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'Tirei do meu bolso para comprar máscara', conta médica na Bahia

Na linha de frente do combate ao coronavírus, médica generalista em UBS na zona rural da Bahia relata falta de máscara e álcool gel para atendimentos

Saúde|Nayara Fernandes, do R7

Associação Médica Brasileira já recebeu mais de 2 mil denúncias por falta de EPIs
Associação Médica Brasileira já recebeu mais de 2 mil denúncias por falta de EPIs Associação Médica Brasileira já recebeu mais de 2 mil denúncias por falta de EPIs

No meio de uma pandemia que já fez mais de 20 mil mortos pelo mundo, a comunidade médica brasileira tem enfrentado a falta de materiais necessários para se proteger da covid-19, durante o atendimento aos pacientes. É o caso da médica generalista Juliana Santos*, que atua em uma UBS na zona rural de Feira de Santana, Bahia. Durante o mês de março, ela conta que teve de tirar dinheiro do próprio bolso para comprar máscaras descartáveis e racionar álcool gel durante o transporte de pacientes em ambulâncias. 

Leia mais: Tire suas dúvidas e saiba como se proteger do novo coronavirus

"Tenho medo que aconteça o pior e realmente não ache mais. Para não ficar sem máscaras, comprei por conta própria. Uma caixa de máscara cirúrgica que, geralmente, custa menos de R$ 30,00 está sendo revendida hoje, pela internet, por R$ 100,00. A preocupação geral da classe médica tem sido: teremos EPI (equipamento de proteção individual) para garantir a segurança do nosso trabalho e dos pacientes?", questiona Santos. 


Mais da metade das denúncias feita por médicos relata falta de máscaras para trabalhar
Mais da metade das denúncias feita por médicos relata falta de máscaras para trabalhar Mais da metade das denúncias feita por médicos relata falta de máscaras para trabalhar

A escassez de equipamentos de proteção individual para profissionais na linha de frente do combate ao coronavírus não é uma realidade restrita ao estado da Bahia. Desde o dia 19 de março, a Associação Médica Brasileira tem recebido denúncias anônimas de todo o país. Em dez dias, a plataforma contabilizou 2.513 queixas: 88% dos relatos apontavam para a falta de máscaras N95 ou PFF2. Óculos de proteção e capote impermeável seguem no topo da lista de insumos mais escassos, ultrapassando metade das denúncias. 

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Segundo fornecedora de máscaras N95, não há produto disponível por causa da pandemia
Segundo fornecedora de máscaras N95, não há produto disponível por causa da pandemia Segundo fornecedora de máscaras N95, não há produto disponível por causa da pandemia

No dia 22 de março, Juliana encaminhou um email à empresa distribuidora de EPIs solicitando pacotes de máscaras N95, modelo restrito para uso médico, por impedir a inalação de aerossóis — partículas ultrafinas liberadas durante alguns procedimentos de saúde, que não podem ser impedidas pela máscara cirúrgica comum. A resposta negativa não surpreendeu, mas preocupou. 

"Disseram que elas não estão mais disponíveis, devido à grande procura. A produtora, que é internacional, está produzindo, apenas, para o mercado interno". Segundo a empresa, a produção chinesa tem atendido apenas às demandas do mercado interno e cobrado preços abusivos para a exportação do material.

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Enquanto isso, Juliana fica sem o equipamento adequado para atender seus pacientes. "Nas ruas de Salvador, vejo várias pessoas usando máscara cirúrgica sem necessidade, enquanto os profissionais de saúde correm risco de ficar sem."

Além dos plantões na UBS, a médica também atua no transporte de pacientes por ambulância, em Salvador. No segundo emprego, ela conta que foi orientada a racionar o uso de álcool gel, uma vez que o produto também falta para os profissionais da sáude. "Disseram que a tendência é ficar mais difícil de achar os insumos".

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Até o fim de março, segundo a AMB, foram contabilizadas 59 denúncias de falta de EPIs no estado da Bahia. Mas a profissional acredita que a falta do material ainda seja subnofiticada. "Nos grupos de plantão em que estou, os médicos têm reivindicado sem medo, mas a promessa do 'vai chegar' ainda faz com que muita gente não denuncie."

Procurada pelo R7 desde o dia 26 de março, a Secretaria de Saúde da Bahia não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

* Nome trocado a pedido da entrevistada.

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