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'Agora só pelos livros', diz biógrafo da família imperial sobre Museu

Historiador Paulo Rezzutti faria uma palestra sobre a Imperatriz Leopoldina no Museu Nacional neste feriado da Independência do Brasil

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Após 200 anos, Museu Nacional pegou fogo na madrugada deste domingo (2)
Após 200 anos, Museu Nacional pegou fogo na madrugada deste domingo (2) Após 200 anos, Museu Nacional pegou fogo na madrugada deste domingo (2)

Exatos 196 anos antes de ser acometido por um incêndio, o antigo Palácio de São Cristóvão, que hoje abriga o Museu Nacional, foi local de um dos episódios mais marcantes da história brasileira. Naquele 2 de setembro de 1822, a princesa Leopoldina, então princesa regente, era a primeira mulher a governar o Brasil. Na ocasião, presidiu uma reunião com o conselho do príncipe regente Dom Pedro II, que resultou na recomendação da independência do Brasil.

"Eu não me conformo de ter sido no 2 de setembro. É meio icônico", diz o historiador Paulo Rezzutti, autor dos livros "D. Pedro: A história não contada" (Editora Leya) e "Domitila - A Verdadeira História da Marquesa de Santos" (Geração Editorial).

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Em processo de escrita de um livro sobre Dom Pedro II, Rezzutti iria participar de uma palestra sobre a Imperatriz Leopoldina no Museu Nacional neste feriado da Independência do Brasil. "A decadência do prédio era gritante. Logo na entrada você via que a construção não tinha um bom cuidado, pelo lado de fora mesmo, antes de entrar", conta.

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Durante as pesquisas para seus livros, Rezzutti chegou a visitar locais que "não tinham condições de ter público". "Escrevi sobre duas gerações que moravam lá dentro. Se tivesse começado agora, não teria ideia de como foi o prédio. Mesmo hoje fico pensando no meu leitor, que terá essa referência agora só pelos livros", conta. "É triste, agora está tudo perdido. O que me dói mesmo é a parte das coleções", lamenta.

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Dentre os itens, estão múmias egípcias que seriam originalmente vendidas em Buenos Aires. Como a Argentina estava em guerra, contudo, o navio que transportava as peças atracou no Rio de Janeiro, notícia que chegou a Dom Pedro I, que resolveu comprar os itens. "São as primeiras múmias que se tem notícia na América Latina", relata o historiador.

O acervo reunia também peças arqueológicas retiradas de escavações nas antigas cidades de Herculano e Pompeia, doadas pela imperatriz Teresa Cristina. De origem italiana, foi no jardim do entorno do museu, então Palácio de São Cristóvão, que ela ensinou as filhas, princesa Isabel e princesa Leopoldina, a fazerem os primeiros mosaicos noticiados no Brasil. As peças foram criadas com conchas e pedaços de porcelana quebrada.

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Rezzutti também lembra que foi no Palácio, situado dentro da Quinta da Boa Vista, que nasceu o imperador Dom Pedro II e morreu a Imperatriz Leopoldina. "Quando vinha gente de fora, nobres estrangeiros, a recepção era dada em uma mesa de jantar colocada no antigo gabinete da Imperatriz Leopoldina para mostrar as peças mineralógicas da coleção."

Depois, com a queda da monarquia, foi lá que se realizou a primeira assembleia constituinte da era republicana, de 1891. "A ciência também é muito ligada à família imperial. Foi Dom João VI que criou o museu (então chamado de Museu Real)", lembra o historiador. Originalmente na região da Praça da República, no centro, o Museu se mudou para a Quinta da Boa Vista após a proclamação da república.

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"A única coisa que nos resta hoje é ter esperança. Sensação é de que hoje estamos vivendo um processo de luto", desabafa. "Não sei, a partir do momento em que assassina uma vereadora eleita (Marielle Franco) e você não tem um resultado. Se a vida humana é tratada desse jeito, uma peça de museu não é nada."

Para Rezzutti, museus ligados a instituições educacionais são alguns dos que mais têm carências no Brasil. "É o caso também do Museu do Ipiranga, que não acontece desgraça maior porque está fechado. Precisou alguém ver que o prédio iria desabar para ser fechado. Não existe investimento preventivo."

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"São dois problemas no Brasil: a Educação e a Cultura. O investimento é muito pouco, é ridículo perto de outros lugares", ressalta. "O que tem de gente lamentando o que aconteceu e nem sabe o que é, que morador do lado do Museu e nunca foi. O brasileiro quer conhecer o Louvre, não o que tem em casa, quer conhecer a modinha."

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