 262% em relação a 2020

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

Casos subiram de 2.026 em 2020 para 7.345 no ano passado
Casos subiram de 2.026 em 2020 para 7.345 no ano passado Casos subiram de 2.026 em 2020 para 7.345 no ano passado

Depois de um aumento de 262% de 2020 para o ano passado, o número de casos de dengue em São Paulo (SP) deve subir consideravelmente mais uma vez em 2022. No interior do estado, embora os picos ocorram entre março e abril, já foram registrados mais de 2.000 casos e uma morte pelo vírus.

Especialistas ouvidos pela reportagem do R7 analisaram a situação epidêmica do Aedes aegypti e apontaram razões pelas quais a capital paulista deve redobrar sua atenção com o mosquito nos próximos meses.

Marcos Vinícius da Silva, médico do Centro de Referência em Imunobiológicos Especiais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e doutor em doenças infecciosas e parasitárias, diz que o cenário é preocupante pois já há uma epidemia em vigência, camuflada pela subnotificação de casos.

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Em um momento de pandemia de Covid-19, considera, “com a população já acostumada com a dengue, só procuram o hospital se estiverem realmente mal, e então ficamos com muitos casos subnotificados. Não tem nem como mapear para ter um planejamento estratégico contra a epidemia”.

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No período de verão, segundo Silva, com a maior ocorrência de chuvas, portanto mais criadouros para o mosquito, a partir de fevereiro ou março o número de casos deve subir. “Será um aumento expressivo”, pondera o professor.

Virologista e ex-presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia), Maurício Nogueira dá motivos distintos, mas faz a mesma previsão para este ano. Segundo ele, com a chegada de uma nova variante da dengue tipo 2, “a epidemia que vimos [começar] em 2019 e voltar em 2021 vai se disseminar em 2022”.

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Algumas regiões como o Centro-Oeste, o interior paulista e municípios de Minas Gerais já tiveram o crescimento dos casos, prossegue Nogueira, o que deve ocorrer por todo o país.

Além da subnotificação, outro motivo para o baixo número de casos em 2020 seria o isolamento social em decorrência do novo coronavírus. Com menos deslocamento, as pessoas acessariam locais com possíveis focos menos vezes, o que evita a disseminação do vírus.

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No sentido contrário, com o arrefecimento das medidas sanitárias e a população voltando a se deslocar normalmente, o aumento de casos, já observado no ano passado, deve seguir em 2022, afirma o virologista: “Será a quarta epidemia de dengue 2 no país.”

80% dos criadouros do mosquito da dengue estão dentro de domicílios

Uma unanimidade entre os especialistas que estudam o Aedes aegypti é a necessidade de que, junto com o poder público, toda a sociedade participe no combate à proliferação do mosquito.

Biólogo e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP, Paulo Roberto Urbinatti lembra que 80% dos criadouros estão dentro de domicílios. “Ele se prolifera dentro dos criadouros no domicílio e ao redor também: uma lata, pneu, garrafa, prato de vaso, calha, caixa d’água destampada e cacos de vidro que ficam acima dos muros são potenciais criadouros para a fêmea”, explica o entomologista.

Dessa maneira, continua o pesquisador, a população tem a responsabilidade de, se puder colaborar com o controle dos mosquitos, eliminar os criadouros.

Quanto ao poder público, o monitoramento e vigilância são de responsabilidade das prefeituras, explica Urbinatti. “Os agentes de saúde têm o papel importante de investigar e encontrar os pontos estratégicos de uma cidade. E além dos pontos estratégicos, como borracharias, cemitérios e outros locais, há os domicílios. O agente tem também o papel de fazer a busca ativa, conscientizar a população a eliminar os criadouros”, comenta.

É a fêmea que pica humanos — e outros mamíferos —, comenta o professor, por precisar do sangue para o amadurecimento dos ovos, enquanto os machos se alimentam de soluções açucaradas. “Assim que os ovos estão maduros, as fêmeas depositam seus ovos em diversos criadouros, como pneus, caixas d’água, calhas... elas têm o comportamento de colocar seus ovos em diferentes tipos de criadouro, por isso é mais difícil de fazer o controle. É um mosquito que se adaptou muito bem às áreas urbanas”, diz.

Urbinatti ressalta que, embora a incidência dos casos seja muito mais comum no verão, a vigilância deve ser permanente, ao longo de todo o ano. “Como são doenças sazonais, quando chega perto do verão, o aumento de casos está muito atrelado ao aumento da densidade dos mosquitos. Se a vigilância ocorresse o ano todo, quanto mais eliminar os criadouros nesse período anterior, no verão não teremos a mesma densidade de casos”, conclui.

Nesse sentido, Marcos Vinicius da Silva, professor da Faculdade de Medicina da PUC-SP, afirma que é importante reiterar a mensagem da responsabilidade social “de olhar as casas, os telhados, caixas d’água, garrafas vazias e todos os objetos que coletam água. Não adianta olhar apenas para o poder público [como responsável].”

Além do controle em casa, denúncias a respeito de terrenos baldios, casas com piscina sem manutenção e outros locais afins podem ser feitas à vigilância sanitária, pela Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde).

O canal para solicitações sobre mosquitos é o portal de atendimento da Prefeitura de São Paulo, no número 156, ou por meio deste link.

Cinco estados observam alta de casos

Além de São Paulo, outros quatro estados têm observado a alta de casos de dengue nas últimas semanas. São eles Minas Gerais, Alagoas, Rio Grande do Sul e Tocantins.

Em Minas, por exemplo, o aumento foi de 94% em uma semana, subindo de 178 registros em 20 de janeiro para 347 no dia 26.

Em São Paulo, municípios do interior como Araçatuba, Birigui, Rio Preto, Tatuí e dez das 11 cidades da região de Andradina já registram altos índices de infestação do mosquito.

As duas primeiras, inclusive, podem sofrer impacto desses casos em seus sistemas de saúde, sobrecarregados em decorrência da Covid-19 e da gripe.

Prefeitura

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SMS (Secretaria Municipal da Saúde) e da Covisa, informou ter realizado, desde 2020, 2,4 milhões de ações de bloqueio de criadouros do Aedes aegypti, 5,6 milhões de visitas de rotina casa a casa e mais de 77 mil ações em pontos estratégicos da cidade.

Segundo a gestão, as atividades se dividem entre visitas casa a casa, a pontos estratégicos e imóveis especiais; controle larvário nos pontos estratégicos com o uso de larvicida biológico; bloqueio de transmissão de casos humanos de dengue, doença aguda pelo vírus zika, febre de chikungunya; atividade de “arrastão”; uso de teste rápido para dengue para direcionar os bloqueios de transmissão; avaliação de densidade larvária; atendimento a solicitação de munícipes; ações educativas, de comunicação em saúde e mobilização social; e ações administrativas e de gestão.

A prefeitura destaca que a estrutura de suas equipes no combate ao mosquito da dengue e pernilongos conta com um aerobarco, utilizado no rio Pinheiros, e 79 veículos para ações de nebulização e transporte de inseticidas e equipamentos. Ao todo, as 28 Uvis (Unidades de Vigilância em Saúde) contam com 200 nebulizadores para controle do mosquito e 30 máquinas de nebulização de ultrabaixo volume.

A respeito do crescimento de casos em 2021, a SMS afirma que o ano de 2020 não deve ser utilizado como parâmetro, pois “o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 trouxe uma situação atípica de baixa circulação de pessoas e uma queda acentuada no número de casos”.

Já por meio de sua Secretaria Municipal das Subprefeituras, a prefeitura afirmou que o combate à dengue conta com ações de zeladoria como o corte de mato e limpeza de córregos e piscinões.

A gestão informou o corte de mais de 130 milhões de metros quadrados de mato em 2021, a fim de diminuir a chance de criação de viveiros, bem como a limpeza de 8 milhões de metros quadrados de margens de córregos e 1,8 milhão de metros lineares de leitos. Nos piscinões, foi 1,4 milhão de metros quadrados limpos no ano passado.

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