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Brasil convive com repetidos surtos de vírus sincicial respiratório, que põe bebês em risco

No estado de São Paulo, duas unidades de referência em atendimento pediátrico registraram alta de 20% dos casos de complicações respiratórias causadas pelo patógeno

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Vírus sincicial respiratório circulou praticamente durante todo o ano de 2022
Vírus sincicial respiratório circulou praticamente durante todo o ano de 2022 Vírus sincicial respiratório circulou praticamente durante todo o ano de 2022

Um velho conhecido dos médicos pediatras tem sido objeto de preocupação desde o afrouxamento das medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19: o VSR (vírus sincicial respiratório), que afeta crianças e pode causar doença grave especialmente em bebês.

No ano passado, o Brasil teve pelo menos dois picos de infecções, um no primeiro semestre e o outro no segundo. Entretanto, 2022 terminou com um novo sinal de aumento.

O boletim InfoGripe, um monitoramento periódico feito pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mostrava que o VSR representava apenas 0,5% das internações por SRAG (síndrome respiratória aguda grave) no mês de novembro e começo de dezembro.

Já no período entre 11 de dezembro e 7 de janeiro, a prevalência de VSR entre os internados por complicações respiratórias saltou para 12,6%, sendo as principais vítimas pacientes até 4 anos.

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A Secretaria de Estado da Saúde informou ao R7 que, nas últimas quatro semanas, os dois hospitais infantis de referência — Darcy Vargas e Cândido Fontoura — "registraram aumento de cerca de 20% nos atendimentos para o vírus sincicial respiratório".

Ainda de acordo com a pasta, não houve até o momento lotação dos leitos de enfermaria e UTI pediátrica disponíveis na rede do SUS no estado.

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Na rede privada da capital paulista, o Hospital Infantil Sabará chegou a ter quatro casos positivos para cada dez testes rápidos de VSR realizados, entre 10 e 16 de dezembro. Esse percentual caiu na última semana de 2022, mas teve um ligeiro aumento nos primeiros sete dias deste ano, atingindo 18%.

A infectologista Juliana V. S. Framil, do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil Sabará, ressalta que esse percentual pode ter a ver com a época do ano.

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"Na primeira semana de janeiro, a procura dos pacientes com sintomas respiratórios diminuiu, mas muito provavelmente essa redução reflete a baixa procura pelo hospital por causa do período das festas de fim de ano — a população, em sua maioria, viaja e evita procurar o hospital, exceto diante de sintomas mais graves" conta.

O médico Renato Kfouri, membro da diretoria da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que esses frequentes surtos de VSR têm como pano de fundo o isolamento ao qual muitos bebês e crianças foram submetidos, fazendo com que houvesse um "acúmulo de suscetíveis". 

"[Foram] dois anos sem circulação nenhuma do VSR, sem exposição nenhuma das crianças. Acumularam-se duas, três coortes de nascidos sem exposição. A sazonalidade desorganizada, pelo predomínio do coronavírus. Tudo isso tem feito com que a circulação extemporânea de outros vírus respiratórios — não só o VSR — aconteça fora dos períodos habituais, com irregularidades também não habituais", observa.

O especialista, todavia, diz que é imprevisível saber quando o vírus sincicial respiratório voltará a ter padrões normais de circulação — antes da pandemia, os picos de transmissão ficavam restritos ao outono e início do inverno.

O vírus e os cuidados

O VSR é classificado como um pneumovírus, tendo subgrupos A e B. Segundo o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, ele é "onipresente" e "quase todas as crianças são infectadas aos 4 anos de idade".

"Como a resposta imunitária ao VSR não protege contra reinfecção, a taxa de ataque é de aproximadamente 40% para todas as pessoas expostas. Contudo, anticorpos contra o VSR diminuem a gravidade da doença. O VSR é a causa mais comum de doença do trato respiratório inferior em crianças pequenas", acrescenta o manual.

Dessa forma, os bebês acabam sendo mais suscetíveis a desenvolver complicações respiratórias por causa do vírus sincicial respiratório justamente pela ausência de anticorpos adquiridos.

"A maior causa de internação é piora do padrão respiratório, com necessidade de suporte de oxigênio. Lactentes com menos de 6 meses de idade, principalmente prematuros, crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade e cardiopatas representam os grupos de maior risco para desenvolver infecção respiratória mais grave", alerta Juliana.

A infecção pelo VSR pode evoluir para quadros de bronquiolite (inflamação das pequenas vias aéreas dos pulmões) ou para pneumonia (infecção dos pulmões).

"Uma a duas em cada 100 crianças com menos de 6 meses de idade com infecção por VSR podem precisar ser hospitalizadas. Aquelas que estão hospitalizados podem precisar de oxigênio, intubação e/ou ventilação mecânica [ajuda na respiração]. A maioria melhora com esses tipos de cuidado de suporte e recebe alta em poucos dias", acrescentam os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos.

Em casos que não requerem hospitalização para suplementação de oxigênio, o tratamento é de suporte. Consiste em manter bons níveis de hidratação e medicamentos para febre e dor, quando necessários.

Todavia, pais ou responsáveis devem sempre buscar orientação médica antes de dar qualquer remédio às crianças.

Até o momento, não existe uma vacina disponível contra o VSR. A prevenção se dá da mesma forma de outras doenças transmitidas pelo ar.

No caso de crianças maiores, pode-se adotar o uso de máscara. Mas, nos bebês, o recomendável é que permaneçam longe de pessoas e outras crianças com sintomas gripais.

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