Nas últimas 24 horas de vida, Eduardo Campos (PSB), que disputava a Presidência da República tendo Marina Silva como vice, repetiu diversas vezes no Rio de Janeiro suas principais bandeiras de campanha. Seja em conversa com o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, ou em entrevistas na TV, o ex-governador de Pernambuco falou sobre seu objetivo de transformar a segurança pública no País, de oferecer escola integral e de reservar maior verba para a saúde.
Campos passou suas últimas horas acompanhado pela mulher, Renata Campos, que começou a namorar ainda na adolescência, e pelo mais novo de seus cinco filhos, o bebê Miguel. O casal se despediu horas antes da morte do candidato, quando Renata seguiu com o filho para Recife e Eduardo Campos foi para Santos, no litoral paulista, onde houve o acidente.
Três horas antes da queda do avião, Campos teve a última conversa com seu irmão Antônio Campos, por telefone, quando falou que havia ficado empolgado com o desempenho que teve nas entrevistas no dia anterior. Ainda que estivesse em terceiro lugar nas pesquisas de intenções de votos e precisasse de uma arrancada para alcançar o segundo turno, o candidato não perdia o entusiasmo e, segundo pessoas próximas, falava sempre como se a vitória estivesse muito perto.
Em seu primeiro compromisso de campanha após chegar ao Rio de Janeiro na terça-feira (12), Campos se encontrou com o arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, às 15h30. Acompanhado por Marina Silva, ele falou sobre melhorar a segurança pública no País.
— Precisamos reduzir essa violência e essa é uma tarefa do Estado brasileiro, dos Estados e dos municípios, mas também da sociedade — declarou o candidato no encontro.
No início da noite, Campos e Marina estiveram com deputado federal Walter Feldman (PSB) em um apartamento no Rio, onde gravaram uma propaganda para TV. Mais tarde, às 20h30 de terça-feira, Campos deu entrevista ao vivo à TV Globo, na zona sul do Rio, e reafirmou algumas de suas metas durante o programa Jornal Nacional.
— Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente. De reunir uma agenda. A agenda da escola integral para todos os brasileiros. A agenda do passe livre [para estudantes]. A agenda de mais recursos para a saúde, a agenda do enfrentamento do crack, da violência. O Brasil tem jeito, vamos juntos, eu peço seu voto.
Em seguida, gravou entrevista para o canal TV a cabo Globo News, veiculada às 22 horas. Foi a última entrevista de Campos. Em seguida, o candidato perguntou se Marina Silva gostaria de viajar com ele no dia seguinte em um jatinho alugado pela campanha até Guarujá, no litoral paulista. A candidata a vice, no entanto, teria dito que preferiria pegar um voo comercial para a capital de São Paulo, para adiantar a gravação do programa político de TV.
Campos morre no mesmo dia em que o avô Miguel Arraes
Veja fotos do local do acidente em Santos (SP)
Depois da sabatina na TV, o candidato foi jantar com a mulher, levando o caçula Miguel, e assessores mais próximos em um restaurante próximo ao Arpoador, na divisa entre os bairros de Copacabana e Ipanema, na zona sul do Rio. Estavam hospedados no hotel próximo, o Sofitel. À noite, e ao sair, às 7h30 da manhã de quarta (13), Campos cumprimentou todos os funcionários. Ele se despediu da mulher, do filho, e embarcou em uma aeronave de modelo Cessna 560 XL, que decolou do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, exatamente, às 9h21 de quarta-feira.
Às 10h, os pilotos Geraldo Cunha e Marcos Martins não conseguiram pousar no aeroporto do Guarujá, devido ao mau tempo. A aeronave arremeteu, iniciou o contorno para tentar uma nova aterrissagem. No entanto, quatro quilômetros distante da cabeceira da pista, na altura do bairro do Boqueirão, em Santos, o avião caiu. Além dos dois pilotos e de Eduardo Campos, estavam a bordo Alexandre Severo (fotógrafo oficial da campanha), Marcelo Lira (cinegrafista), Pedro Valadares (ex-deputado e assessor do candidato) e Carlos Augusto Maciel Filho (assessor de imprensa).
Por uma coincidência trágica, exatamente nove anos antes, em 2005, no mesmo dia (13 de agosto), morreu o avô de Eduardo Campos, Miguel Arrais, de quem Campos era herdeiro político.