A Irmandade Muçulmana convocou seus seguidores para que ocupem as ruas do Cairo nesta sexta-feira (16), dois dias após forças de segurança do Egito matarem centenas de manifestantes, partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, durante o desmantelamento de dois acampamentos na capital egípcia.
"As manifestações contra o golpe de Estado partirão de todas as mesquitas do Cairo e se dirigirão à Praça Ramsés após a oração para uma "sexta-feira de cólera'", disse Gehad el Haddad, porta-voz da Irmandade Muçulmana, grupo que levou Mursi ao poder e que vem convocando as manifestações das últimas semanas.
A mais recente crise no Egito se iniciou em 3 de julho, quando o islamita Mursi foi destituído por um golpe militar, somente um ano após ser eleito. Desde então, vários protestos foram organizados pelos islamitas para exigir a volta do presidente, que segue detido pelo Exército.
Na quarta-feira (14), forças de segurança agiram com violência quando desmantelavam dois acampamentos tomados pelos apoiadores de Mursi. Centenas de islamitas morreram. O confronto na capital atiçou os ânimos em outras partes do país.
As manifestações de hoje podem tornar o atual conflito ainda mais sangrento. Isso porque, segundo o Ministério do Interior, as forças de segurança voltarão a usar munição real para repelir quaisquer ataques a seus agentes ou a prédios públicos.
Na quinta-feira (15), novos episódios de violência foram registrados, com ataques a prédios públicos e a morte de nove policiais e militares.
Evitar a "guerra civil"
O massacre de quarta-feira foi assunto no Egito e no mundo durante toda a quinta-feira. Várias personalidades egípcias criticaram a intervenção das forças de ordem, principalmente o vice-presidente Mohamed el Baradei, prêmio Nobel da Paz, que renunciou, e o grão-imã de Al-Azhar, a maior autoridade do Islã sunita.
A imprensa egípcia, entretanto, deu apoio ao Exército, como o jornal governamental Al Akhbar, que destacou "O fim do pesadelo da Irmandade Muçulmana".
A comunidade internacional condenou de forma unânime o massacre.
Os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU se reuniram de forma emergencial em Nova York, no fim do dia, apelando a todas as partes para que acabem com a violência e exerçam o máximo controle.
Navi Pillay, alta comissária da ONU encarregada dos Direitos Humanos, pediu uma investigação sobre o ataque das forças egípcias. O presidente francês, François Hollande, pediu que todos "atuem para evitar a guerra civil". Paris e Berlim convocaram os embaixadores egípcios.
O papa Francisco pediu orações "pela reconciliação" nos países onde várias igrejas foram atacadas na quarta-feira. A China manifestou sua "grande preocupação".
Rússia e EUA recomendaram aos seus cidadãos que evitem viajar ao Egito.
O governo fez vários pedidos para que os manifestantes pró-Mursi deixassem as praças na capital do país, ameaçando sempre com o uso da força, mas estes se recusaram, afirmando que manteriam os atos até a volta de Mursi à Presidência.
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