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O eclipse solar total está com os dias contados

Cientistas calculam que o afastamento gradual do nosso satélite, em alguns milhões de anos o Sol não será mais obscurecido

Tecnologia e Ciência|Katherine Kornei

Arte mostra como é e como ficará o eclipse solar total, com o afastamento constante da Lua em relação à Terra
eclipse solar dias contados (Richie Pope/The New York Times)

O eclipse solar total de oito de abril, visível em partes do México, dos EUA e do Canadá, foi uma superposição perfeita do Sol e da Lua no céu. Infelizmente, porém, é o tipo de ocorrência que tem data de validade: em algum momento de um futuro distante, a Terra verá o fenômeno pela última vez.

Isso porque nosso satélite está se afastando; daqui a milhões ou mesmo bilhões de anos, nossa vizinha celestial mais próxima aparecerá pequena demais no céu, e não conseguirá mais obscurecer o Sol completamente. “Só teremos a versão anular”, confirma Noah Petro, cientista planetário do Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa, referindo-se ao “anel de fogo” semelhante ao que foi visto nas Américas em outubro passado.

Entretanto, estipular uma data exata para o espetáculo eclíptico final é um desafio computacional sério que envolve uma série de disciplinas científicas.

Na verdade, desde que foi formada, há mais de quatro bilhões de anos, a Lua vem se afastando da Terra, resultado de sua interação gravitacional com nosso planeta. “As marés, elevadas por essa força, fazem a água se movimentar sobre o solo oceânico e ao longo das margens continentais, gerando uma fricção e levando a Terra a girar mais lentamente sobre seu eixo. Em consequência disso, a Lua vai ampliando sua órbita. Imagine um patinador artístico estendendo os braços e reduzindo a velocidade; é o mesmo princípio físico, só que ao contrário”, explica Mattias Green, oceanógrafo da Universidade Bangor, no País de Gales.

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Um dos primeiros a prever a expansão da órbita lunar foi George Darwin, um dos filhos de Charles Darwin, mas sua tese, publicada em 1879, só seria confirmada quando os astronautas norte-americanos e as sondas robóticas soviéticas deixaram retrorrefletores sobre a superfície. Os instrumentos, do tamanho de pequenas malas, continham espelhos sobre os quais os pesquisadores disparavam raios laser, calculando depois quanto tempo a luz levava para fazer o percurso de ida e volta, podendo medir com precisão a distância entre os corpos. No início dos anos 70, já tinham confirmado que o recuo lunar chegava a 3,8 cm por ano, mesma proporção do crescimento das nossas unhas. “Estamos lidando com mudanças extremamente pequenas”, diz Robert Tyler, cientista planetário do Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa.

Mas o fato é que isso fará com que, ao longo de centenas de milhões de anos, ela se torne perceptivelmente menor no céu – e a certa altura ficará pequena demais para bloquear o Sol completamente, tornando os eclipses solares totais coisa do passado.

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Para calcular a data do último fenômeno desse tipo, é importante lembrar que tanto a órbita da Lua ao redor da Terra e a desta ao redor do Sol são elípticas, ou seja, a distância entre eles não é constante, o que faz com que o tamanho aparente da Lua e do Sol vistos daqui varie proporcionalmente. A diferença entre o maior e o menor da primeira varia até 14%; já para o segundo, não passa de 3%.

O último eclipse solar total ocorrerá quando a maior versão lunar mal cobrir a menor versão solar. Segundo os cálculos que envolvem o diâmetro do satélite e os tamanhos aparentes dele e do Sol, essa eventualidade deve se dar daqui a aproximadamente 620 milhões de anos.

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Os pesquisadores, porém, frisam que esse número não é exato. “Para começar, ele assume que o afastamento lunar vai continuar ocorrendo na proporção atual, e é quase certo que não vai prosseguir assim. Ele é afetado por uma série de parâmetros, incluindo a duração de um dia na Terra, a profundidade das bacias oceânicas e a disposição de nossos continentes, que mudam com o tempo. É muito simplista achar que esse ritmo vai continuar sempre igual”, afirma Green.

A maioria dos estudiosos concorda que a velocidade do afastamento deve diminuir. “Se eu tivesse de dar um palpite, diria que as marés futuras ficarão mais fracas; com isso, o recuo vai se tornar mais lento, o que proporcionará ao nosso planeta mais oportunidades de aproveitar sua sombra umbral”, declara Brian Arbic, oceanógrafo físico da Universidade do Michigan.

Há provas sólidas de que o movimento lunar já foi mais moroso no passado também. Margriet Lantink, geóloga da Universidade do Wisconsin em Madison, analisou as rochas sedimentares na Austrália que registram as mudanças climáticas causadas pelas flutuações da distância entre a Terra e a Lua. “Estudei as ‘digitais’ dessas variações astronômicas.”

As conclusões a que chegaram sua equipe e as de outros especialistas foram utilizadas em simulações que sugerem que, durante boa parte de sua história, a Lua se afastou da Terra a uma proporção entre 1 a 3 cm por ano, mas também revelam que, durante períodos de dezenas de milhões de anos de duração, o fenômeno se deu a mais de dez centímetros anuais.

Graças aos modelos de Tyler, a difícil tarefa de prever a proporção de afastamento lunar futuro ficou mais fácil – e eles sugerem que o movimento se dará a pouco mais de sete milímetros e meio por ano nos próximos bilhões de anos. “Futuramente, o recuo não vai variar tanto quanto já aconteceu no passado; os movimentos mais interessantes já ocorreram e não devem se repetir”, garante Tyler.

Se suas simulações estiverem corretas, os eclipses totais continuarão visíveis durante os próximos três bilhões de anos. “Mas há muitas incertezas em torno dessa estimativa”, alerta.

Para Petro, não há desculpa para não buscar e admirar todo o seu esplendor, mesmo que eles sejam ainda visíveis por muito, muito tempo – afinal, é um fenômeno celeste exclusivo da nossa existência terrestre. “O eclipse total não ocorre em nenhum outro planeta do sistema solar. Só nós temos essa oportunidade maravilhosa.”

c. 2024 The New York Times Company

c. 2024 The New York Times Company

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