Iniciativas tentam levar homem à Lua novamente
Satélite não tem mais tanto "prestígio" quanto Marte, mas ainda tem seus fãs
Tecnologia e Ciência|Do R7*
Depois da Apollo 17, as missões à Lua acabaram não porque países como os Estados Unidos e a antiga União Soviética perderam a capacidade de enviar seres humanos para lá, mas porque ela foi perdendo o "encantamento" na época. No entanto, ainda existem planos e ideias para aproveitar a Lua e fazer dela um novo ponto turístico e até um novo lar.
Apesar das condições adversas, muita gente ainda quer morar na Lua ou pelo menos fazer uma visita ao satélite. Alguns projetos da Nasa, da China e do Japão ainda buscam explorar a Lua para encontrar mais respostas sobre a origem do universo e algumas iniciativas privadas têm até planos de levar pessoas para viver lá.
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Para Ulisses Cappozoli, editor chefe da Scientific American Brasil e mestre e doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo), se a Lua fosse ocupada, as colônias ficariam do seu lado visível, enquanto o chamado “lado oculto da lua” ficaria vazio e livre de poluição de rádio, tornando-se o ambiente perfeito para observar o espaço profundo e possivelmente fazer contato com civilizações extraterrestres.
— A ocupação lunar ficaria no lado visível da Lua porque de lá seria possível ver a Terra. Além de ter a questão da familiaridade. Imagine a Terra em fase cheia no espaço, com sua luz azulada!
Ele explica que, como tudo na Lua muda muito lentamente, a região onde pousou a Apollo 13 ainda está preservada, o que levaria muitos a quererem conhecer o local “turístico”.
— Os japoneses têm planos para construir hotéis na Lua. Os chineses também. Atualmente acho que o principal motivo que pode levar o homem à Lua seja muito mais o turismo e não mais uma questão armamentista.
O projeto Artemis é uma das iniciativas que pretendem levar o homem à Lua novamente. O ambicioso projeto de iniciativa privada tem a ideia de formar uma colônia autossustentável no nosso satélite natural.
O diretor industrial da Inbra Aeroespace e doutor em engenharia aeronáutica e mecânica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Melis de Bruyn, vê a questão do turismo espacial com cuidado. Para ele, as missões espaciais de iniciativa privada devem ser vistas com cautela até que tenham o mesmo nível de segurança operacional atingido pelas agências governamentais.
— As iniciativas de empresas privadas são um grande fator de redução de custos de uma missão espacial, pois certamente, ao visarem lucro, os custos devem ser extremamente acompanhados e mantidos, o que tende a baratear o custo final de uma missão. Por outro lado os riscos de acidente aumentam.
Segundo o engenheiro, as regras que definem os requisitos necessários às missões podem ainda não estar maduras o suficiente para que qualquer organização privada possa fazer suas missões de modo seguro.
O astrônomo Marcos Calil, coordenador científico do Planetário e Teatro Digital de Santo André, afirma que, além da China, que fotografou o solo lunar com a sonda Chang-e 3, em 2013, outros países têm propostas de explorar a Lua, não para colonizar, mas para descobrir mais sobre nossa origem.
— Existe uma proposta futura da Nasa de tecnologia robótica para recolher amostras no Polo Sul Lunar com retorno para a Terra. Ela vai analisar uma enorme cratera de impacto que dá acesso a amostras do manto lunar, o que poderia dar aos cientistas uma visão sobre as origens do sistema solar.
Lua anda sumida
Segundo Ulisses Cappozoli, houve uma espécie de “volta ao passado” à medida que a corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética foi cessando. Cappozoli explica que a conquista da Lua era uma “questão de prestígio”.
— Havia um confronto entre Estados Unidos e União Soviética. Cada um queria mostrar a vantagem de um sistema sobre o outro. Era uma questão de propaganda sobre a eficiência de cada sistema.
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A China continuou suas pesquisas e se tornou o terceiro país a enviar uma sonda para a Lua, a Chang-e 3, e existem rumores de que o país continua com planos de explorar a Lua.
O desafio de pisar em Marte fez com que muitos passassem a olhar o planeta vermelho como a próxima conquista humana. Isso fez com que as missões marcianas ganhassem mais atenção do que as lunares.
Marte x Lua
Para Ulisses Cappozoli, a Lua deve ser vista mais como uma espécie de trampolim para chegar até Marte. Ao contrário do nosso satélite natural, que tem condições muito adversas, Marte é o planeta do sistema solar mais parecido com a Terra, apesar de ser um grande deserto.
— Marte tem atmosfera e uma certa quantidade de água. Não seria difícil construir uma colônia humana em Marte e eu acho que não vai demorar muito para encontrarem algum tipo de vida lá.
O cientista explica que a Lua, ao contrário, é muito mais “estéril e agressiva”. Lá quase não há atmosfera, por isso, é impossível imaginar um corpo pousando lá usando paraquedas. São necessários foguetes de retropropulsão que permitem um pouso suave.
Apesar de não gerar mais o mesmo encantamento de 45 anos atrás, a Lua mantém certo status em disputas de poder tecnológico. Entretanto, segundo Calil, os Estados Unidos estão longe de quererem entrar em uma nova corrida espacial, apesar das investidas da China.
— Lembro-me de uma palestra a que assisti no Egito, em 2009, onde um profissional da Nasa afirmou categoricamente que a China desejava iniciar uma nova corrida espacial para a Lua. Ironicamente, em 2008, quando a Nasa comemorava 50 anos de existência, o presidente Barack Obama anunciou um corte significativo de verbas destinadas para ela.
O astrônomo Marcos Calil explica que, para os entusiastas pela ciência, o interesse por Marte acabou tomando o lugar da Lua. Ao contrário do nosso satélite, Marte ainda não foi pisada pelo homem e este acontecimento ainda paira na ficção científica.
— Afinal, já fomos e voltamos diversas vezes para a Lua, enquanto que para Marte... Somente mesmo os robôs estão por lá.
* Colaborou Amanda Martins, estagiária do R7