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Venezuelanos cruzam fronteira com a Colômbia para fazer contrabando

Alimentos, álcool, remédios e gasolina entram na Venezuela em bicicletas, motos e mochilas carregadas por pedestres

Internacional|

Venezuelanos fazem contrabando e entram no país com produtos comprados na Colômbia
Venezuelanos fazem contrabando e entram no país com produtos comprados na Colômbia Venezuelanos fazem contrabando e entram no país com produtos comprados na Colômbia

“Combate ao contrabando”, afirma um cartaz em uma ponte na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. Logo abaixo, três homens, dois com enormes malas nas costas, cruzam o rio que divide os dois países.

Os agentes de fronteira olham para eles sem interesse. Os contrabandistas não se escondem nem se apressam. Um demorou a tirar os sapatos e arregaçar as calças.

Nos 2.219 quilômetros da fronteira colombo-venezuelana sempre houve contrabando por travessias ilegais conhecidas como "trilhas", mas elas ganharam espaço depois da interrupção das travessias binacionais ordenada pelo presidente Nicolás Maduro em 2015, após denunciar uma "emboscada" contra os militares.

Desde então, apenas a travessia de pedestres era permitida, porém em 2019 as travessias foram completamente bloqueadas devido a tensões políticas entre Caracas e Bogotá.

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Essas decisões prejudicaram a atividade econômica do lado venezuelano, ressalta Daniel Aguilar, ex-presidente da associação patronal Fedecámaras do Estado de Táchira, no oeste do país, onde se localiza a passagem internacional mais importante.

Um exemplo é a zona industrial de Ureña, que tinha cerca de 3.500 empresas de calçados, roupas e medicamentos, agora apagadas do mapa. Desapareceram as companhias de transporte, corretagem e seguros. 

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“Há uma queda drástica; só aqui foram perdidos mais de 70 mil empregos”, diz Aguilar.

Em outubro a Venezuela reabriu as pontes, que estavam bloqueadas com enormes contêineres de metal, mas por enquanto só há travessia de pedestres.

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Quase 20 mil pessoas cruzam diariamente as duas pontes reabertas na área (San Antonio-Cúcuta e Ureña-Cúcuta), segundo estimativas da polícia.

“Sempre existirão contrabandistas, sempre existirão pessoas que precisam atravessar, porque é mais barato”, diz Dani Pedraza, pai de três filhos, enquanto empurra uma bicicleta carregada de placas de cerâmica.

“Eu vivo da trilha, apoio minha família com a trilha”, comenta Dani, que adaptou sua bicicleta para suportar itens mais pesados nas estradas estreitas e pedregosas, tirando os pedais, a corrente e o selim.

Assim, ele pode transportar até 300 quilos por 100 mil pesos colombianos, pouco mais de R$ 110. 

Custa 30 mil pesos, cerca de R$ 40, levar pacotes de até 80 kg, carregados nas costas em uma viagem de cerca de dez minutos. “Antes trabalhávamos muito. A reabertura da ponte não nos convém”, reclama.

Do lado colombiano, os carregadores se acotovelam para oferecer seus serviços quando chega um ônibus ou um táxi.

Ramón Rizcano, um comerciante de 33 anos de Rubio, povoado próximo à fronteira, percorre as trilhas várias vezes por semana para não pagar propina às autoridades. “Não passo a ponte pelos postos de controle, eles perguntam demais", lamenta.

Mas a trilha não é gratuita. É preciso pagar entre 10 mil e 15 mil pesos (de R$ 11 a R$ 22) a quem a controla.

Alimentos, álcool, remédios, gasolina e equipamentos agrícolas chegam da Colômbia por essas estradas clandestinas, enquanto a sucata de metal sai da Venezuela. 

Às vezes, os motociclistas levam passageiros com mochilas cheias de "cocaína ou armas" a toda a velocidade, diz um viajante nessa região onde abundam gangues, paramilitares e guerrilheiros.

É impossível saber quanto dinheiro está circulando nas trilhas, mas o tráfico chega a milhões de dólares. 

Embora os números do comércio bilateral variem (7,5 bilhões de dólares em 2009, segundo Caracas, e 2,2 bilhões em 2013, segundo Bogotá), não há dúvida: o intercâmbio ruiu. Um bilhão de dólares passaram para Cúcuta pela ponte em 2013. Zero em 2020. 

Tudo mudou com a crise econômica na Venezuela, que perdeu 80% do PIB desde 2013.

Milhares de venezuelanos, às vezes vindos de longe, cruzam a fronteira a pé para se abastecer porque, devido à hiperinflação que atinge o país há quatro anos, tudo é muito mais caro na Venezuela do que na Colômbia. 

“É tudo mais barato. A gente se reúne e podemos amortizar a viagem”, explica Viany Barrios, funcionária da Universidade de Mérida, distante 260 km, cerca de cinco horas de estrada.

Com a abertura da ponte, ela evita a trilha. 

Uma pessoa que pediu anonimato denuncia que os agentes alfandegários, policiais e militares são gananciosos ao ver as mercadorias.

“Presume-se que as trilhas sejam controladas por máfias. Há funcionários da Colômbia e da Venezuela que provavelmente cobram alguma coisa, mas também fecham os olhos por razões humanitárias, devido à necessidade do ser humano de trazer alimentos”, destaca Daniel Aguilar.

Hilda Dayana Serrano, a cada duas ou três semanas, vai de Barinas a Cúcuta, a 350 km, para abastecer seu comércio com produtos de higiene: "As pessoas fazem encomendas. Faço compras em várias lojas durante o dia para encontrar os produtos mais baratos".

Aguilar pede a reabertura da fronteira para veículos o mais rápido possível, pois isso revitalizaria o comércio.

“Os produtos asiáticos chegam da Colômbia sem passar pelo Canal do Panamá. [...] a abertura vai beneficiar os 23 estados da Venezuela. É vital”, frisa.

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