O país das liberdades e de uma das maiores revoluções da História (a francesa, em 1789) vive um conflito. A França, comandada pelo presidente Emmanuel Macron, não consegue desvendar sua própria identidade.
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De um lado, com figuras como o próprio Macron, ainda que de forma confusa, tenta se mostrar defensora de valores democráticos e igualitários.
E, de outro, não esconde raízes de extrema-direita que insistem em ressurgir a cada eleição, por meio de partidos como o RN (Agrupamento Nacional, ex-Frente Nacional) essencialmente eurocético e anti-imigração.
Parece não ser coincidência a França ter sido o berço do existencialismo, filosofia de Jean-Paul Sartre (1905-1980). O conflito existencial do país é uma constante.
E fica evidente em tentativas artísticas, como no filme "Em toda a parte", da Netflix.
Ao contrário de outras grandes contribuições francesas nas áreas da literatura, cinema e filosofia, o filme escorrega ao tentar fazer graça com o antissemitismo, tema tão delicado.
Fica clara a dificuldade do autor em lidar com as causas do problema, sem encontrar uma solução para combater o recrudescimento desta patologia social.
Contradição deste tipo também ficou refletida nas últimas eleições europeias. Macron, neste pleito, foi o maior vencedor e o maior derrotado. A vitória dele ocorreu no âmbito europeu.
Seu partido, Em Marcha, apoiou o Alde (Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa), grupo que conseguiu 40 cadeiras nas eleições do Parlamento Europeu, encerradas no último domingo.
O Alde terminou em terceiro lugar, passando a ter 105 cadeiras (14%). Com isso, tirou a maioria absoluta da união entre do PPE (Grupo do Partido Popular Europeu) e S&D (Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas). O PPE ficou com 179 cadeiras (23,8%), enquanto o S&D ficou com 153 (20,4%).
O Alde, seguindo interesses de Macron, pode até tirar do PPE a presidência do Parlamento, da Comissão Europeia e do Conselho Europeu.
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As plataformas de ambos os partidos, Alde e PPE, são similares, favoráveis à integração europeia e ao livre-mercado.
Mas o Alde tende a ficar um pouco mais no centro do que o PPE, este essencialmente de direita, por ter grande apoio de partidos democratas-cristãos.
Mas, enquanto ganhou no âmbito europeu, Macron perdeu no cenário francês.
Nas eleições para o Parlamento Europeu, o partido que mais recebeu votos dos franceses foi o RN, comandado por Marine Le Pen. Foram cerca de 23,5% dos votos para a extrema-direita, contra cerca de 22,5% para o Em Marcha.
O cenário externo, portanto, será uma das formas de Macron tentar lidar contra manifestações internas contrárias à integração econômica da União Europeia, que deverão aumentar em função do crescimento da extrema-direita local.
Está difícil para a França segurar estas contradições e, se não encontrar uma estabilidade econômica e social, a tendência é que, mais cedo ou mais tarde, a onda conservadora finalmente prevaleça como a real feição do país.
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