Milhares de pessoas protestaram novamente nesta terça-feira (20) na Colômbia contra o presidente Iván Duque, enquanto uma nova legislatura se instala no Congresso, local onde as principais porta-vozes das manifestações esperam levar suas reivindicações.
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"Espero que este Congresso finalmente comece a legislar em favor dos interesses de todo o povo colombiano e não apenas de um grupo de indivíduos que está enriquecendo", disse à AFP o dentista Iván Chaparro, de 46 anos, ao entrar no meio de uma grande marcha no centro de Bogotá.
O Comitê Nacional de Paralisação, que é o maior grupo de manifestantes, embora não represente todos os setores insatisfeitos, convocou esta nova mobilização durante o feriado nacional, após mais de um mês de pausa.
As manifestações percorrem as ruas das principais cidades com cartazes coloridos que basicamente exigem uma reforma policial e um Estado mais solidário diante dos estragos causados pela pandemia, que deixou 42% dos 50 milhões de habitantes na pobreza.
Formado por estudantes, indígenas e organizações sociais, o comitê havia suspendido as mobilizações no dia 15 de junho, mas voltou às ruas no Dia da Independência da Colômbia com o objetivo de levar suas reivindicações ao Congresso.
Os pedidos do comitê serão apresentados "ao Congresso porque o governo não quis negociar", explicou Fabio Arias, líder da Central de Unidade dos Trabalhadores, à W Radio.
Protestos contra forças de segurança
Milhares de pessoas se reuniram em diferentes partes de Bogotá e marcharam enquanto cantavam, dançavam e levavam bandeiras colombianas de cabeça para baixo em direção à praça central de Bolívar, porém a força pública bloqueou o caminho para o Congresso e a sede presidencial.
"Estamos na luta pela reivindicação de nossos direitos contra a saúde, a educação, a não violência", afirmou a professora Noelia Castro, de 30 anos, na capital.
A mobilização ocorre em um ambiente bombardeado por reclamações governamentais sobre suposta infiltração de grupos armados nos protestos, prisões de manifestantes e advertências das autoridades sobre um possível aumento de mortes e casos de covid-19 em um momento em que o país deixa para trás a pior onda da pandemia.
Segundo o Ministério da Defesa, mais de 65 mil policiais e militares vigiam as manifestações em todo o país, por conta de uma suposta participação de guerrilheiros do ELN e dissidentes das FARC nas marchas.
Mais de 60 pessoas morreram e milhares ficaram feridas desde o início das manifestações em 28 de abril, segundo o Ministério Público e as autoridades civis.
Brutalidade policial
O que começou como uma manifestação contra um plano governamental fracassado de aumento dos impostos da classe média foi reavivado pela repressão policial, criticada pela comunidade internacional.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que visitou o país em meio aos protestos, denunciou a resposta das forças de segurança como "desproporcional" e "letal".
Por sua vez, a ONG Human Rights Watch acusa as forças de segurança de estarem envolvidas em pelo menos 20 homicídios durante os protestos e garante que 16 das vítimas foram baleadas por agentes do Estado com a intenção de "matar".
Embora tenha admitido casos de violência policial, o governo contesta os números.
"Não se pode ficar indiferente à injustiça, ao assassinato de estudantes por protestar (...) que são atacados como se fossem terroristas", ressalta a professora Jeanneth Gómez, de 59 anos, em Bogotá.
Reforma tributária
O surto social começou em 2019 contra o presidente conservador e, desde então, milhares de pessoas se manifestaram nas ruas em alguns intervalos de tempo. A última onda de protestos começou no final de abril em rejeição à proposta tributária.
A um ano de deixar o poder e com um nível de impopularidade de 76%, Duque inaugurou na manhã desta terça-feira o trabalho da nova legislatura, que terá a difícil tarefa de discutir uma nova reforma tributária.
"Ouvimos as vozes nas ruas e elas devem alimentar os debates, mas vocês são chamados pela história para serem os porta-vozes de um país em plena transformação", anunciou Duque ao Congresso durante a cerimônia de posse.
Desta vez, o Executivo renunciou aos pontos mais polêmicos e propôs arrecadar US$ 3,9 bilhões de dólares, uma redução substancial em relação à iniciativa de US$ 6,3 bilhões que desencadeou a revolta popular e custou o cargo do então Ministro da Fazenda.
Os protestos foram em sua maioria pacíficos, embora tenha ocorrido bloqueios de estradas, distúrbios e confrontos entre civis e as forças de segurança.